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‘Nessas’ eleições ou nestas? A que período eleitoral o usuário se refere?

Ambas são corretas, mas o usuário precisa ser claro para dizer a que período se refere. ‘Nestas’, as eleições deste ano; ‘nessas’, as de tempo que passou. O erro é que alguns usam ‘nessas’ para referir-se às atuais, o que não pode nem convém.

Seguem-se outras explicações.

Se a referência é feita a um período ‘próximo’ ao usuário (falante ou escrevente), deve usar este(s), esta(s), isto, por ser ele a primeira pessoa do fato relatado, mesmo que não use diretamente ‘eu’ ou ‘nós’.

Se a dúvida é ‘eterna’, por outro aspecto, pode haver a teimosia do usuário. Se a incerteza lhe seria, também, uma dor de cabeça, por que não pesquisar?

Que podemos encontrar uma encruzilhada linguística, podemos, mas parece que o domínio no uso de certos pronomes demonstrativos cria o hábito do faz-de-conta e vem a desculpa: “É assim que eu falo”, “Ninguém vai perceber”, ou, “Todo mundo fala errado”, “Se você entendeu, por que critica?”

E outras formas de reação.

Antes de detalhes quanto ao uso de ‘este, esta, isto’, e suas flexões, e de contrações (desta, deste, desse, nesta, neste, nesse etc.), citemos uma frase de jornal que bem caracteriza tanto o erro, por um lado, quanto a dúvida, por outro. Certo, entretanto, que é dever buscarmos a forma gramatical correta, ou vamos atropelar tudo e todos e dizer que isso ou aquilo não importa.

“Segunda fase do Intermunicipal começa nesse domingo (23)” (sic), (grifo nosso),  momento em que o redator do artigo quer referir-se a ‘este’ domingo, o que está ocorrendo (23 de setembro deste ano).

Em setembro, começa a Primavera, período das flores, fase em que espécies como ipê, flamboiã (do Francês flamboyant), buganvília e outras deixam florir a poesia, o olor da Natureza, felizmente, para nosso deleite, a fim de apreciarmos o imaterial que nos cerca. Vale o olhar ao ipê-roxo, mesmo que o amarelo não fique distante. E como todo poeta vê o imaterial ‘o maior troféu da vida’, maior que todo o bem material que possa existir e alguém possa ter, neste 19 de setembro, mesmo tardiamente, a Literatura de Cordel foi reconhecida, pelo Iphan (vide detalhes em reportagens), como Patrimônio Imaterial do Brasil.

Muito bem! Antes tarde que nunca!

Perdemos tempo em não reconhecer o cordel como fator cultural, mas ganhamos um prêmio para que a futura geração busque no simples a grandeza de coisas belas da vida. O reconhecimento ao literato nordestino, poeta ou cordelista, que declama o que aflige o Nordeste, ou o embeleza, é grandioso, como o é a arte literária de qualquer escritor. Muito se publica sobre escritores exóticos e pouco se divulga sobre o que retrata nossas raízes. Pode ser dito que um caboclo, como este blogueiro, de origem nordestina, aprendeu muito quando menino ou rapazola ao ler os livrinhos de literatura de cordel comprados na feira-livre de Jacobina, terra de muito quitute cultural. Época grandiosa!

Ainda são vendidos?

Torço que o visitante não tenha ficado aborrecido com a interseção de ideias, ‘um pulo de sapo fugindo do fogo’, mas já estamos de volta.

O redator do artigo do jornal, que está bem em outro aspecto, quer fazer referência ao domingo que nos cerca, este 23 de setembro, e se nele estamos, devemos chamá-lo ‘este’ e não ‘esse’; assim seria se fosse o anterior, o domingo passado.

Por isso, no dia a dia, se fazemos referência ao dia, à semana, ao mês, ao ano etc. em que estamos, todas as citações devem ter como base ‘esta, este, isto’, e suas devidas flexões.

Neste dia (falando do mesmo dia em que estamos); nesta semana (a semana que corre); neste mês (o mês em que estamos); neste ano (2018, o ano em curso).

Apesar de ter usado ‘nesse’ domingo, num momento, o redator se dá bem na continuidade de seu texto e usa, adiante, “neste domingo”, referindo-se ao dia 23 de setembro, e, logo depois, “Nesta segunda fase (…)”, fechando, de forma correta, o aspecto semântico dos fatos que ocorrem no período a que se refere. Parabéns. Melhor assim.

Às vezes, a dúvida é tão gritante, que o usuário torna ‘distante’ o que está tão perto dele: Vende-se essa casa, referindo-se à casa em que ele está. (Se houvesse uma foto estampando ambos, o dono e o bem?)

Nas eleições passadas, as de 2014, quando devemos dizer “Nessas eleições”, votamos, primeiro, para deputado estadual e, depois, para federal. Nestas eleições, ao contrário, vamos votar primeiro para deputado federal e, em seguida, para estadual (informa o TRE em nota de esclarecimento).

Se nos reportarmos a um período longínquo, como ao das eleições de 1960, em que Jânio Quadros se portou como o homem da vassoura, que iria varrer tudo de ruim da Nação (vide jingle “Varre, varre, vassourinha”), devemos dizer “Naquelas eleições”, disputavam o cargo de Presidente três candidatos, Jânio Quadros, Teixeira Lott e Adhemar de Barros, e estes perderam para aquele.

Uma Gramática Normativa, modesta em certa parte, ensina-nos: “Os demonstrativos são pronomes que indicam posição espacial de um objeto ou pessoa em relação ao falante e ouvinte: perto do falante (primeira pessoa, eu)”: Esta caneta é minha (ou a tenho em mão); perto do ouvinte (segunda pessoa, tu ou você): Essa caneta é tua (sua)?; distante dos dois (terceira pessoa): Aquela caneta vermelha é do menino que acabou de sair.

Como segundo item, “Posição de uma informação no interior do texto”: o que vai ser dito (1ª. pessoa): Ouça isto, Vozes d’África, o mais belo poema de Castro Alves. O que já foi dito (2ª. pessoa): A História confirma, isso é o que teve de maior grandeza, o maior poeta antiescravagista. O que está fora do texto em que o pronome se encontra (3ª. pessoa): Aquele ano, o de 1888, foi fundamental para consolidar a Abolição da Escravatura no Brasil. Obs.: o grifo é desta redação.

Em terceiro momento, “Situação no tempo de um fato expresso: momento presente (1ª. pessoa)”: Este é o século hi-tec, referindo-se ao momento em que estamos, ao século atual.

Esse, talvez, seja o aspecto de maior dúvida para o usuário. Nesse caso, deve usar este, para o ano em curso; para o mês em curso, para um fato que está acontecendo, por isso, NESTAS ELEIÇÕES.

Se foi um período distante, nesse ano; se mais longínquo, naquele ano.

E mais: no lugar de este ou esta, isto; no lugar de esse ou essa, isso; no lugar de aquele ou aquela, aquilo.

Restam-nos, para consolidar o comentário, mais algumas frases, que seriam marcantes:

  1. Neste ano, vou-me casar (referindo-se ao ano de 2018).
  2. Casei-me em 1975 (nesse ano, as fotos eram preto-e-branco).
  3. Em 1960, Jânio Quadros venceu o pleito, e naquelas eleições, o analfabeto ainda não votava, e eu, ainda um menino de 13 a 14 anos, por ser menor de idade, apenas me dizia eleitor de quem iria consertar o Brasil.

 

 

João Carlos de Oliveira

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