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Segmento ou seguimento? Por quê? Em que momento? Como deve ser usada cada palavra?

Segmento, que nem todo dicionário registra, parece-se em grafia e pronúncia com seguimento, razão por que não são homônimos. Pela proximidade, são parônimos, também pouco comentados no campo da Sinonímia e da Fonologia pela Gramática Normativa.

Parônimos por terem grafia e pronúncia parecidas, mas cada um, como deve ser, com seu próprio significado.

Como definir e explicar cada um?

Mais fácil explicar o substantivo comum seguimento, derivação sufixal do verbo seguir. Está no mesmo patamar do substantivo derivado de acontecer, acontecimento; de movimentar, movimento; de fingir, fingimento; de acompanhar, acompanhamento etc. Assim, o leitor fica seguro: se segue algum princípio, se segue um féretro, se segue um cortejo, faz um seguimento, o ato de seguir.

Seguir vem do Latim ‘sequere’, com o mesmo significado.

Segmento, no entanto, vocábulo sofisticado, implica uma seção, uma porção (parte de um todo). Assim, pode-se dizer ‘Certo segmento da população’ adora fazer protesto por qualquer motivo.

Vem do Latim ‘segmentum’, do qual se deriva segmentação; e ainda: segmentar (adjetivo e verbo) e segmentário.

Observada, atentamente, a raiz latina segmentu, tem-se a noção da diferença entre um vocábulo e outro, mesmo que a pronúncia, num Português açucarado, própria de nosso falar, seja muito parecida.

E sendo a polissemia parte da Gramática que nos ensina a múltipla significação de uma palavra, segmento ganha campo e aparece diversificado, como vocábulo polissêmico.

Em Medicina, tem semântica especial: segmento inferior é a parte adelgaçada do útero, situada entre o colo e o corpo, que aparece a partir do sexto mês da gravidez. Esse segmento tem imagem e anatomia desconhecidas de quem não é médico nem paramédico.

E o que é adelgaçada? Uma parte fina (de pouca espessura) e, talvez, frágil quanto à resistência muscular.

Por isso, a afirmação de que o vocábulo tem significação ampla e uso sofisticado.

Em Zoologia, como nos preceitua um dicionário, ‘segmento’ é cada uma das partes, bem definidas, em que se divide o corpo ou o apêndice de um animal (sic). Mesmo como não-profissionais especializados, vemos que o abdômen da abelha tem ‘anéis’ diversos, separados, assim como o corpo de outros insetos (besouros, gafanhotos).

Na prática, como no comércio, tem-se a dizer, por exemplo, que certo profissional é do segmento de lojas de artefatos de couro; outro, de vestidos de noiva, de eletrodomésticos, de secos-e-molhados etc., e, mesmo que haja dúvida, como já observei em textos de propagandas para jornal (em que atuei como revisor), nesse aspecto, nunca se deve usar ‘seguimento‘.

Se alguém vai acompanhar o sepultamento de um ente querido, de um membro da sociedade, está-se fazendo um ‘seguimento’, cujo sinônimo mais próximo é acompanhamento fúnebre.

Professor, por favor, explique melhor, de maneira mais clara, esses aspectos, diferenciando um do outro!

Seguimento: acompanhamento, séquito, cortejo; prosseguimento, sequência; consequência, resultado, perseguição. No campo do regionalismo, segundo o dicionário Michaelis, no RS, seguimento, em linguagem popular, é sinônimo de cilada, traição.

Segmento: a parte de um todo, a seção de um corpo, a parte de um órgão. Além de outros significados, na Geometria, na Anatomia, na Medicina. Na Informática, indica o setor para o qual se estabelece um sentido de percurso. “Por onde devo seguir, professor?”, perguntaria o aluno, já confuso: “Você deve buscar o sentido do segmento perpendicular até chegar ao fim”, responderia o mestre.

A última frase ficou clara? Entendemos pouco, e o caminho a tomar precisa de um sopro, cuja vereda ainda está obscura. De qualquer forma, não se trata de um ‘seguimento’.

Lendo um texto, encontro a palavra seguimento na seguinte frase: “Os dois países não deram seguimento às negociações de paz”. Agora, sim, o sentido está claro. O mesmo que continuação, continuidade, prosseguimento (que está acima) e sequência, o mesmo que séquito. Numa ligeira interpretação sobre o uso do tabagismo, ou de qualquer outro vício, que é costumeiro, pode-se deduzir: ‘como seguimento de anos do ato de fumar, teve graves problemas respiratórios, o que lhe causou uma pneumonia forte que o levou à morte’.

Em outra fala, em linguagem metafórica, segmento seria isto: “Divida sua estrada em vários segmentos, para a esquerda, para a direita, para o lado dos que o amam, para o outro dos que o odeiam, que você chegará ao ponto desejado”.

Na Geometria, divida a reta em três segmentos iguais (parte, porção, parcela). No popular, segmento é o setor do comércio em que alguém atua, ou a parte de cada coisa ou objeto, como se fosse uma fração do todo ao qual nos referimos. Uma palavra, bem rimada, que nos dá esse conceito: segmento é um FRAGMENTO.

Agora, ficou claro?

São dois vocábulos que dificultam nosso entendimento. O contrário de seguimento é isolamento, desacompanhamento; de segmento, a totalidade, o todo.

Como família etimológica, de seguir, temos seguido, seguinte, seguidor, seguimento, sequência, sigo, segue etc.; já de segmento, segmentação, segmentado, segmentar, (eu) segmento, segmenta etc.

Basta, não?!

Pausa: 1. Usam ainda a grafia CPF’s quando querem referir-se aos documentos ‘tais’ de pessoas físicas, mas essa não é a forma correta para usar essa sigla no plural. Deve-se repeti-la com as letras bem claras (CPF) e acrescentar s (esse minúsculo) para indicar o plural, sem apóstrofo: CPFs. Os cepeefes (seria a pronúncia). 2. ‘Vamos nos abraçar!’ É assim mesmo que se escreve? O pronome oblíquo átono ‘nos’, nesse caso, deve estar em ênclise, e não solto entre a forma verbal e o verbo. A Gramática Normativa determina, por regra, esse critério, como em Afasto-me, Visto-me, mas o popular não a segue. Esse uso, em que o pronome fica separado do verbo auxiliar ou do principal, está longe de seguir a norma culta. Se o popular adota ‘Veio me visitar, Sinta se à vontade’, a forma culta regulamenta ‘Vamo-nos abraçar, Vamo-nos agora, Vamo-nos em paz’. E mesmo que seja na primeira pessoa do singular, continua a exigência: Vou-me agora, Vou-me embora. Na terceira pessoa do singular: ‘Vai-se despir, vai-se casar, sente-se cansado’ etc. No imperativo: ‘Vá-se daqui, faça-me o favor’. Quer mais? Então, use: ‘Levanta-se cedo, levanto-me tarde, levantamo-nos para trabalhar. Afasta-se do calor por precaução. Veste-se bem. Cuida-se como pode para evitar infecção’.

Até a próxima, e meus agradecimentos por ter estado aqui.

João Carlos de Oliveira

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