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Conurbação… Que vocábulo é esse? Você conurba?

Vi-o, pela primeira vez, há três anos, num vestibular, inclusive errei a resposta. O último ENEM também o incluiu numa questão em meio a outros termos. Consultei muitos dicionários para encontrá-lo; somente um define-o assim: “Coalescência de várias cidades e sua fusão em uma única área metropolitana”. E o que é coalescência? Fusão por crescimento, junção em um só corpo: agrupamento, ajuntamento.

Entende-se que uma cidade – sede de Governo, capital de Estado ou a principal de uma região – tem em seu entorno várias outras, formando um conjunto em que todas contribuem para o desenvolvimento entre si. Em outras palavras, trata-se de uma região metropolitana ‘conjugada’ – cidade-satélite ou cidade-dormitório em que a maioria dos habitantes trabalha em outra que dá atividade a esses funcionários. Esse relacionamento, verdadeira simbiose, faz com que uma cidade faça evoluir a vizinha, maior ou menor, e vice-versa. Numa área metropolitana, os cidadãos estão todos conurbados?

‘Con’ é prefixo, usado em conciliação, concordância; trata-se de uma variante de ‘co’, com a ideia de ‘em comum, em conjunto’, como em coautor, cooperação, coordenação. Conurbação evidencia, pela sua semântica, a área metropolitana em que uma cidade contribui para o progresso da outra. Seu registro no dicionário não é de longa data. O radical é ‘urbe’, que significa ‘cidade’, do qual são formados cognatos (palavras de mesmo radical): urbano, urbanizar, urbanização, urbanidade. Por último, o sufixo ‘ar’, formador de verbos. Os elementos básicos são: con+urbe+ar. Nesse aspecto, conclui-se que pode vir a existir o verbo ‘conurbar’, embora não esteja no dicionário. ‘Você conurba?’, isto é, habita região coalescente a outra? À primeira vista, daria a impressão de termo obsceno; a pergunta foi feita com o fim de chamar a atenção.

Na estrutura da Língua Portuguesa, em média, existe o conjunto de três vocábulos da mesma família – o substantivo, o adjetivo, o verbo. Assim, teríamos a tríade: conurbação, conurbado, conurbar (não importa a ordem). Talvez, daqui a anos, a visão etimológica sobre esses três cognatos faça sentido, assim como há ‘amor, amado (amante, amável, amoroso), amar’.

O termo que mais se parece com conurbação, pelo seu processo de derivação e aspecto semântico, seria conturbação: con (prefixo), turb/a (radical e vogal temática; o tema) e ção (sufixo, formador de substantivo). O dicionário registra que esse vocábulo se origina de ‘conturbatio’, ato ou efeito de conturbar. E conturbar tem exatamente o prefixo ‘con’, o mesmo existente em conurbação. Em conturbação há um conjunto de fatores e, como fica claro, tem a conotação de perturbação, confusão, desordem, motim, agitação, não necessariamente nessa ordem, nem exatamente no aspecto literal. Figuradamente, são sinônimos.

Os elementos turb/a têm a ver com turvo (de turbidus, de origem latina), que, por sua vez, forma turvar, turbar, daí turbação, com base no Latim ‘turbatio’. Turbar e turvar têm a mesma raiz – turbare.

Para fechar a análise, busquei interpretar os vocábulos a seguir, que não são novos; recentemente, é que vêm ganhando destaque na linguagem culta escrita em virtude do comportamento da sociedade estressada e conflitante em que vivemos, salvo melhor juízo.

Agorafobia – medo mórbido de lugares abertos (praças, jardins) em que alguém teme ficar a descoberto em virtude do grande aglomerado de pessoas e dos decibéis elevados de veículos de som. Deriva de ágora (á-go-ra), praça pública em que os gregos realizavam suas assembleias e aplicavam a justiça. A expressão ‘aplicar a justiça’ pode ter a conotação de aplicar a lei, de condenar, e não fica longe da nossa ‘aplicar a justiça com as próprias mãos’. Compare-a aos termos justiceiro e linchamento, este nascido de ‘Lei de Lynch’, visão de cidadão americano que fez desenvolver o método de condenação sumária (sem o devido processo legal), espancando o suposto réu até a sua morte. Por isso, usamos linchar, linchado e linchamento.

Claustrofobia – aversão a lugares fechados. Imagine-se numa cidade como Nova Iorque (para meu linguajar, Nova York é puro disparate linguístico), em que você se encontra num edifício de 140 andares, sozinho. Cidades como Tóquio e Dubai têm os arranha-céus mais altos do mundo; certamente, provocam medo ao homem comum, que não é morador desse convívio. Eu teria estando sozinho, como tenho de lugares públicos abertos com grande aglomeração. De repente, um ‘raio’ vem e leva você para as alturas. Agorafobia e claustrofobia, de sentido oposto, são doenças modernas. Quem não as tem ou não as teme, talvez, não esteja sendo sincero.

Fui satisfatório hoje? Um abraço.

João Carlos de Oliveira. Teixeira de Freitas, BA, 07 de janeiro de 2017.

 

João Carlos de Oliveira

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