Note que a primeira grafia registra o prefixo (anti) e o substantivo (suicídio) de forma paralela sem o uso do hífen.
A segunda, os dois termos separados pelo hífen, modelo que segue a regra antes da Reforma Ortográfica, da mesma forma que se registrou ‘anti-social, anti-semita, anti-séptico’ etc.
A terceira, que altera a pronúncia do -s em suicídio, grafia que nunca existiu, é estranha; mesmo assim, com toda a informação dos tempos atuais, ainda é usada, como artigo recente, dissecando o suicídio, o fez.
Nesse caso, se correta, também, seriam corretas as grafias antisocial, antisemita, antiséptico, em que não há o hífen, e o -s de cada termo passa a ter, fonologicamente, a pronúncia de -z, já que está entre duas vogais. Se a grafia ‘antisocial’ pudesse ser justificada, teríamos o -s com a mesma pronúncia em mesa, casa, vaso, piso, o que, talvez, alguns não notariam.
Para evitar isso, é que a Gramática Normativa criou a regra do uso do hífen entre dois termos, anti-social, forma antiga. Por isso, antisuicídio é grafia aberrante; no mínimo, anti-suicídio. Hoje, porém, a norma pede, e exige, que o -s seja dobrado: antissuicídio.
Assim, todos os vocábulos com prefixos terminados em vogal seguida de -s.
Faça sua relação, mas citamos alguns exemplos bem conhecidos: antessala, antissepsia, antissemitismo, antissocial (este difusamente usado).
Se houver o -r, este é dobrado: antirrábico.
Esse critério é usado em outros vocábulos, mesmo que o prefixo, ou outro radical, seja diferente, embora terminado em vogal. A relação não é pequena, e alguns exemplos servem de amostragem.
Autossugestão, autossugestivo, contrassenso, extrassensorial, infrassom, psicossocial, psicossomático. A pronúncia de novo vocábulo segue o mesmo critério de outros, etimologicamente, escritos com dois -ss: asseio, assíduo, depressão, massa, sucessão.
Não há como errar a grafia nem a pronúncia, desde que o usuário siga a lei gramatical.
Imagine que o redator queira usar uma palavra nova, que não teria encontrado no dicionário, mas contém um radical terminado em vogal e o termo seguinte possui um -s.
Quer um exemplo?
Micro (que termina em vogal).
Segundo (que começa com -s).
Junte os dois termos, mas não pode grafar ‘micro segundo, micro-segundo ou microsegundo’.
A regra diz que a pronúncia do -s deve ser preservada, por isso, a grafia é microssegundo. É obrigatória.
Compare microssegundo com antissuicídio, e relembre antissocial, antirrábico, antissemita, antissensitivo, contrarregra.
Outras grafias: minissaia, minissérie, antirrombo, antissurto, antirracial, anterrepublicano (antes de haver a República), antirrepublicano (aquele que é contra a República, e adepto de outra forma de governo, como a Monarquia ou a Ditadura).
Assim, vamos grafando esses termos.
Se o vocábulo não possuir -s ou -r, a grafia é comum: antifurto, antiderrapante, seminovo (nunca semi novo nem semi-novo), semiamador, semiárido, seminu, semiótica, mas cuidado: semirreta, ultrarrico (e este um termo que, talvez, não esteja no dicionário físico nem seja tão comum o seu uso), mas a informação digital traz esse e outros exemplos.
Ultrarriqueza, ultrassugestão, autossensitivo.
A Medicina tornou populares as grafias ultrassom, ultrassonografia, ultrassondagem, que já foram muito maltratadas; talvez, ainda haja ‘ultra-som’. Observe que se pode encontrar o registro ultra-sonografia, mas seria raro, e não está correto.
Fique de olho: ultrarrealsita, suprarrenal, suprassumo, supra-axilar, subsolo, subaquático, subalugar, subarbusto. Sublinhar, sublinhado, mas pronuncie separado: sub-li-nhar, sub-li-nha-do, e não ‘su-bli-nhar, su-bli-nha-do’.
Outro destaque fica para palavra começada por -h, como herói, horário, honra.
Não importa o tipo de prefixo, terminado ou não em vogal, ou que termine em outro fonema. Nesse caso, o uso do hífen é obrigatório, regra que tem aspecto antigo e moderno.
Anti-herói, anti-humano, anti-higiênico. Super-herói, super-homem, sobre-humano, sub-humano.
Um lembrete é necessário: se o prefixo tiver o mesmo fonema que começa o termo principal, o uso do hífen, também, é obrigatório. No popular, dizemos que há ‘duas vogais iguais’: micro-ondas, anti-inflamatório, ante-escrita.
Sendo vogais diferentes, não deixe espaço nem use o hífen. Passa a haver prefixação sem hífen, como estes casos: semiaridez, anteontem, antiarte, antiarmistício.
Essa regra é a mesma para o caso de haver fonemas diferentes: o prefixo termina em vogal e o termo principal começa por uma consoante que não seja h, r ou s: antiderrapante, contraveneno, contradireção, contrapeso, contramão.
No artigo anterior, comentei o uso de beneficente (correto) e de beneficiente (incorreto).
Derivados prefixais terminados em -ente podem oferecer dúvida quanto à grafia, razão de lembrarmos a forma correta de alguns: autossuficiente (daí, autossuficiência), imunossuficiente (daí, imunossuficiência), hipossuficiente (daí, hipossuficiência).
Mais um pouco: supersensível, subrogar, subreptício, subreino (pronúncia: sub-rei-no), supersônico, superego, super-rápido, infra-assinado, infravermelho, infracitado, infraestrutura.
‘Abaixo assinado’ é uma expressão que implica dizer ‘assinado abaixo’, e ‘abaixo-assinado’, o documento, assinado por muitos, que faz uma reivindicação. Há essa diferença. Podemos grafar ‘o abaixo assinado’ e ‘o abaixo-assinado’, cada um com seu significado.
Para terminar, cito que costumo consultar a história de muitas cidades; visito muito o histórico de cidades baianas, mineiras, capixabas, nordestinas, mas as de todo o Brasil me encantam com os dados municipais.
Visitando a vida de Souto Soares, na Bahia, com o encantamento de sua história, fiquei mais rico de informações. No entanto, encontrei o lapso de ortografia no gentílico do Município: soutosoarense. Peço desculpas a todos os munícipes da cidade pela citação.
Se consultado um professor de Língua Portuguesa, ele deve concordar com este lembrete: a grafia pode ser ‘souto-soarense’, com hífen, padrão muito comum nesses registros; sob a tutela ortográfica atual, ‘soutossoarense’, sem hífen, em que a dobra do -s de soarense, já que há a vogal -o de Souto antes de Soares, intercalada, é obrigatória na Fonologia moderna.
O lapso: soutosoarense, em que o -s ‘teria’ som de -z, mas se trata do -s sibilante.
Primeira opção: souto-soarense, tanto a moderna como a ortografia antes da Reforma.
Segunda opção: soutossoarense, acatando a norma gramatical regente.
Fico honrado se for entendido por todos os munícipes da bela Souto Soares, seus habitantes de todos os níveis intelectuais.
Abraços a todos.
Obrigado.