‘Nós assistimos o filme’. ‘Ele aspira o cargo’. ‘A loja que eu trabalho’. ‘É um time que tenho vontade de jogar’.
Cada uma dessas frases omite a respectiva preposição. Seria difícil seguir a regra? O dia a dia não nos cobra, e ao escrever já temos esquecido o que aprendemos na escola.
‘Entrar’ exige a preposição ‘em’, e sair, ‘de’. A frase tradicional ‘Entrei e saí da sala’ peca por usar apenas a última preposição. No bom Português culto, as duas são obrigatórias: 1. Entrei na sala e saí dela. 2. Saí da sala depois de entrar nela. As duas redações parecem esdrúxulas, mas são as corretas.
Regência verbal é o estudo das relações dos verbos com seus complementos: objetos diretos vêm diretamente relacionados a seus respectivos verbos sem o auxílio de preposição; objetos indiretos vêm indiretamente relacionados com o auxílio de uma preposição intermediária.
A regência verbal consiste nisto: alguns verbos não exigem preposição auxiliar – verbos transitivos diretos, que dão os objetos diretos; outros exigem a preposição intermediária – verbos transitivos indiretos, que dão os objetos indiretos; verbos que não têm complementos verbais – os intransitivos, mas podem pedir uma preposição (entrar em; sair de); e os que têm dois objetos: direto (sem o uso de preposição) e indireto (com o uso de preposição).
O verbo assistir, no sentido de presenciar, exige a preposição ‘a’ – Assisti ao filme (o filme a que assisti, o filme ao qual assisti). Nós assistimos ao filme (o filme ao qual assistimos).
O verbo aspirar, no sentido de desejar, almejar, exige a preposição ‘a’ – Aspiro ao cargo (o cargo a que aspiro). Se o objeto (indireto) for palavra feminina, usa-se a crase – Aspiro à direção da empresa.
O verbo trabalhar, no contexto em que o usamos no dia a dia – desempenhar uma função, ter um ofício – é intransitivo: Nós trabalhamos (em uma fábrica). Na frase citada, ficou faltosa a preposição ‘em’: a loja em que trabalho, a loja na qual trabalho.
Trabalhar pode ser transitivo direto no sentido de ‘transformar um objeto em um produto’: o oleiro trabalha o barro, do qual faz artesanato; o carpinteiro trabalha a madeira, o agricultor trabalha a terra. Seria uma linguagem culta, pouco usual, portanto.
O jogador de futebol atua num time – o time em que ele atua. ‘É um time em que tenho vontade de jogar’. Analise a redação com o verbo gostar de: Ela é uma pessoa de quem gosto muito. Minha tia é a pessoa da qual gosto muito. Minha sobrinha é a pessoa de que gosto muito.
O verbo lembrar tem causado mau uso – ‘Não lembro de nada’. Esse exemplo deve seguir a norma culta: quem se lembra, lembra-se de alguma coisa. Eu não me lembro de nada. Se houver a preposição ‘de’, fica obrigado o uso de um pronome referente ao sujeito da frase: eu não me lembro do filme. Não havendo o pronome oblíquo átono referente ao sujeito da frase, também não haverá a preposição ‘de’: qual seria a mais bonita? Não lembro nada. Não me lembro de nada. (Não recordo isso. Não me recordo disso.)
Um famoso cita ‘o lugar mais inusitado que fez sexo’ (com sua namorada). A frase estaria correta, mas como ‘lugar’ não faz sexo, quem faz é o fulano que esteve nesse lugar, a frase exige uma preposição: o famoso cita o lugar mais inusitado em que (no qual) fez sexo com sua namorada.
Verbo que tem objeto direto e indireto ao mesmo tempo já foi chamado de ‘bitransitivo’, classificação condenada pela Gramática Normativa. O verbo enviar é transitivo direto e indireto (ao mesmo tempo): O jovem enviou a encomenda à empresa.
Na feira-livre: “Vendo um coco pelo um Real.” Note que há dois artigos: o (artigo definido), um (artigo indefinido). O falante não percebe essa duplicidade. Deve escolher uma redação – Vendo um coco por um Real (indefinido). O Real é a moeda vigente no Brasil hodierno.