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A expressão ‘De segunda a sexta’ poderia ter crase? E estas: Veio a óbito, morreu a tiros?

Nenhuma delas, respeitada a regra gramatical, pode vir craseada.

A primeira pelo fato de as duas palavras femininas (no singular) não estarem precedidas do respectivo artigo a, para haver a fusão a+a, formando a crase: à.

Comumente, encontra-se essa expressão em lojas indicando o horário de atendimento. Para que a crase seja obrigatória, será necessário o uso do artigo a: Da segunda à sexta-feira, atendemos sempre no horário das 8 às 19 horas.

Não importa se o nome da semana vem no singular ou no plural: Das segundas às sextas-feiras, atendemos sempre no horário das 8 às 19 horas.

O exemplo De segunda a sexta não pode ser craseado pela ausência do artigo a. De segunda à sexta é um engano, evidente no dia a dia, com a mesma semântica, mas não leva crase. Esse a, entre os dois nomes, é apenas uma preposição, que sozinha não leva crase.

A diferença entre De segunda a sexta (correta) e De segunda à sexta (incorreta) é sutil, talvez nem sempre percebida. Opção correta pouco usada: Da segunda à sexta-feira.

Se os nomes são masculinos, ficam assim as opções: De sábado a domingo, Do sábado ao domingo. Dos sábados aos domingos.

Analise estas: Do segundo ao sexto dia. Da segunda à quarta semana.

O fato de haver ou não o artigo precedendo o nome da semana tem relação com o estilo do redator, com a linguagem cotidiana, mas, qualquer que seja o modelo de redação, a significação da frase não muda.

Se o redator tem predileção por usar de segunda a sexta, ou da segunda à sexta, não nos cabe condenar; vem a ser a formalidade do seu linguajar ou do seu costume. Poderia ser questionado, por mera comparação gramatical, se o usuário está consciente quanto ao uso dos artigos definidos no singular ou no plural, como mostramos, embora nada altere quanto à significação da mensagem. Apenas, a questão da crase: não existe em uma; existe em outra.

Isso é que alguns, talvez, não tenham notado. Essas frases não estariam nas Gramáticas; a regra é que diz que a crase é a fusão da preposição a com os artigos ou pronomes a e as, e com os demonstrativos aquilo, aquela(s) e aquele(s).

As duas expressões seguintes (a óbito, a tiros) não levam crase por se tratarem de termos masculinos, que não podem estar precedidos de artigo definido feminino, evidentemente.

Em Venda a prazo, sem crase, por prazo ser palavra masculina, o a não é artigo, mas preposição.

Se o escrevente quiser usar Venda ao prazo, a frase não é errada. Estranha, talvez, por não ser comum, mas não incorreta. Para dar um pouco de boas-vindas a essa frase, poder-se-ia acrescentar uma qualificação ao gosto do redator: Venda ao prazo de 60 dias, e parcelas acrescidas de juros, em duas até seis vezes.

Um anúncio meio longo, mas correto, que esclarece muito sobre a questão de parcelamento em compras e deixa o cliente mais à vontade.

Não gostam de enunciados assim, mas usam outros, alguns tradicionais, muitos com erros de linguagem e outros que geram mais de uma interpretação, motivo até de Ações no Procon em virtude do Direito do Consumidor.

Essa historinha de ‘Parcelamos em até 24x no Cartão’ (ou similares que aparecem em lojas de vendas a crédito) tem gerado dúvidas. Basta que se diga Vendas com parcelas de 2 até 24x.

Fica a critério de o cliente aceitar se a loja tiver prazo tão elástico. Nada mais a discutir, se o negócio for bom para as partes (havendo segurança e respeito ao que determina a lei).

Inovaram os critérios de vendas a prazo, mas as frases nem sempre são suficientemente claras. Contêm muitos vícios de linguagem.

A frase Veio à óbito (com crase, que está incorreta) é muito comum em sites regionais no momento em que registram fatos de acidentes automobilísticos (ao que chamam de vítima fatal, que ao pé da letra seria aquela que causa a morte a si mesma; isso é ilógico; o acidente é que é fatal, por ter causado morte), ou quando noticiam crimes com mortes (Fulano foi atingido com tiros (ou facadas) e veio à óbito).

A regra gramatical que justifica o uso Veio a óbito (versão correta) é a mesma que explica Morreu à tiros (incorreta) e Morreu a tiros (correta), se comparamos as palavras masculinas e femininas.

Pode parecer estranho, como Venda ao prazo de 60 dias, mas poderia ser Veio ao óbito imediato; Veio ao óbito no local do acidente.

Para boa comparação, onde couber à, a crase, antes de palavra feminina, cabe ao, sem a crase, antes de palavra masculina, e vice-versa.

Manuel foi à festa. Pedro foi ao clube.

Os macetes, como nos ensinam muitas gramáticas, para se evitarem as dúvidas, são muitos, e podemos citar: em algumas frases em que cabe a crase, para comprovar, troquemos por da, na, para a. Cabendo estas, comprova-se que cabe à ou às.

Vou à cidade Morro Santo. Venho da cidade Morro Santo. Resido na cidade Morro Santo. Vou para a cidade Morro Santo.

Nomes de cidades ou estados, também, têm gerado dúvida se exigem ou não a crase. Seria fácil isto: usar o critério que comprove se o nome aceita o artigo feminino (singular ou plural). Se aceitar, cabe a crase; se não, a crase inexiste.

Nanuque, Teixeira de Freitas, Salvador, Belo Horizonte, Ouro Preto.

O teste: Moro em Nanuque, venho de Nanuque, vou para Nanuque. Nenhuma aceita o artigo, portanto, Vou a Nanuque. Mas se houver uma qualificação histórica ou geográfica, a crase já passa a ser correta: Vou à Nanuque da Pedra do Bueno. Vou à Nanuque do Boi Gordo. Vou à Nanuque dos meus sonhos (qualificação pessoal).

Assim, outros nomes de cidades: Vou à Salvador do Pelourinho. Vou à Salvador de Mãe Menininha do Gantois. Vou à Belo Horizonte dos Anos Históricos de Curral Del-Rey. Vou à Ouro Pretos dos Inconfidentes.

Dizem que se pode usar crase se ficar subentendida a palavra cidade em alguns casos: Vou à São Paulo amanhã, mas isso não fica muito claro. A frase Vou à São Paulo do Anhangabaú é melhor e mais clara.

Nomes femininos de estados seguem o critério: Bahia, que aceita o artigo a. Vou à Bahia (Venho da Bahia). Já Santa Catarina, mesmo feminino, não aceita o artigo a. Vou a Santa Catarina (Venho de Santa Catarina). Se for acrescentada uma qualificação, a crase fica de bom tamanho: Vou à Santa Catarina da Ponte Hercílio Luz. Como um nome no plural: Vou às Minas Gerais das Pedras Preciosas.

Se o nome é masculino, assim como se usa à e às, passa-se a usar ao e aos: Vou ao Maranhão de Gonçalves Dias. Vou ao Tocantins do Jalapão. Vamos ao Sergipe do Cânion do Xingó.

Obrigado.

 

 

 

João Carlos de Oliveira

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