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Abiu, e abio, a fruta; que grafia é a mais usada? Jamais ‘abil’, como se poderia encontrar

O abiu, do Tupi auíu, é fruto do abieiro, conhecido em todo o País; de cor amarela, do tamanho aproximado da pera, é saboroso, embora tenha um visgo esbranquiçado, muito pegajoso, fato que o afasta de alguns.

A variante gráfica abio, também usada, nada tem a ver com o radical existente em abiogenia, que significa ‘geração espontânea’, vocábulo que traz a seguinte morfologia: a-bio-gene-ia. A, prefixo com sentido de não; bio, radical (vida); gene (unidade genética), e -ia, sufixo. Abiogenia varia, ainda, para abiogênese e abiogenesia, termos técnicos da Biologia.

A pronúncia de abiu, abio e ‘abil’, mesmo por usuários de sotaque diferente, se assemelha, já que nosso falar não distingue, claramente, os finais -iu, -io e -il.

Cau, certo apelido familiar, soa como cal (a cal), e vice-versa. Há o registro xibio e xibiu. Nossa fonética se mescla: em Portugal, -al tem a mesma sonoridade de -au, de mingau. Essa tendência fonológica tanto é verdade, que criança-aprendiz se perde ao escrever ‘curau’ e ‘curral’, que poderiam vir a ser cural e currau, tal nossa diversidade ao falar. Grafias verbais, como saiu, sumiu, caiu, confundem-se com fuzil e rocio, em que os sufixos -il e -io são ‘iguais’. Até vocábulo acentuado graficamente (fácil, fértil, sério) teria a mesma ‘rima imperfeita’, podendo deixar o usuário em apuro, com dúvida da forma a grafar.

Em pequena lanchonete, com bons produtos agrícolas, em rodovia federal, havia frutas diversas (de preços escorchantes): araçá, goiaba, pitaia, e uma a que chamam araçá-de-boi. Para espanto de quem poderia ver erro de grafia, encontra-se uma bandeja escrito ‘abil’ (o conhecido abiu), fruta de ‘abilidade’, de sabor ‘hábil’ ou ‘versátil’?

Vemo-nos, diariamente, num emaranhado de formas de escrever que nos confunde.

O fruto é o caqui; a cor é cáqui; no interior da Nação, o abelhudo é ‘abiúdo’, cuja pronúncia é mais leve e fácil.

Um costume que pode atrapalhar a grafia seria o de não acentuar graficamente certos vocábulos, perdendo-se entre o certo e o errado. Márcio, antropônimo, aparece Marcio ou Macio, e daí Marcia ou Macia, que é Márcia, e exemplos que se misturam no dia a dia. Formas verbais (em geral, na terceira pessoa do singular: iu) se confundem com adjetivos e substantivos.

Estéril é confundido com estéreo; fuzil se confunde com fusível. O menino ‘sumil’ (sic), registra o jovem.

Vocábulos com final -io, -eo, -il, e as formas verbais em -iu, são um pandemônio sério? (aéreo, anil, espontâneo, varonil, vil, viu, desistiu).  Veraneio, receio, estio, difícil, pênsil, túnel, tonel, vazio, boné, que vira bonel, cachecol, que pode ser cachecó, álcool e álcoois, perfeitos intrusos.

As variantes fônicas, salvo melhor juízo, opinião que gera debate, criam variantes gráficas: acrobata, acróbata; xérox, xerox; colméia e colmeia (exclua-se a Reforma Ortográfica).

Encontram-se em anúncios ‘açaí, assaí, açai, assai, media de café, melância’ e (não se espante) ‘sorvete de cocô’, uma ‘delicia’. Ele se delicia.

Comentada neste site, que é um sítio, adaptação fônica, correta, em que o vocábulo está aportuguesado, que muitos criticariam, foi citada a palavra ‘furdúncio’, que gera furdunço.

Que fatores ocasionam essas alterações? O comodismo?

O fato de haver ‘media’ de café, sem o devido acento gráfico, cria dúvida quanto a ‘media’, grafia em Inglês para ‘mídia’, embasada na pronúncia? Esse hábito pode induzir o usuário incauto a entender que, agora, é que ocorreu erro gráfico? Somente a sondagem escrita, seguida da pronúncia, poderia elucidar o ‘causo’ e decidir a resposta.

