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PEQUENO e GRANDE são adjetivos ‘notórios’. Infiltrados na fala cotidiana, fazem a função de termos vicários!

No dia a dia, inúmeras vezes, usamos pequeno e grande, adjetivos ricos na sua semântica simples.

Pequeno, o miúdo. De tamanho reduzido. De pouca extensão. De baixa estatura.

João Carlos é um homem pequeno, mas não é um pequeno ser. É, apenas, franzino.

Uma moça pequena não serviria para ser uma policial militar?

O pequeno: que ainda está na infância. Figuradamente, que tem pouca importância pelo número, quantidade, valor etc. Que é feito em limitada escala. Há o pequeno mesquinho, miserável.

Doutor Zé Pequeno, nada disso ele é, mas um grande homem, profissional liberal de alto nível.

E o que é grande? Claro, o contrário de pequeno. Mas não se trata, tão-somente, de oposto semântico! Grande é muito mais! De tamanho, importância, valor, quantidade ou qualidade mais exponencial que a média comum: cidade grande, uma grande cidade, como Jacobina; grande fazendeira, como a dona das terras do Raso da Catarina, na Bahia. Que é notável pela sua elevação ou nobreza: coração grande. Rui Barbosa tinha grande sabedoria. Anne Frank tinha grande saber filosófico e demonstrou grande preocupação com a Guerra, cuja insensatez acabou vitimando-a.

Grande, o rico, o poderoso, o influente. Soberbo, excepcional, magnífico, magnificente. Alexandre, O Grande.

Dois adjetivos usados milhares de vezes por dia, por grandes, pequenos, crianças e adultos, ricos e pobres, anônimos e famosos, poetas, poetisas.

Dói muito a grande dor, a dor grande: políticos surrupiam valores e dizem fazer uma ‘grande’ obra.

Preocupante quando o significado de palavras é desviado do seu alicerce normal!

Grande, o melhor. Ele é mais grande que sábio. Um homenzarrão de 2 metros e dez de altura. Pequeno, o menor, o ínfimo. Ele é mais estudioso que pequeno. Pequeno, sim, mas grande leitor.

Pequeno e grande são dois irmãos diferentes que se unem!

Pausa.

Costumo fazer palavras cruzadas. E aprendo muito. Sábios ensinamentos colhemos em suas páginas, mas… de vez em quando, ou de quando em vez, encontram-se expressões ou definições que seriam pérolas fantásticas. Enganos e lapsos estranhos nos derrubam ladeira abaixo, todavia, há os que nos enviesam o pensar.

Em uma dessas, há um espaço para quatro letras. E veio a dica: “poltrona que se fixa na garupa dos equinos para comodidade do cavaleiro”. (A definição: sela.)

Primeiro, o que é fixar? Fixa-se um quadro na parede. Fixa-se um cartaz na fachada de um prédio, o fixar-se uma matéria em estudo (para dizer aprender, internalizar, decorar). Como se pode fixar uma poltrona num cavalo? Seria ‘colocar, pôr em seu lombo’ para servir de apoio ao montador?

Logo, uma poltrona? O editor quer dizer assento, e lá vai o lembrete da diferença entre acento e assento. Certo que toda palavra tem acento tônico, mas nem toda tem acento gráfico. Certo que uma poltrona é um assento, mas nem todo assento é uma poltrona. Uma cadeira é um assento, mas não é uma poltrona; um banco é um assento, mas não é uma poltrona; um tamborete, e são muitos pelos barezinhos da vida, é um assento, mas nunca poderia ser uma poltrona. Já que uma sela pode ser uma poltrona (um assento), e tamborete é assento, como colocar um tamborete num equino e se servir dele (para comodidade do cavaleiro)?

Entendamos e estendamos as colocações semânticas, e perguntemos: o que é uma cadeira? Um assento. Assento para uma só pessoa, comumente portátil, com quatro pernas e espaldar, com ou sem braços.

Deixemos outras definições de lado, mas questionemos: uma cadeira é uma cátedra, do Grego káthedra, que chegou até nós via Latim, mas nem toda cátedra (e aí, catedrático?) é uma cadeira. Confrontemos sem comentário escrito que cela não é sela.

