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Alice ou Alicy? Analice ou Analicy? Clarice ou Claricy? Como se pode grafar um nome próprio?

O tema de hoje é o questionamento: O nome faz a pessoa?

Há variantes gráficas, e mesmo assim continua a deferência ao nome de uma pessoa.

Todo nome deve ser considerado em respeito a pessoa, a sua liberdade de escolha e a seus direitos.

O nome Maria Senhorinha é tão importante quanto um famoso. Nessa escolha, vemos a simplicidade e os costumes, e vale em cada caso o mesmo respeito a alguém simples como ao de renome. A novidade moderna ou o modelo antigo, isso não importa. O destaque se fundamenta no Direito, e assim devemos considerar a grafia, mesmo que não siga parâmetros gramaticais ou o critério do idioma de origem do nome. A ‘nova’ grafia poderia dificultar, mas insinua que cada um ‘grafa’ o nome como quiser, excetuada a aberração.

O nome tem seu aspecto gráfico, fonológico, semântico e histórico para justificar o porquê do uso. As tradições de uma nação, a tendência da região e tópicos entram no detalhe da escolha do nome de pessoa, que sabemos serem diferentes em cada idioma.

As alterações excessivas podem prejudicar, e isso costuma gerar debates, mas se o nome é negativo, por algum motivo, pode ser trocado, mesmo com a burocracia legalizada. Não se trata exatamente da questão de gênero, que também é direito, que tanto se debate no hodierno. O nome de pessoa ‘é uma estampa para a vida inteira da pessoa’? Cada cidadão alega um motivo, que deve ser considerado.

Famoso rei persa se chamou Artaxerxes, com o provável significado de Aquele que tem arte, cuja história envolveu momentos bíblicos.  Atlas é espécie de mapa, mas pode ser nome próprio, significando Aquele que suporta com paciência e coragem. Mesmo bonito, profundo até, mas a grafia seria atraente? De tanto ter-se dito ‘Pegue o atlas de Geografia para vermos países do Mundo’, não seria nome em voga.

Nosso ilustre Miguel Arrais, o grande pernambucano, ficou na História Política do Brasil. O nome ‘arrais’ de onde vem? De origem árabe, no singular ou plural, arrais é aquele que dirige uma embarcação pequena.

A escolha de um nome tem seu motivo, e esse seria grandioso para cada um, com sua justificativa. A família pernambucana tem, e deixou, sua marca histórica, mas não seria comum a escolha sem mais nem menos de algum menino por aí ser chamado, digamos, João Arrais da Silva Monteiro.

São milhares, ou milhões, de nomes, e não seria possível o comentário de cada um. A citação aqui desses exemplos serve, tão-somente, para chamar a atenção do fato da escolha de um nome de pessoa, para aguçar a curiosidade e gerar debate, que deve ser respeitoso e útil.

Também, podemos observar a forma de grafarem alguns nomes, em geral, femininos: Daniela, Daniele, Daniella, Danielle, Danieli, Daniely, Danielli, Danielly etc. Por isso, podemos comparar Iraci, que seria do Português Brasileiro, com Iracy, imitando nomes em outros idiomas, grafia charmosa e imponente?

Nomes terminados em -ce e -cy são muitos; alguns são citados aqui, após uma consulta no Vocabulário Onomástico (antropônimos e topônimos).

Nomes compostos são bonitos: Antônio Alberto, Manuel Gustavo, Antônio Manuel, Pedro Henrique, e lá são vão milhares deles.

Não nos esqueçamos de Josefa, que é da família de José e Joseph, como de Josefina e Josephine.

Beatriz ou Beatrice? O poema épico A Divina Comédia, do grande poeta italiano Dante Alighieri, cujo texto tem essa personagem, registra Beatrice.

Em nossos linguajares, qual forma seria comum: Beatriz, Beatrice ou Beatricy?

Como a senhora se chama? Eu me chamo Dona Rosa, ela diz. Sim, uma senhora conhecida por esse nome, maneira popular e carinhosa de ser tratada, mas pode chamar-se Maria Rosa dos Santos de Jesus ou Rosa Maria de Jesus dos Santos, homenagem à família cristã. Maria Rosa das Mercês, como Mercedes Campos de Oliveira, nomes femininos que circulam em todo o País, Nação que se chama A República Federativa do Brasil, ou Brasil, mas foi Pindorama, a Terra das Palmeiras.

O nome de pessoa se destaca pela grafia, pronúncia ou significado? Há resposta para todos esses itens, mas o que chama a atenção de início é a grafia. E como se fala? E o que significa? (O nome da pessoa citado em voz alta na fila deve ser, apenas, uma vez. Se alguém questionar que seria diferente, justifique que um nome pode ter pronúncia diversa.) E peça a ela que o repita; diga que foi assim a forma falada.

Araci ou Aracy? (A propósito, a Bahia tem a bela cidade Araci, no Norte do Estado, cujo nome deve ser homenagem a uma senhora assim chamada, que teve e deixou laços históricos na região. A semiologia explica que ‘araci’, vocábulo tupi, significa aurora.)

Berenice ou Berenicy? Camuci ou Camucy? José de Alencar criou as personagens Ceci e Peri, eternos namorados. Hoje, Ceci ou Cecy?

Clarice ou Claricy? Idaci ou Idacy? Doraci ou Doracy? Docaci ou Docacy? Nanci ou Nancy?

Há ainda o fato prosódico curioso: se o nome termina em -ce, tende a ser vocábulo paroxítona: lenice, mas se termina em -cy, para uns, seria oxítona: Ienicy. Esse registro não é Lenice, mas Ienice (o i maiúsculo).

Jaci ou Jacy? Juraci ou Juracy? Ceuci ou Ceucy? Cleonice ou Cleonicy? Darci ou Darcy? (este usado tanto para o feminino como para o masculino, caso de Juraci e Juracy).

Arci ou Arcy? Eunice, Eunícia ou Eunicy?

Gildeci ou Gildecy? Iaci ou Iacy? Ibiaci ou Ibiacy? Ibiraci ou Ibiracy? Leci ou Lecy? (variante de Letícia). Valdeci ou Valdecy?

Não é o nome que faz a pessoa; a pessoa, com sua índole, que faz o nome. Duas pessoas podem ter nome igual, mas uma certamente tem comportamento diferente, que faz a diferença, vindo a ser famoso.

Quem, hoje, é registrado com o nome Erasmo? O que significa? Como o nome é visto? Vindo do Grego Erasmios, tem o significado de digno de amor, amável, definição ótima, mas o nome não seria tão usado nos dias de hoje. Já leu a obra Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã?

Publiquei, há alguns dias, minha 11ª obra, Crônicas do vovô, com vinte textos, que já está em segunda edição; entre elas, Nome de uma pessoa (Travessura de criança, Açúcar amargo, Alegria da criançada, Burrinho Mimoso, Seu Otávio e meu pai, Mentira, Felicidade, Amor, Rio e mar, Animais, Trabalho, Cheia do rio, Mariposa, Paz, Ser humano, Santa Catarina (a mula madrinha), Vida, Escola e Dever).

Essa crônica retrata o tema: não importa a grafia nem o significado do nome; devemos, simplesmente, respeitá-lo. (A obra pode ser adquirida na Livraria Asabeça, SP, em compra física ou digital.)

Abraços.

 

João Carlos de Oliveira

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