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“A notícia tinha vasado” (sic), frase de um redator ao narrar acontecimentos. Vasar ou vazar?

De início, para ‘dirimir’ dúvidas, o derivado segue a grafia do primitivo.

Vazar, e não vasar, vem de vazio, seguindo, praticamente, a mesma sinonímia de esvaziar. Em algum momento, pode mudar a conotação.

Os significados esvaziar, tornar vazio, fazer correr (líquido), despejar, entornar, furar, desaguar, e outros, estão no dicionário. Digamos que, popularmente, haja escapulir, escapar, divulgar, ficar conhecido, escoar-se, evacuar etc.

Há boa relação de sinônimos a ser vista, revista, estudada e analisada.

Para ficar clara a conceituação da grafia, obedecendo a essa norma, citam-se os exemplos a seguir.

De paralisia, forma-se paralisar. Por isso, paralisado, paralisação. Se um grupo sindical faz greve, ou o ato de parar sua atividade temporariamente, não deve, como já se deu, escrever em faixa PARALIZAÇÃO. Esse, e formas verbais como ‘paralizo, paralizamos’ etc., não existem; têm, apenas, a mesma pronúncia, o que não constitui base para a escrita.

De análise, analisar, e outros ‘irmãozinhos’: analisável, analisado, inanalisável, analiso, analisou, analisamos, analisador.

Aviso, avisar, avisado. De riso, risada, risadinha, risonho, risível, risota, e, da mesma família, sorriso. Precisar, precisão, precisamente, precisado, e outros, estão ligados a preciso.

Se há dificuldade de grafar vocábulos com S, o que dizer se se tratar de muitos com Z?

A regra continua simples e lógica, o que facilitaria a aprendizagem.

Se houver Z, essa consoante tradicional, que tem o mesmo valor fonológico do S entre vogais (isso confunde o iniciante?), continua a vigorar: cicatriz, cicatrizar, cicatrizado, cicatrização; raiz, enraizar, enraizado, enraizamento, enraizou; juízo, ajuizar, ajuizado, ajuizou (uma ação pública?), ajuizamento, ajuizamos, ajuizei, e todos os derivados que forem da mesma família.

Em tempos de outrora da chamada pseudo-ortografia, escreviam-se horrorozo, poderoza, Pedroza (sobrenome que fincou raízes em todo o Brasil), até se chegar ao ponto de haver bahiana, suissa, mas hoje, como deve ser, a regra é clara: horroroso, poderosa, pedrosa (ou Pedrosa, o sobrenome), baiana, suíça, e outros exemplos. Alguns defendem que o registro comercial não tem, obrigatoriamente, que seguir a norma gramatical, como o faz MAIZENA, embora seja influência do Inglês ‘maize’, e exista, também, ‘corn’, para designar ‘milho’. Nossa grafia é maisena. Já houve Cocada Bahiana, Balas Suissa.

Na formação de verbo, se não houver S ou Z, usa-se o sufixo específico com Z (IZAR), tão comum em Português quanto outras grafias conhecidas.

Assim, nacional, adjetivo, forma o verbo nacionalizar, que, por sua vez, deriva certa quantidade de vocábulos: nacionalizado, nacionalização, e formas verbais (nacionalizou, nacionalizamos).

Para um não-observador, o fato de ser formado de órgão o verbo organizar cria algum espanto? Mas é o padrão, como real exige realizar; civil, civilizar. Daí para a frente, realizar é o comandante: realizado, realizável, realização, irrealizável, realizadamente; civilizar da mesma forma: civilizado, civilização, incivilizável, civilizadamente etc.

Entre um dizer e outro, grafias com S que precisam de atenção, cujos motivos, entretanto, são outros, e a todo momento a Gramática Normativa os cita: leitoso (leite+oso); burguês, burguesia; Luís, Luisinho (grafias oficiais, assim como Manuel, Sousa etc.; as grafias Luiz e Luizinho são consuetudinárias, respeitando-se o registro de alguém com um desses nomes); montês, quis, quisesse, poetisa (mas ele poetiza seu texto), exegese, trombose, dona Rosita (de rosa, e assim róseo, rosado, Rosinha, o antropônimo, e rosinha), defesa, alusão.

Não estendamos esses exemplos.

