Por que uma forma verbal deve ser acentuada? O contexto já não é suficiente para identificá-la e diferenciá-la?
O contexto é que iria decidir, mas a Gramática Normativa cria regras, que implicam conhecimento e aprofundamento sobre verbos e suas flexões: ‘mantém a ordem’ (ele), ‘mantêm a ordem’ (eles).
O agudo e o circunflexo, nesse caso, são acentos diacríticos, para dirimir dúvida entre singular e plural.
Mantém, singular da terceira pessoa; mantêm, plural. Demonstram ‘o uno’ e ‘os vários’.
O algoz do idioma é que prefere olvidar as regras que contornam o Himalaia na horizontal. Na vertical, já é um porre! Aclive e declive pesam na balança! E a escrita pode entrar em paranoia!
Se o contexto seria o suficiente para bom uso, os visitantes devem tirar conclusões.
A boa família mantem a casa em ordem (de manter; a família impõe as normas). Singular.
Executivos municipais sensatos mantem as contas do erário em dia (para o dinheiro público ser bem utilizado em prol dos munícipes). Plural.
Ficamos inquietos: mantém e mantêm, às vezes, se confundem?
Nesse campo, saibamos que ter tem lá seus compostos: conter, deter, manter, obter, reter (mais comuns); abster, ater-se, entreter, suster (incomuns ou mais difíceis).
O estudante obtém êxito com a pesquisa.
“Você se abstém, professor?”, pergunta o discente. Todos se atêm ao que está acontecendo? O menino se entretém na gangorra.
Os detalhes começam a nos encher ‘o estômago’, já que somos passíveis de engano. O mestre-escritor classifica texto que trata do cotidiano, até cita ‘Agro é pop’ (eslôgan de empresa), uma crônica, como conto, momento em que revê históricos, mesclando presente, pretérito e futuro, algo inusitado em outros olhares. O real e o imaginário são notórios.
Contista maior, Coelho Neto, maranhense, que, naqueles tempos, demonstrara dons para ‘reinventar’ o que já existia, foi excelente. O menino abastado seria tão pobre quanto o que nada tinha, mas este tinha os pais e o amor, e aquele, de família rica, não tinha ‘mãe’, falecida não se sabe por que motivo, cujos fatos o contista deixou nas entrelinhas para dar ênfase.
Fenomenal cronista, além de Drummond, Lourenço Carlos Diaféria, paulistano, com traços de baiano, mineiro, nordestino arretado, cosmopolita dentro do Brasil, construindo e revendo causos do Bexiga e outros bairros emblemáticos de nossa maior metrópole, Sampa, deixou-nos Um gato na terra do tamborim, O Empinador de Estrelas, Para uma garota de quinze anos, entre outras.
O jovem do interior, nos idos de 1960, decidiu: “Vou morar em Sun Paulo, lugar que tein trabalho para home num morrer de fomi”, como disse um caboclo lá de Jacobina, BA, indo morar em SP. Foi, trabaiou (sic) e sofreu, mas voltou.
Fizeram-no um escravo. Nem candango, construindo Brasília, sofreu tanto!
(Sempre, dou um passeio, mas já estou de vorta.)
Ter é o pai desses verbos.
Ele tem sossego. Mendigos não têm comida em casa.
O problema é que cronistas outros estão omitindo o acento circunflexo diferencial do plural (eles têm), que o afasta do singular (ele tem). Não usam nada. O contexto serve?, mas é desleixo, criando-se o hábito do deixa-pra-lá.
Que liberdade esse redigir nos dá?
O policial detém o criminoso. Os policiais detêm os criminosos.
A Alfândega retém toda a mercadoria de origem duvidosa.
As Aduanas retêm produtos que não têm NF.
A corda fina sustém o peso de 100 quilos na varanda.
Cordas grossas, ao contrário, sustêm, apenas, o peso de 50 quilos.
