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‘Para bom entendedor, meia palavra basta’, diz o dito popular. Será verdade?

Nem sempre o que escrevemos fica claro, a depender do nível cultural ou intelectual de cada um.

Se pouco falamos, podem dizer que faltou esclarecimento, mais amplitude ao debater o assunto.

Um exemplo é do professor lacônico, que explica um assunto em pouquíssimas palavras, e fica assim. Se o aluno entender, bem; se não entender, amém. Normalmente, o alunado não gosta do professor que age assim, e chega a ser entendido como limitado.

Se muito se diz, alguém questiona por que tanto se escreve para tão diminuto assunto.

O normal seria dizer que nem sempre se satisfaz a vontade do outro, e algo ficaria em aberto, no meio do caminho, faltando dizeres ou dados esclarecedores.

Juridicamente, como seria hábito de alguns magistrados, melhor fica o texto ‘redundante’, na tentativa de não deixar ‘lacuna’, que o texto muito sucinto, com tão poucas palavras, que o assunto, polêmico ou de difícil entendimento, não foi o suficiente explicitado para que o outro lado não tenha dúvidas.

Em audiência, com magistrado federal, em cidade baiana, representando um cliente que teria feito documento sobre a Previdência Social Pública, a pedido de uma pessoa que precisava de declaração para se sindicalizar em setor rural (os termos foram dela), o Meritíssimo, depois de uma hora de debates, chegou à conclusão de que o intimado não teve a intenção de ‘ofender’ o órgão federativo, e prolatou sentença em cerca de duas páginas, isentando o representado do mérito, deixando em aberto que a autora do documento seria ouvida mais uma vez.

O parágrafo ora escrito, em um só período, ficou longo? Como pode ser entendido?

Lendo as palavras do texto acima, alguém poderia dizer ‘que esse trecho deveria ser menor’, que ficou redundante.

O texto do magistrado, em duas páginas, repetindo palavras, mas em bom Português, ora jurídico, ora culto, ora popular, referente ao intimado, sustentou que ‘ele não criou o documento’, que foi sua cliente que o teria dito. De fato, ele escreveu o que ela pediu, e até foi advertida, mas assim o queria para ‘ficar bem representada’ em seu Sindicato Rural, para ser aceita sua pretensão.

Nesse momento, o juiz se posiciona: “Doutor, ficou claro o que foi escrito?” (sic), e este causídico, para acostar as palavras do Julgador, e o bom é que seu cliente foi isentado de qualquer responsabilidade, respondeu: “Sim, mas houve ligeira redundância”, ao que completou sorrindo: “Melhor assim, que ficar alguma dúvida.”

No dia, veio aquela vírgula à cachola se de fato o texto da sentença estaria adequado. Hoje, chega à conclusão de que vale repetir palavras, criando certa redundância, para que se evite nova interpretação do que já tenha sido esclarecido.

Assim, podemos contrapor o sucinto com o redundante, que aquele nem sempre é melhor que este, e que este nem sempre deve sofrer as agruras ou condenações que os sabidos jogam em seu pedestal.

O dicionário diz que redundância é qualidade de redundante; e este é o ‘que contém mais palavras do que é necessário’.

A redundância, pois, seria um pleonasmo, e o redundante, então, o pleonástico ou supérfluo.

No fundo, cada coisinha tem seu tamanho, e isso ou aquilo vai depender de cada situação.

Por outro lado, o dia-a-dia nos diz que ‘texto sucinto’ é aquele que, em poucas palavras, diz tudo que seria necessário.

E agora, o título de hoje tem sentido?

‘Para quem sabe ler, pingo é letra’? Mas há um pingo que não diz nada; é apenas borrão, garatuja que seria entendida somente por quem a criou.

O que vale mais? Mil palavras ou uma imagem? Dizem que ‘uma imagem vale mais que mil palavras’, mas se pode preferir o esclarecimento contido em ‘mil palavras’.

Não foi o caso de o texto do magistrado ter sido longo e com trechos repetidos, mas o fato de não ter sido escrito em ‘pingos’ que somente alguns ‘poderiam ler’.

De repente, a linguagem nos prega uma peça ou nos põe contra a parede.

Dinheiro ‘éxtra’ (adjetivo com som aberto) ou Dinheiro ‘êxtra’ (agora com som fechado)? É uma pronúncia regionalista ou a forma individual de alguém pronunciar um termo? Seria erro de ortoepia?

Ortoepia ou ortoépia?

A linguagem diversificada é plural, para que não haja a mesmice. Não seria chato todos falarem do mesmo jeito? Se todas as pessoas usassem o mesmo tipo de roupa? Se todas as pessoas estivessem usando, desde os tempos remotos, o mesmo tipo de roupa não seria o mundo ‘monocromático’? Por que o arco-íris é tão bonito? Por que o pluralismo entre as pessoas é tão festejado? O hodierno é melhor que o antigo?

Quem venham a redundância, a linguagem imprópria, o cacófato, a hipérbole, o pleonasmo vicioso e tudo o mais que a Gramática Normativa condene, classificado como vício de linguagem, porque é assim que os falares se consumam.

O bom é a linguagem mista, ampla, variada, com erros e acertos, para que seja estudada e entendida, excetuando-se o fato de ferir de propósito, em que se usa a linguagem discriminatória ou pejorativa.

A redundância é tão boa quanto um toco no meio do caminho em que se deu uma topada, e foi embora parte da unha do dedão do pé, pois na próxima viagem o transeunte vai ter mais cuidado ou vai passar por outro caminho, e neste vai encontrar a poesia ou uma rosa rubra, a mais linda que já tenha visto.

Que venha o cacófato “Odeio o texto cheio de rodeio”, que belo esse som ‘eio’, repetido em frase de apenas seis vocábulos. O cara voltou de lá enfadado, cansado, estressado, tão chato estava o rodeio tão cheio de não-sei-lá-o-quê, mas o certo é que não gostou de nada. E disse: Eu odeio este rodeio tão cheio de mesmos animais e os mesmos capatazes.

Que cacofonia estupenda, a prenda de quem fala sem saber o que de seu cérebro exala.

As oitavas-de-final, e não as oitavas-de-finais, pois se trata de uma rodada que tem tão-somente oito partidas antes da final, a decisiva. As quartas-de-final, e não as quartas-de-finais, porque é apenas uma rodada de quatro partidas antes da final.

Seu Pedro, meu pai me mandou lhe perguntar ao senhor se o senhor vai viajar ou não vai viajar.

O Governo ficou em dúvida se vai ou não vai baixar a nova PEC para fazer caírem os juros altos.

Diferenciar ‘negligência de imprudência’ requer bom número de palavras, até se chegar à imperícia, assuntos que não são tão fáceis de serem entendidos nos compêndios jurídicos, a não ser quando o advogado se torna mais experiente.

O som ‘não são tão’ é natural?

Peculato e estelionato; concussão e prevaricação, crimes cometidos no cotidiano. Cada um tem sua nuance… Defini-los faz com que algum termo se repita.

Para o bom entendedor nem sempre meia palavra basta.

João Carlos de Oliveira

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