Mesmo que a análise seja exagerada ou tola, parece-me que o editor estaria brincando com  o conhecimento linguístico do usuário das palavras cruzadas. Isso não pode. Seria discriminação cultural. !?

Consultado o léxico sobre o que é poltrona, encontraram-se estas fáceis definições: 1. “Cadeira de braços, larga e estofada. Nos teatros e cinemas, cadeira na plateia”, diz-nos um mestre. 2. “Cadeira de braços, geralmente estofada. Sela com arções baixos. Nos cinemas e teatros, cadeira de plateia. Banco, geralmente individual, nos ônibus, aviões etc.”, diz-nos o outro.

E o que é arção? Para salvaguardar a definição do editor e ver que, pelo menos em parte, ele está correto, do Castelhano arzón, é a “parte saliente, adiante e atrás da sela, onde é costume amarrar o que se faz necessário transportar”. Fica claro, pois, que arção não é sela. Quer dizer: a sela com arções baixos é poltrona.

Aí, a semântica se estende como o fio de um novelo que vai do chão ao infinito! O Português se alarga como a nuvem no céu. Admitamos, então, que o editor tem razão, e que este comentarista viu o significado de poltrona de forma errada. Mas, como também é teimoso, a sela não é colocada na ‘garupa‘ do animal; é aí que vai o alforje. Coloca-se a peça de montaria, tão-somente, no lombo da cavalgadura, para a seguridade do cavaleiro. Não é isso?

Em algumas aulas que ministrei na vida (ministrar é chique, assim como se diz que você não anda pelas ruas, mas passeia!), pedia aos pimpolhos que definissem ‘vocábulos’, quando queria introduzir ou discutir significados de palavras estrambóticas encontradas em textos de certos poetas. O que é uma pena? Mas uma pena figurada. O que é uma porta? Mas uma porta figurada. O que um cume? Mas um cume figurado.

A conversa rendia. Em Inglês, em parte pelo menos, definimos bem ‘small’, e o confrontamos opostamente com ‘big’, mas no momento em que alargamos o significado, vemos que big tem outras conotações – large, great -, e ficamos aturdidos. Assim como, no início de seus estudos, um garoto pode ter dificuldade de entender ‘grande’ em coisa grande e em grande coisa!

Olhando o modo como definimos ‘carnívoro’, poderíamos dizer, figuradamente?, que o homem é carnívoro? Sim, mas marcar isso como hábito alimentar fica pesado. Então, um cachorro como carne, uma hiena come carne, um tigre come carne, mas quem é felino entre eles e quem de fato é carnívoro?

Hiena não é felino nem um cão o é, mas todos seriam carnívoros, e o cão, comumente, é doméstico, mas a hiena é sempre selvagem, exceto o tigre de bengala que reside no palácio do abastado em região forrada de petrodólares.

Para terminar o debate, lembremos que poltrona também é o feminino de poltrão, isto é, o moleirão, o covarde, o medroso, o pusilânime. A pusilanimidade nos entrava o crescimento da vida.

Com toda a bobagem escrita, sela é uma peça da montaria colocada no dorso do animal, e a garupa (em cujo local Julieta estava de olhos fechados levada por Romeu em uma cavalgadura) faz parte da estrutura física de um equino, mas duas coisas se destacam: lombo ou dorso e garupa.

Meu avô levou na garupa de sua mula quatralva sua namorada, minha avó Maria Salomé, que detestava sela de banda, já que mulher não usava calça comprida nem podia montar em sela normal. Ela, então, preferia ir na garupa ao lado de seu querido namorado, João Elias Viana.

Aliás, estive em uma pousada em Santo Antônio de Jesus, linda cidade aqui na Bahia, no Recôncavo, em que algumas cadeiras tinham três pernas, e não quatro.

Volte aqui sempre. Critique, assobie, dê um pitaco sobre os comentários, e aplauda se gostar, ou mande para as cucuias se os achar horripilantes.

Até o próximo encontro.

João Carlos de Oliveira

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