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Qual a forma correta – ‘detetizar’ ou ‘dedetizar’? Por quê? Alguns usam a primeira grafia

Há verbo que tem variante gráfica – pode ser escrito de duas maneiras, como ‘desperdiçar’ e ‘esperdiçar’, sem que haja qualquer problema linguístico. Além de o cotidiano aceitar as duas formas, a Gramática as endossa e dá para elas a mesma sinonímia: desperdiçar – gastar inutilmente, esbanjar; esperdiçar. Ao se consultar o verbo ‘esperdiçar’, lá está escrito: desperdiçar. E ainda se aprende um pouco mais quanto aos substantivos dessa família: desperdício (esbanjamento, gasto ou despesa inútil). Esperdício. No linguajar de alguns, surge a pronúncia ‘desperdiço’ ou ‘esperdiço’ por parecer mais ‘fácil’. Essa grafia existe, mas se trata unicamente da forma verbal da primeira pessoa do singular no presente do indicativo – eu desperdiço, eu esperdiço.

Talvez, por esse fato ou pela semelhança com vocábulos de dupla grafia (pode-se usar doido ou doudo, cota ou quota, hidroelétrica ou hidrelétrica), o contexto popular não distinga que ‘detetizar’, muito usado no dia a dia, não é a grafia correta. E de onde se origina a forma ‘dedetizar’, considerada gramaticalmente a opção correta?

Essa pergunta me foi feita por Andreia, amiga do professor Cosme, meu ex-aluno e meu amigo. “Eu tenho uma dúvida – detetizar ou dedetizar? Já li alguma coisa sobre isso.”

Ponderei com ela que, popularmente, a primeira grafia é bastante usual; que não teria no momento uma justificativa filológica sobre essa questão. Escrevi as duas formas, e sobre ‘dedetizar’ lhe disse que teria algo a ver com um produto usado na ‘agricultura’. Agora, completo a resposta.

O dicionário Michaelis diz isto: ‘dedetizar’ se origina da sigla DDT, poderoso inseticida composto de dimetil, difenil e tricloretana, de cujas iniciais se forma o vocábulo. O vocábulo onomatopaico ‘dedetê’ se tornou conhecido do povo como um produto para matar insetos (barata, cupim, formiga etc.). Isso é certo, sem ser dado detalhe do seu real significado. A pronúncia das consoantes p, b, d, t pode influenciar mudança na grafia – incorreta de uma palavra, como ‘detetizar’, tanto que o profissional nessa área se diz ‘detetizador’, forma até escrita em panfleto. Derivado de dedetê, temos dedetizar, dedetizador, dedetizado.

Temos muitos verbos com dupla grafia – mobiliar e mobilhar. A escolha é do usuário em virtude de seu estilo: casa ‘mobilhada’, mais chamativo, no lugar de casa ‘mobiliada’, talvez menos elegante. É fácil detectarmos que se usa muito ‘despenar’ a galinha, que existe, a ponto de ser um sotaque: ‘dispenar’. O padrão culto da Gramática, nem sempre usado ou aceito, determina a forma ‘depenar’ – galinha depenada, sujeito depenado. Existem dejejum e desjejum. Cuidado com ‘assassínio’, o ato de assassinar, o mesmo que assassinato. O ‘matador’ é o assassino ou homicida, que pratica um homicídio.

A riqueza vocabular do nosso idioma nos leva a essas variantes, umas mais conhecidas, outras menos, mas todas circulando em todo o território nacional. O padrão cultural de cada um é que determina o uso de uma ou de outra, e não devemos condenar essa opção. Se alguém vai despertar às cinco da manhã, ou espertar bem cedo, não exatamente, ser esperto, mas acordar, levantar-se para o primeiro trabalho do dia, trata-se de uso correto.

Acresça a seu vocabulário outros exemplos: descarrilhar, descarrilar; enricar, enriquecer; endoidar, endoudar (poético), endoidecer; madurar, madurecer (curioso quando se diz que a fruta de-vez ‘madroce’); terraplenar, terraplanar; rodear, arrodear; circular, circundar. Mas brindar – oferecer um brinde; e blindar – proteger ‘o companheiro’. Não são variantes gráficas: soar (ecoar, troar); o tambor soa; suar (transpirar); quando ele se exercita, sua muito; assuar (assoprar); a criança não assua o nariz – fica lambendo a meleca. Assear é do grupo de ‘asseio’ – Ela é uma pessoa muito asseada.

Uma pausa. Palavras compostas formadas por dois substantivos em que o segundo caracteriza o primeiro devem ter um hífen, cujo modelo encontramos em nomes antigos – caneta-tinteiro, e de preferência que no plural se flexione somente o primeiro vocábulo – canetas-tinteiro. Há outros tradicionais: banana-maçã, navio-escola, fruta-pão, homem-morcego, mulher-maravilha, homem-aranha. Podemos criar os nossos: professor-gramática, homem-transparência, casa-sossego. E os usados no dia a dia na mídia, como força-tarefa, devem seguir o mesmo esquema, entretanto, nem sempre respeitado. O conjunto ‘bolsa família’, solto, fica incoerente com o contexto. O hífen esclarece o significado dos termos, e torna mais segura a semântica do contexto frasal. Colégio-modelo, peixe-boi. O rol é enorme, e cabe um artigo em tempo futuro.

Pode haver uma pessoa ‘desvoluída’ ou ‘involuída’, já que podemos ter ‘involução’, regresso ou atraso de vida? Esse assunto me parece interessante. Como você isso? Volte para mais um contato.

Teixeira de Freitas. João Carlos de Oliveira, seu professor.

João Carlos de Oliveira

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