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‘Entregamos em todo Brasil’, diz o texto propagandístico. Que ‘Brasil’ é esse? Certamente, o texto quer dizer o nosso País, mas, gramaticalmente, deixa uma lacuna

Para ficar claro que é o nosso País, certamente, a norma rege que se diga ‘Entregamos em todo o Brasil’.

O lapso gramatical é patente: ‘em todo país’ significa ‘qualquer país’. Nesse caso, como o Brasil é um país, ‘em todo Brasil’ significa, pois, outro lugar que não é o nosso, chamado (também) Brasil.

Se tratamos de nosso país, devemos usar ‘o Brasil’, com o artigo definido claro: O Brasil, a maior nação do Mundo em aspectos culturais, musicais, místicos, poéticos, revolucionários, legais, econômicos etc., além de ser o maior celeiro do Mundo.

Um dia, todo esse valor vai ser reconhecido mundialmente, e algum órgão internacional, como a ONU, vai dar o aval: mostrar ao Universo o troféu que consagra o Brasil como o país mais diversificado em todo o Mundo, mesmo que haja a China, a Índia, a Indonésia, o Canadá, a Rússia e os EUA.

O pronome indefinido ‘todo’, e sua flexão feminina (toda), possui ‘dois’ usos específicos: sem o artigo definido, tem uma conotação, o sentido generalizado de ‘qualquer’: em todo lugar, em toda parte, como se queremos dizer ‘qualquer um’; com o artigo definido, referimo-nos a um lugar especifico, inteiramente, abrangendo-o de Norte a Sul, de Leste a Oeste.

Encontramos pessoas de bens em todo município. Todo município tem pessoas honestas.

Toda família tem seus problemas familiares e de relacionamento.

Todo Estado tem boas faculdades. Todo Estado tem sua capital.

Todo país tem seu aspecto cultural diferente dos demais.

Toda nação tem sua bandeira própria, que valoriza sua origem e seus bens culturais.

Fica claro que cada frase não se refere a um determinado lugar, país, nação, escola, faculdade etc.

Quando precisamos fazer referência única, específica a determinado lugar, a um país, a uma nação, a um estado brasileiro, devemos usar o artigo definido (masculino ou feminino, conforme o gênero da palavra a que damos o destaque), depois desse indefinido, para deixar clara essa abrangência.

Em toda a Bahia, encontramos grandes poetas, escritores, músicos etc. Todo o Estado da Bahia tem grandes artistas, desde músicos a escritores.

Em todo o Brasil, há Sol forte, boa comida, boa gente e sua história notável, em que cada município é um pedaço ‘da colcha de retalhos’ que conta a nossa história.

Dessa mesma forma, usamos ‘todos’ e ‘todas’ (no plural), que devem vir precedidos do respectivo artigo definido: Todos os homens têm seus valores. Todas as nações têm sua Historiografia, que deve ser valorizada e respeitada pelas outras pátrias. Todas as pessoas, até a prova em contrário, são inocentes.

Não fica clara, nem bonita, nem poética, a frase em que o artigo deixa de ser usado se empregamos os pronomes indefinidos ‘todos’ e ‘todas’ seguidos de substantivo.

Imagine estas redações: Todos pássaros são coloridos. Todas cidades têm praças bonitas.

(Nem todos os pássaros são coloridos, e pode haver cidades cujas praças não seriam tão formosas.)

Podemos entender as mensagens, mas falta algo claro: o devido artigo definido, no plural.

Melhor assim: Todos os pássaros coloridos são bonitos. Nem todos os pássaros são coloridos. Todos os pássaros possuem um canto específico.

Todas as cidades devem ter suas praças, que devem ser bem cuidadas, para se tornarem bonitas.

Todas as cidades têm suas avenidas principais, ou famosas, e ainda as mais transitadas, turbinando o progresso citadino.

Para que, então, a frase do cabeçalho fique mais clara, já que temos um país único chamado Brasil, assim como há um país único chamado Austrália, em Português, esse nome próprio deve estar precedido do artigo definido específico, depois do pronome indefinido todo ou toda: Entregamos ‘as mercadorias’ em todo o Brasil. Em toda a Nação brasileira, encontramos práticos típicos, assim como a Bahia tem o vatapá e a maniçoba.

Toda a Austrália tem sua gente própria, com sua origem e história, como possui os marsupiais famosos, os cangurus, robustos e destemidos.

As observações feitas aqui são práticas, e o bom-senso normatiza o uso, sem precisarmos recorrer à Gramática Normativa.

Tome as expressões ‘todo parque’, ‘todo o parque’ e ‘todos os parques’, e construa frases, com e sem o uso de artigo definido, além do plural.

Todo parque possui árvores.

Todo o parque possui muitos ipês (estamo-nos referindo a determinado parque que tem esse tipo de árvore).

Todo o Parque Municipal de Belo Horizonte é bonito e bem cuidado, com um lago no centro, uma escola municipal, outras benfeitorias importantes, e o Palácio das Artes, que se trata do Teatro Municipal, na parte central da avenida Afonso Pena, como destaque histórico.

Todos os parques existentes no Brasil são de suma importância para a História do Município, como o Parque Estadual das Sete Passagens, em Miguel Calmon, na Bahia.

Tome a palavra cidade, e construa frases com ‘toda cidade’, ‘toca a cidade’ e ‘todas as cidades’, de modo que justifique as diferenças semânticas de cada construção e modo de usar ‘todo, toda, todo o, toda a, todos os, todas as’.

O que diferencia, e se torna evidente, é o estilo do redator, pormenorizando a cidade, ou o lugar, a que se refere.

Pare um pouco e respire. Construa suas expressões.

Agora, depois que você redigiu suas frases notórias e específicas, deixo as minhas abaixo, tendo escolhido duas cidades como ‘monumentos’ regionais.

Toda cidade tem um prefeito, que é o guardião dos bens públicos e do progresso, para que o povo se sinta feliz e respeitado.

Toda a cidade de Jacobina, na Bahia, é cercada de serras, destacando-se a Serra do Cruzeiro, com sua escadaria de 365 degraus, na saída da BR 324, sentido Capim Grosso.

Todas as cidades do Brasil são valiosas, na medida da grandeza que elas representam na sua região.

‘Todo município tem o governo que merece’, para confirmar a ironia popular quando o chefe do executivo municipal não dá conta do recado, conforme o figurino lógico e ético. (‘Município’ representa uma cidade.)

Toda a cidade de Itaberaba, na Bahia, tem sua vida voltada ao cultivo do abacaxi, produto agrícola que se destaca na região.

Todas as cidades têm dificuldades financeiras, mas a Política da Responsabilidade Fiscal deve deixar o Erário Municipal pronto para receber o novo chefe, sem prejuízo para os cofres públicos e os munícipes.

O artigo de hoje não foi lá aquele primor, mas serve de introdução ao uso de todo, toda, todo o, toda a, todos os, todas as.

Torço que tenha compreendido um pouco e que suas frases sejam de fato bem claras e bem redigidas. Parabéns.

Um abraço.

 

 

João Carlos de Oliveira

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