Podemos, seguindo a norma culta gramatical, usar frase de sujeito indeterminado de várias maneiras.
Uma delas, a mais tradicional, é o uso da forma verbal seguida do pronome se, o índice de indeterminação do sujeito.
A forma verbal pode vir no presente, passado ou futuro, não importando o tempo. Porém, seria comum esse tipo de sujeito vir no presente do indicativo: Sabe-se que houve um acidente esta noite na BR-101 próximo à cidade de Teixeira de Freitas.
Também, é necessário dizer que não se pode confundir sujeito indeterminado com sujeito inexistente, este tipificado na oração sem sujeito. Se confundidos, a redação pode vir distorcida, prejudicando a semântica.
O sujeito indeterminado caracteriza a situação em que não se quer citar o autor de um ato ou não se sabe quem pratica a ação.
Em Precisa-se da construção de uma casa nova naquele morro, o sujeito é indeterminado pelo fato de não se saber quem vai praticar a ação de construir.
Em Assaltaram o BANCO SITUAÇÃO ontem na cidade, também, mesmo que se tenham os nomes de alguns meliantes, que não poderiam ser divulgados.
Nesse momento, não se sabe quem praticou a ação; se se sabe de alguém, não seria viável afirmar quem praticou o assalto; por isso, seria comum a imprensa dizer o suposto assaltante, evitando-se o embate jurídico pelo fato de normas judiciais, a não se cair em injúria ou crime similar.
O outro viés é que o sujeito indeterminado expresso pela construção frasal não seja confundido com o sujeito passivo sintético, ambos muito próximos pelo aspecto redacional, e tidos, popularmente, como do mesmo padrão. Mas não o são.
A frase de sujeito indeterminado Sabe-se que adentraram esta casa, razão de tanta desordem, não pode ser confundida com uma sem sujeito. Em Houve quem adentrasse esta casa, razão de tanta desordem, preceitua uma indeterminação do sujeito.
Se o redator quiser inovar, pode usar no lugar de ‘sabe-se que’ a expressão ‘é sabido que’, embora distante do contexto popular.
Comparemos: Sabe-se que alguém adentrou esta casa (…). É sabido que alguém adentrou esta casa, haja vista a desordem em que se encontra.
Não há diferenciação semântica: ambas têm o mesmo sentido, e a mensagem não fica prejudicada.
Apenas, a construção frasal se torna diferente, confirmando-se que o modo de se escrever ‘É sabido que’ não seria comum no dia a dia, mas é correta, de bom nível e simpática.
O sujeito inexistente é típico do momento em que não se tem a quem dar a ação, comumente com verbos intransitivos impessoais: Neva na Cordilheira dos Andes. Chove muito no sertão. Venta forte no Sudoeste da Bahia. Faz um calor de arrebentar. Há muita gente na rua.
O tipo de enunciado Vende-se esta casa é a redação comum de aviso de venda de imóvel, mas não se trata de sujeito indeterminado, como se costuma pensar e dizer, mesmo que não se saiba o nome do vendedor ou do proprietário. Pela regra da Gramática Normativa, temos um sujeito passivo sintético ‘esta casa’, isto é, Esta casa é vendida (Esta casa está à venda), cujo plural é Vendem-se estas casas.
Citemos outros exemplos: Vendem-se casas, forram-se botões, compram-se imóveis, alugam-se apartamentos, vendem-se máscaras etc., que nem sempre vêm escritas corretamente, mesmo corriqueiras.
Encontram-se pelas ruas de uma cidade as tradicionais Aluga-se apartamentos, vende-se flores, compra-se latinhas de alumínio, vende-se máscaras, cujo erro de concordância verbal não teria sido notado pelo redator ou autor do enunciado, além de um ou outro não aceitar a correção, considerando-a feia; e a correta é que seria a incorreta.
Alugam-se apartamentos (Os apartamentos são alugados), o plural correto, não soa bem para uns, seria horroroso e/ou inadequado, por isso, pouco usual. Há quem a leia e discorde. Já ouvi alguém dizer que ‘o dono do prédio’, que alugava os apartamentos, queria aparecer, por ser metido a intelectual.
A flexão no plural de todas as outras segue o modelo, e a análise é a mesma. Supõe-se, ainda, que a forma correta não seria costumeira por medo (de quem a usa) de estar incorreta.
E dessa dúvida, certamente, é que surgiria o dilema: Trata-se de (…) pode ir ao plural: Tratam-se de (…)?
Notícias de hoje que registram o número de mortes por Covid-19 têm usado ‘tratam-se de’ quando se referem ao plural, o que é, gramaticalmente, incorreto.
Se a frase seguisse o padrão gramatical, iríamos dizer Sabem-se que houve mortes na queda do edifício em cidade americana, e muitas de nossas frases de sujeito indeterminado (verbo no singular mais o pronome se) teriam o verbo no plural.
Basta este exemplo clássico para contrapor o errado e o certo: Precisa-se de empregada doméstica (tão conhecida em anúncios como pedir um cafezinho). Ninguém jamais usou ‘Precisam-se de empregadas domésticas’.
Precisa-se de empregada doméstica, que está no singular, pluraliza-se desta forma: Precisa-se de empregadas domésticas.
Nada mais.
Se mais comparação for feita, fica clara a diferença do tipo de sujeito entre estas frases: Alguém bateu palmas no portão (sujeito simples determinado: alguém); Bateram palmas no portão (sujeito indeterminado); Bate-se palma no portão (sujeito simples passivo: palma); Batem-se palmas no portão (sujeito simples passivo: palmas).
Esse comentário não foi o bastante?
Um visitante a este site, a quem externo agradecimentos, fez comentários sobre a frase ‘Bateu 7 horas‘. E pergunta sobre a concordância verbal.
Companheiro ‘Anthony’ (nome fictício), o verbo está na terceira-pessoa do singular porque concorda, de forma elíptica, com o sujeito ‘o relógio’ (deu 7 horas; marcou…) ou, em se tratando de outro contexto, ‘o sino’ (marcou 7 horas), sujeito simples.
A Gramática Normativa, como a do nosso competente Domingos Paschoal Cegalla, explica que ambas as concordâncias estão corretas: Deram 7 horas (sujeito simples: 7 horas); Deu 7 horas (sujeito simples: o relógio, ou o sino da matriz).
No seu relógio, compadre, já deram 7 horas? Sujeito: 7 horas.
Joãozinho, já deu 7 horas? (O garoto olha o relógio e responde: sim; porque o relógio marca 7 horas.) Sujeito simples: o relógio.
Obrigado.