Haveria razão para alguns não distinguirem a diferença de grafia entre hierarquizar e paralisar? Por que em uma palavra izar e em outra isar, com a mesma pronúncia? Um perguntaria, como já vi em sala de aula, “Por que não colocam tudo com ISAR ou IZAR, para ‘acabar’ com essa bagunça?”, teria dito um afoito.

A questão, também simples, correta e adequada, didaticamente divulgada, é que se precisa respeitar o étimo da palavra, e como nosso sofrido idioma tem vocábulos de origens diversas, do Árabe ao Grego, do Latim ao Germânico, do Inglês ao Francês, e até do Nipônico, fica difícil para uns aceitar esse argumento ou critério. Por outro lado, ficaria, de fato, ‘uma bagunça’, caso a Gramática Normativa não seguisse essa ‘respeitável’ regra, com todo o peso da Gramática Histórica.

Podemos intercalar, neste momento, que todo cuidado é pouco. O campo ortográfico em Português continua minado.

Note-se o fato de termos ‘extensão’, com X, e ‘estendido’, com S, se são da mesma família; semanticamente, têm o mesmo caminho. Eis o motivo (?) de um repórter ter escrito “Os fatos tinham-se extendido até  o conhecimento das autoridades” (sic), para que providências fossem tomadas. (Fatos sobre corrupção, com desvio de dinheiro público.)

Extensão (do Latim extensio, extensionis) e extenso, extensivo, extensível, extensor, extensivamente, mas estendido, estendeu, estendemos etc.

De bom alvitre repetir que nosso usadíssimo verbo estender, dono de uma bonita polissemia (cujo significado depende do contexto), vem do Latim extendere, cuja grandeza faz parte da família de extensão.

Isso poderá, ou poderia, confundir alguma cabecinha?

Nesse caso, o incipiente, o novato, o iniciante, o neófito, o principiante (como se queira dizer) deve fazer um caprichado estudo do uso de S e Z em Português. A relação de palavras com S e Z é extensa, mas o tempo, se a etimologia for esquecida, conduz o usuário ao bom domínio. A prática é salutar, e a consulta, fundamental. Muitos, entretanto, ou não têm o léxico como base de consulta, ou carregam ‘na cacunda’ (na cachola?) a preguiça de origem, e permanecem com o mesmo erro ou dúvida.

Não é motivo de debate agora, mas a Ortografia ‘pede’ muita atenção a palavras com CH e X, com Ç, SC, SS etc. Todos sabemos que confundem alhos com bugalhos entre exceção, que vem de exceptio, com a conotação do que se exclui, e excesso, que nasce de excessus, com a conotação do que se excede ou se afasta.

Perguntariam: “Por que palavras com Ç e outras com SS?” Haja vista, também, a celeuma entre cessão, sessão e seção (ou secção).

Vamos concluindo o comentário de hoje.

Algum homem iletrado, como já se pôde ouvir, diz que sempre trabalhou ‘resistado‘ (isto é, sua atividade laborativa sempre foi registrada, com Carteira de Trabalho assinada); mas algum cidadão letrado, mesmo por engano, como se pode ouvir, comenta ‘Uma andorinha só não faz verão’, e acrescentaria seus dizeres valiosos. Ora, se de início diz ‘uma andorinha’ para que serve ‘‘? O que desejaria dizer é que, para fazer verão, seriam necessárias várias andorinhas. Nesse contexto, ‘uma’ e ‘só’ dizem a mesma coisa. Talvez, não por culpa direta desse, mas em virtude de costumes: não se nota que o dito popular tem impropriedades linguísticas, que são a redundância. Basta ‘Uma andorinha não faz verão’. A defesa diria que o adjetivo ‘só’ serviria de ‘reforço’, como ênfase dada ao contexto; outro que ‘só’ equivale a ‘somente’. Ainda assim, fica a opinião oposta. é sozinha, única.

‘Mascarado’, neste momento crítico de pandemia, não é o que finge (fingidor, como diz Pessoa, o poeta luso Fernando Pessoa), mas aquele que está ‘protegido, que usa máscara para defesa mútua (dele e do vizinho). No Carnaval, mascarado tem intuito ‘brincalhão, hilariante’; no dia a dia, o mascarado (ilegal) é o dissimulador, disfarçado, falso, hipócrita. Senão isso, mas algo muito próximo.

Até mais, meu caro visitante.

 

João Carlos de Oliveira

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