Frases extraídas de obras com aval de órgãos oficiais (MEC, ABL, ABI etc.), que não são deste simplório comentarista, para o visitante analisar cada exemplo, lembrando que comumente artigos de muitos redatores descumprem essa acentuação gráfica ou misturam o alheio com o oficial; oficioso é que alguns usuários da língua escrita também se perdem.
“O vaso que contém essência longo tempo lhe conserva o aroma”, Coelho Neto. Embora com respeito ao autor, mudamos a forma verbal conteve, da frase original, para contém. A mudança não é usurpação ou plágio, apenas usada para dar mais relevância ao presente, que é acentuado graficamente.
Conter nasce do Latim continere, encerrar, incluir, ter em si. Em Português, conter é composto de ter, pelo uso do prefixo con.
“O rude inverno deteve o avanço do inimigo”, frase do dicionário Michaelis. Com o objetivo de aproximar o passado ao presente, façamos a troca do tempo verbal: ‘O rude inverno detém o avanço do inimigo’. E mais: ‘O rude Inverno detém o avanço do inimigo’; no viés deste escriba, porque os nomes das 4 estações são próprios (devem ser): Outono, Inverno, Primavera, Verão, grafias que dão maior justeza a cada nome. Por que usar Fusca (letra maiúscula) e inverno, minúscula?
A Historiografia retrata que o Inverno rigoroso deteve o avanço do inimigo, como aconteceu em Waterloo, e Napoleão Bonaparte perdeu a Guerra mesmo com 72.000 soldados. Detido, foi levado à Ilha de Santa Helena, onde faleceu cerca de seis anos depois (1821).
Deter vem do Latim detinere, fazer parte, não deixar ir por diante; sustar. Em Português simples, deter é composto de ter, com o uso do prefixo de.
Detém-se em isolamento social até passar a frase brava do coronavírus.
Frase marcante e poética: Nem se detém a analisar as palavras tolas de quem o chama de tabaréu.
“… relativo isolamento em que até hoje se mantém a mesma tribo”, de Gastão Cruls. O tempo está conforme o ora comentado, no presente do indicativo.
As chuvas se mantêm e provocam destruições. Apesar de pobre, mantém os filhos no internato.
Manter vem do Latim Vulgar manutenere (‘ter nas mãos’?), prover do que é necessário à subsistência; sustentar.
No popular, manter é composto de ter, precedido do elemento mórfico man.
“Retiveram-no ali até que se esclarecesse o caso”, de Francisco Fernandes, frase cujo tempo verbal no perfeito do indicativo (retiveram) e imperfeito do subjuntivo (esclarecesse) mudemos para o presente do indicativo e subjuntivo: Retêm-no ali até que se esclareça o caso, para evidenciar a acentuação gráfica.
Reter vem do Latim retinere, manter indevidamente na sua posse (o que não lhe pertence). O Poder retém-me os bens, alegando que têm origem duvidosa.
No veio popular, reter é composto de ter, pelo uso do prefixo re.
Deter é usado para pessoas, e reter, para objetos, s. m. j.
Se a Polícia detém um meliante, a Aduana retém mercadorias.
Nada o sustém entre nós, frase de nossa lavra. Suster vem do Latim sustinere, o mesmo que amparar, sustentar. “Braços hercúleos o sustinham”, do Michaelis.
Em Português maluco ou ilógico, o sem-pé nem-cabeça, se o podemos chamar, suster é composto de ter, ante o uso do elemento mórfico sus, presente em outros vocábulos: sustancial, o mesmo que substancial; sustar, do Latim substare, o ato de interromper ação ou serviço, entre outros.
Susta o processo. O cheque deve ser sustado.
Suster e sustar apenas se parecem por serem parônimos (?), cada um com sua pronúncia e semântica. Mesmo sob olhar hilariante, sustar ainda é confundido com assustar.
‘Cumpadi, vou assustar o cheque’ (sic).
Ficam o dito e o não-dito.