Ao é combinação da preposição a com o artigo definido masculino singular o, como se depreende do contexto acima.
Não se trata de contração, porque nenhum termo sofre alteração gráfica ou fônica. Ambos mantêm a grafia original, formando um verbete equivalente a uma conjunção subordinativa adverbial temporal, do mesmo valor semântico de ‘quando’, ou locução conjuntiva adverbial temporal, ‘no momento em que’, ‘no instante em que’.
Não se veria essa combinação sob outro prisma ou viés, na tentativa de se explicar seu significado e uso.
A Gramática Normativa, salvo uma descoberta inusitada, não cuida desse assunto nem o classifica ou o demonstra em exemplos frasais ao sugerir atividades didáticas tradicionais, que mostrem sua performance, aspectos sintáticos e correspondentes sinonímicos.
É o que parece, sem se discordar de quem possa provar sua presença em comentários gramaticais do dia a dia.
Frases, em geral, populares, temo-las aos montões.
Ao chegar ao clube, encontrou o amigo.
Ao deparar com o ente querido morto, ficou chocado.
Ao se apresentar no espetáculo, foi prontamente aplaudido.
Fora isso, podemos ampliar o leque de ao na tentativa de dizer o que é em outro contexto?
Algum dicionário define essa possível alternativa ou conceito?
“Ao, composição da preposição a e do artigo o” (sic), diz o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis 2000; edição, pois, não tão moderna, mas eficaz. O modelo frasal dado: Dei ao pobre.
Esse exemplo não trata do que tange este artigo. Ao, em Dei ao pobre, explicita a parte introdutória de objeto indireto (complemento de verbo transitivo indireto; no caso, dar, que exige a preposição a, seguida do objeto (indireto) escolhido pelo redator ou falante).
O mesmo léxico mostra ainda: “Ao, composição da preposição a e do pronome demonstrativo o” (sic). Ao que pedir, darei. Trasladada aos miúdos que estão na cachola-aprendiz de boa norma gramatical, seguida de análise sintática satisfatória, entender-se-á por essa expressão isto: Àquele que pedir, darei. Ou: A alguém que pedir, darei.
Aplaudidas as definições contidas no dicionário, não se teriam objeções ao que dizem; isso é claro, salvo que um douto na área linguística encontre possível engano, que não ficaria aperreado com outro qualquer olhar, que não seja o de um lince formado em Letras Vernáculas com vasta experiência em Etimologia ou Semiologia, como ciências da Linguagem.
Busque, agora, sua versão.
Vamos adiante.
Assim como temos a combinação de a, preposição, com onde, advérbio de lugar, formando aonde, indicativo do lugar a que se vai (Aonde vai agora, meu amigo?), que não se pode confundir com Onde você está agora, meu amigo?, o lugar fixo (em que está), busquemos mais nuanças que nos mostrem ao como elemento introdutivo de oração subordinada adverbial temporal, com o valor de quando.
Atente-se, caro visitante, que esse ao não é o mesmo usado na indicação de lugar com o verbo ir, por exemplo, ou outro de semântica similar. Sua ida ao clube (um adjunto adverbial de lugar).
Não se trata ainda do mesmo caso de ao usado em locuções conjuntivas proporcionais: “Ao passo que nos elevávamos, elevava-se igualmente o dia nos ares” (Raul Pompeia), exemplo extraído de Gramática (Teoria e Exercícios), de João Domingues Maia, página 228, que tenho em meu antigo divã, amiga de sempre, mesmo simples.
Para efeito comparativo, ao passo que seria à medida que (… nos elevávamos, elevava-se…).
Resumindo o dito, talvez, ainda, não muito claro (a concordar com o crítico de qualquer nível, mesmo em se tratando do popular em todos os barezinhos da cidade), tentemos outros exemplos do dia a dia:
Ao tentar conter o amigo furioso, ficou ferido no dedo.
Ao chegarmos à festa, fomos impedidos de adentrá-la por falta de convite especial.
Ao voltar da Europa, foi informado de que o coronavírus já tinha chegado até nós de forma muito rápida.
Bastam esses, não?
E a forma redacional em que os dois elementos ‘a o‘ não se fundem ou se combinam? Existem, claramente, a preposição a e o pronome oblíquo o, a combinar com a segunda parte da redação.
Estou sempre a o aceitar entre os meus amigos.
O jovem continua a o admirar por ser sobrinho de um escritor famoso.
Difícil seria entender se a o estivesse na forma feminina Estou sempre a a aceitar entre as minhas amigas?
Mudemos a próclise do pronome oblíquo o, precedido que está da preposição, para a ênclise:
Estou sempre a aceitá-lo entre os meus amigos.
O jovem continua a admirá-lo por ser sobrinho de um escritor famoso.
Qual dos dois modelos frasais seria o mais adequado? Ou mais prático? E o seu preferido? No feminino: Estou sempre a aceitá-la entre as minhas amigas. !? O, ou lo, nesse contexto, tem a função sintática de objeto direto.
Nenhum é popular.
A resposta é pessoal. A o não seria tão simples de se usar; por outro lado, não seria praticidade da linguagem popular fazer uso de á-lo, ê-lo, i-lo, ô-lo:
Estou aqui para amá-lo.
Devemos atendê-lo de imediato.
Pode-se dividi-lo em quatro partes.
Pode possuí-lo num instante.
É necessário pô-lo em ordem.
No frigir dos ovos, importante que se tenha suscitado a análise ou o debate do uso de ao, com semântica de tempo, e a o, em que os termos não se combinam ou se compõem.
Fechando por hoje, frases cotidianas, que podem servir de parâmetro.
- Falava em ideais, ideais esses que não se tornavam realidade. (Desaconselhável o uso de esses, após a repetição de ideais. Uma possibilidade mais audível e simples seria Falava em ideais, que não se tornavam realidade.)
- Eu não cria no que estava vendo. Cria, forma verbal de crer, no pretérito imperfeito do indicativo, poderia parecer incorreto, mas não o é. Eu creio, presente; eu cri, pretérito perfeito; eu cria, imperfeito. Se eu cresse, se eu tive crido, se eu pudesse crer. Essas são redações possíveis e corretas. Se se quiser, que tal Eu creava, no popular, de crear, como crer? Não explicitado na Gramática, mas existente no contexto popular. Melhor assim, expressão própria de usuário que pouco conhece a teoria gramatical, que ver escrito em texto jornalístico Ele tinha chego com antecedência. (Tinha chegado.) Pode-se dizer Tinha ganho ou tinha ganhado (verbo abundante), mas não Tinha compro, tinha chego, tinha falo (tinha comprado, chegado, falado).
- “Minino, coloca isso na gibeira” (sic), disse a mãe transtornada. A linguagem popular é ‘pura’, isto é, sem maldade, daí entendermos que ela, aflita, quis dizer “Menino, coloque isso na sua algibeira”.
Espero você amanhã. Obrigado.