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Função apelativa da linguagem – Então, chega pra cá, minha amiga! Ou – Então, chegue pra cá, minha amiga!

O enunciado apelativo, ou conativo, circula em todas as camadas sociais e em todos os locais em que transitam pessoas. Algum é criativo, outro nem tanto. É interessante observar o nível da linguagem, culto ou popular, e a que receptor está sendo dirigida a mensagem.

Um feirante quer vender seu produto. Ele diz em boa voz que quatro abacaxis (dos miúdos) custam R$ 5,00. Em seguida, grita: “É só hoje. Aproveite a promoção: 4 abacaxis por cinco reais e 8 por dez!” Absurda! Há interpretações: o vendedor precisa reavaliar o que diz; ele considera que o comprador não sabe que, se 4 custam 5 Reais, 8, evidentemente, custam 10; pratica tentativa de estelionato – usa o termo ‘promoção’ por um viés semântico estranho, e a função apelativa da linguagem do vendedor implica o conceito de que o povo não sabe que ‘seis mais seis são doze‘.

Os dizeres pelo prisma da linguagem em si, escorreita ou não, costumam conter disparates. Alguns contêm graves erros gramaticais.

Como nos ensina o compêndio didático, a função apelativa ou conativa da linguagem está centrada na 2a. pessoa – com quem se fala (tu, você), com o intuito de influenciar a fazer isso ou aquilo, podendo haver vocativo. O tempo verbal é o imperativo.

Importa lembrar que o verbo para o pronome de tratamento você corresponde à mesma forma da 3a. pessoa do singular, tanto no presente do indicativo, no imperativo afirmativo como no imperativo negativo. O problema nesse caso é que estão misturando as formas verbais da pessoa você com as da pessoa tu, o que gera dúvida – venha ou vem, compre ou compra, cujos respectivos pronomes (o, a, lhe, se, si. seu, sua e flexões; te, ti, teu, tua e flexões), pela ordem, têm aparecido mesclados, desrespeitando a uniformidade de tratamento, o que não é ideal para a boa linguagem, escrita ou falada.

Uma propaganda anuncia: “Você quer comprar barato? Então, chega pra cá!” Talvez, o leitor não saiba: se o tratamento está centrado na pessoa você, o imperativo do verbo chegar, nesse caso, é ‘chegue’. O locutor acharia essa flexão ‘feia’? Ela não é expressiva? Ou ele não sabe que ‘chega’, imperativo afirmativo, é para a pessoa tu? Esse engano traz diferenças, pois a regra gramatical não está sendo acatada. “Tu queres comprar barato? Então, chega pra cá!” Notou a diferença da flexão correta da pessoa (você) e da outra (tu)? Alguém perguntaria – eu não posso misturar? Não é ideal. A grande questão é que a uniformidade de tratamento, com a devida flexão verbal, ao que parece, não está sendo debatida em sala de aula, tanto no segundo grau como no nível superior. Aparece muito uma redação similar a esta: “Nós te convidamos para a festa de inauguração da loja Bola Cheia (nome fictício). Vem e traga sua família. Você é nosso convidado de honra.”

Fica clara a mescla de ‘tu’ e ‘você’. No bom Português, a redação deve ser uniforme: “Nós o convidamos para a festa de inauguração da loja Bola Cheia. Venha e traga sua família. Você é nosso convidado de honra” (você). Ou: “Nós te convidamos para a festa de inauguração da loja Bola Cheia. Vem e traze tua família. Tu és nosso convidado de honra” (tu).

O segundo enunciado parece complicado, pouco eficiente ou atrativo, mas é o correto. Pode parecer até poético e íntimo. Por isso, é ideal que se use a pessoa ‘você’ do início ao fim do enunciado, uma forma popular de se falar no dia a dia, demonstrando bom conhecimento linguístico, uma linguagem simples e correta. Venha – você. Vem – tu. Chegue para cá – você. Chega para cá – tu.

A frase ‘Vem pra Caixa você também”, de propriedade desse ente público, e que ninguém deve plagiá-la, contém um lapso linguístico. Deveria ser ‘Venha pra Caixa você também’. Não se sabe se o redator criou o texto de propósito como se quisesse dizer que ficaria mais suave e leve. ‘Vem pra Caixa tu também’ não teria o impacto do merchandising. O alterar a flexão verbal de uma pessoa para outra seria comum na propaganda brasileira. A redação ‘Faz um 21‘ não é uma pessoa nem outra. Você: Faça um 21. Tu: Faze um 21. O marqueteiro, em bom momento, considerou sua frase mais adequada ao grande público – curta, simples e fácil de ser memorizada, mas descumpriu a norma gramatical.

Os enunciados nem sempre seguem rigorosamente a regra gramatical, que não fica percebida ou não é aceita. O âncora do jornal cita uma manchete e diz ‘Não sai daí.’ É uma pena – nesse momento, não usou a pessoa você: Não saia daí, nem a pessoa tu: Não saias daí.

Se a flexão verbal de frase assim for dada como certa, poderíamos usar sem medo de qualquer erro as seguintes flexões (que são estranhas): Vocês é, nós são, eu és, tu sois, ele eram, vós eras.

Nenhuma está, gramaticalmente, correta, mas… ‘Não sai daí‘ também não!

Teixeira de Freitas, BA, 11 de janeiro de 2017.

João Carlos de Oliveira

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