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“… que encontra-se foragido” ou “… que se encontra foragido”? Há solecismo nesse enunciado?

Solecismo, nome grego, é estranho, mas é erro comum em artigos que tratam de crimes. Seu âmbito atinge a regência, a colocação de termos na oração e a concordância. Definição fácil, segundo o dicionário é: solecismo consiste em “erro contra as regras de sintaxe de concordância, de regência ou de colocação”.

Quando o locutor diz “Atenção, fica marcado nova reunião para o dia 29 de agosto, às 18 horas”, está cometendo esse erro. Se temos ‘reunião’, e esse vocábulo é feminino, ‘fica marcada nova reunião…”. A reunião é marcada. Houve erro de concordância nominal. Em “A turma já saíram” também há erro de concordância, mas verbal. O coletivo ‘turma‘ exige o verbo no singular. A turma já saiu. O povo vaiou o candidato, e não “O povo vaiaram o candidato”.

Em “Assisti o filme ontem” há erro de regência verbal. Assistir, no sentido de presenciar, ver, exige a preposição ‘a’ – Assisti ao filme ontem. Esse mesmo erro acontece na frase “Chegou em Teixeira de Freitas uma leva de índios”. Quando se ‘chega em‘, deve estar em um veículo: chegou no ônibus. Chega-se a um lugar, chega-se a uma cidade. Logo, “Chegou a Teixeira de Freitas uma leva de índios”. Como se vai “à fazenda”, chega-se à fazenda, e não se chega na fazenda. Vai-se ao banheiro; não se vai ‘no banheiro’. Apenas, ria com a comparação: “Vá no banheiro se puder subir nele para uma viagem!”

São muitos os exemplos. Com paciência, o leitor vai entendendo o erro de colocação citado no título deste artigo. Se há erro em “Nunca esforçou-se“, em vez de “Nunca se esforçou” (a próclise exige que o pronome átono venha antes do verbo), por questão de ‘musicalidade’ da frase, fica mais audível que você fale – Não o recebi em minha casa, em vez de “Não recebi-o em minha casa”. O erro no título seria comum em jornais noticiando que criminosos tentam escapar da lei. Correto é “O meliante, por se encontrar foragido, não foi preso”. Talvez, seja pelo fato de se poder dizer: Ele encontra-se foragido. Por que agora, com o pronome depois do verbo, está correto? Por que não há termo atrativo, apenas o sujeito ‘ele’, que não atrai. Pode-se dizer Ele se encontra foragido como Ele encontra-se foragido. É escolha do redator. Havendo a introdução de advérbio (não, nunca, onde, talvez, ontem), de conjunção (que, como, porque, se), o pronome átono deve vir antes do verbo. Não o fiz. Nunca o fiz. Onde se encontra ele? Talvez, eu o faça. Exijo que você o faça agora! Se o fizer, avise-me.

Um erro de regência verbal muito comum é o fato de ser omitida a preposição exigida pelo verbo. Quem trabalha, trabalha em algum lugar. Portanto, “A loja em que o adolescente trabalhava”. A casa em que o adolescente morava. Não se pode ‘morar a casa’; não se pode ‘trabalhar a loja’. Por outro lado, o oleiro ‘trabalha’ o barro, assim como o artista trabalha a madeira para produzir a arte de xilografia.

Se é melhor se dizer que alguém ou alguma coisa chega a uma cidade, e não ‘nela’, quando um meliante é conduzido a um órgão policial, não podemos dizer que ele foi ‘conduzido na carceragem’?  Ele foi ‘conduzido à carceragem’, e poderia estar ‘na carroceria de uma viatura’. Não concorda?

Há muito o que se comentar sobre solecismo, mas, respeitando o espaço do visitante, deixemos algo para outra data. A frase “Se liga Brasil” é um desses itens. Quanta coisa falta! Vírgula, concordância verbal, colocação pronominal. É popular, como “Me dá um cafezinho!”, ma a frase, por ser veiculada em jornais, talvez fosse melhor “Ligue-se nessa, Brasil”, assim como se diz “Fique atento, meu povo”. Se você disser que a opção deste blogueiro é ‘feia’, é por estar acostumado com o exemplo costumeiro: “Se liga nessa, meu bróder!”

Um artigo sobre o mar diz – “O fundo do mar é também local onde ‘pode-se encontrar’ restos de barcos, navios, transatlânticos, submarinos, aviões e o que mais cair nele”. Boa informação, mas a linguagem seria “onde se podem encontrar restos” – ‘onde’ exige próclise, e ‘restos’ exige plural.

Volte aqui para nova troca de experiências.

 

 

João Carlos de Oliveira

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