Por que ‘medica’, forma verbal, de medicar, seria ‘médica’, profissional do sexo feminino atuante na Medicina? Eles ‘tem’ no lugar de eles ‘têm’, chegando a haver ‘ele têm’. Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; o frasco contém líquido, os frascos contêm líquido.

A língua-padrão, a que segue todos os parâmetros gramaticais, estipulados na maioria das Gramáticas Normativas, como se sabe, está sendo desvirtuada, razão por que a língua não-padronizada (a popular) tem tantas vertentes.

Em texto comum, no lugar de escreverem cão, popular como é, para inovar, preferem dog, chien, perro, e até pet. “Meu pet” está doente, e a garrafa-pet boia na água suja.

A dúvida cresce. Não é de hoje que criaram ‘kit-net’ para quitinete, simplesinha como é.

Merecem destaque área, ária; era, hera; nós, noz (noz-moscada); peão, pião; a forma, a fôrma.

Desse turbilhão gráfico, passamos à polissemia, que assombra a alguns. O Cabo da Boa Esperança; o cabo da vassoura está quebrado; não deu cabo de suas funções; o cabo ganhou nova patente militar; eu caibo neste local.

Contraiu um vírus letal; contraiu novo matrimônio; contraiu febre-amarela; contraiu muitas dívidas; contraiu os músculos.

Contrair, o verbo, gera contração, que nos pode deixar contraídos ou descontraídos.

Não trata este artigo de dar a semântica ou o étimo de cada palavra, mas mostrar a grafia para não se cair em turbulência gramatical, que nos emperra. O porquê de tudo é obrigação da Gramática Histórica e dicionários etimológicos. O momento é de apenas chamar a atenção para o fato de nossa pronúncia (em cada Estado, com os sotaques devidos) levar a diferentes formas de grafar. O baianês, o internetês, o mineirês, o nordestinês, o carioquês, o gauchês, (e outras denominações), o tocantinês, o cearês, o pernambuquês etc. nos dariam surpresas ortográficas.

Haja vista os textos pelo Brasil afora, a Literatura de Cordel e seus regionalismos; a defesa de cada um e os registros do dicionário virtual, com grafias duvidosas: quem está certo, quem está errado. O idioma muda ‘da água para o vinho’ num momento para o outro.

Mudando de pau para cavaco, é rica a frase “Gosto deste cara porque não tem pabulagem”, que enriquece nossos falares.

O peador da mulher está inchado. Use o peador para pear a vaca e tirar-lhe o leite.

O canário é ave canora. Coruja é ave piadora; o homem apeia do cavalo. Motorista, vou apear aí adiante.

‘Pescar’ baleia é de doer. Baleia não é peixe; maior mamífero ainda existente, apenas seria capturada. O navio-baleeiro, que aprisiona baleias, deveria ter outra função: ‘capturar’ plásticos e outros resíduos que flutuam em todos os oceanos e mares.

Você pode ‘modificar’ o mundo com seu gesto! Isso pesa muito. Alguém, pelo fato de plantar uma árvore, modifica o mundo?

Que tal não fumar nem usar drogas ilícitas para ajudar o Mundo!

Por que cultivam coca e papoula? Quando se veem mulheres em motos possantes levando sacos ‘contendo folhas’, esse vaivém gera riqueza ou violência? São pagas para serem tão velozes e dinâmicas, subindo e descendo montanhas?

Para ‘esse’ ano, o ano em curso. Para este 2020, 2.020 ideias que nos possam ajudar: a prática de valores humanos e/ou princípios. A fala contra a violência se esvai quando há ‘delivery’ de produtos alucinógenos; esse ato fomenta o crime?

A bebida alcoólica a macacos é apologia aos maus-tratos a animais.

Abiu, paroxítona, três sílabas (a-bi-u); variante gráfica abio, também paroxítona, três sílabas.

Caberia rimar abiu com perfil, fuzil? Com fértil, erétil, hostil?

Abiu e nomes regionais: guapeva, pêssego do mato, grão-de-galo (ovo-de-galo?), e curiola. Saboroso, sua cola afasta alguns, que não o consomem.

Abiu rima com abril e abriu; brio, bugio, casario, copio, espio, estio, extravio, fastio, fugidio, gentio, pavio, rio. PSIU, XIBIU!

 

João Carlos de Oliveira

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