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Como tirar o professor da escola que não se encontra mais lá? Como tirar da escola o professor que não se encontra mais lá? Como tirar da escola o professor se ele não se encontra mais lá?

Todo enunciado precisa ser claro, com a indicação direta do que seu conteúdo significa. Nem sempre isso acontece.

As frases cotidianas com linguagem ‘atravessada’ são muitas.

O enunciado ‘O menino comeu o doce e seu irmão também’ é exemplo clássico.

Que o menino comeu o doce, isso é certo, mas a segunda parte deixa enorme lacuna, mesmo que a gente tente ultrapassar o que é ‘comer’. A duplicidade de sentido pode aparecer.

Certo é que seu irmão, também, comeu um doce, mas a maldade vem à tona.

Por tudo isso, a frase é ambígua, defeituosa, ou ridícula, e todo esse tipo de frase deve ser evitado, mas na pressa, no momento da emoção, fica registrada, dando margem ao analista de criticar a redação ruim.

A esse modo de escrever, que constitui uma má-redação, a Gramática Normativa chama anfibologia, ou ambiguidade, a frase ambígua, com mais de uma versão do que se entende de seu conteúdo.

Uma simples vírgula pode corrigir o defeito: O menino comeu o doce, e seu irmão também.

O menino comeu o doce, como seu irmão também comeu um.

A vírgula, ou a conjunção introduzida entre uma parte e outra da frase, decepa a dúvida, e a frase fica boa. Razoável.

Todos sabemos que os vocábulos têm dois sentidos, o normal, contido normalmente no dicionário, e o figurado, que o redator inventa para dar um toque especial à sua mensagem.

Essa parte vem a ser chamada denotação, a normalidade do sentido da palavra, ou conotação, o que se cria, o que o poeta, um inventor, imagina para o seu dizer, podendo deixar o leitor em dúvida. O ruim é quando o leitor encontra a duplicidade de sentido.

Frase denotativa, normal, comum. Vamos passear na praça pública.

Frase conotativa, figurada, inventada. O poeta passeia no Horizonte. O jovem viaja na maionese.

O leitor pode abrir o leque do motivo de a expressão ser duvidosa, com mais de um sentido.

O gramático é que lhe deu esse nome: anfi, anf, do Grego, quer dizer ‘de dois modos, de duas maneiras, de ambos os lados’, daí a existência do termo anfibologia, como se houvesse duas vidas.

Como há o sinônimo, a anfibologia é chamada, também, ambiguidade, pois ambi equivale a dois, ao que é duplo.

Por isso, o sapo é anfíbio, ou tem duas vidas: na água e fora dela.

Por isso, um produto pode ser ambivalente, tem duas valias, serve para isso e para aquilo.

No popular, temos uma incongruência, uma redundância, de modo que o duplo sentido é evidente.

Podemos criar uma anfibologia de propósito para deixar nosso opositor em dúvida, como se fosse um engana-bode, e o cara não sabe que caminho seguir.

Na encruzilhada, se não conhecemos o caminho, não sabemos que lado seguir.

No final da vereda, deixamos duas marcas, uma para a direita, outra para a esquerda. E o nosso perseguidor fica em dúvida qual delas seguir. Enquanto isso, o inimigo foge. Assim, fazem alguns animais quando perseguidos pelo predador: voam ou correm em ziguezague.

Precisa-se com urgência de uma moça para ordenhar vacas e de um jovem robusto.

Pense bem nesse anúncio: uma moça para fazer ordenha de vacas? Mas pode ser, as mulheres são hábeis, e uma moça vaqueira, que saiba ordenhar com eficácia, porque é delicada, e o homem pode ser impaciente, meio rústico ou grosseiro, e a vaca venha a produzir menos leite.

O anúncio tem cabimento, embora não diga, antecipadamente, o porquê da escolha.

E por que um jovem robusto?

Ora, a frase deveria ter sido virgulada para evitar a ambiguidade, mas não foi.

Precisa-se com urgência de uma moça para ordenhar vacas, e de um jovem robusto.

O jovem robusto para amansar burro bravo, para fazer serviços pesados, para ser um bom lenhador, profissão de outrora, cujo objetivo era fornecer lenha para o engenho, de açúcar, ou simplesmente para fazer as boas rapaduras no Nordeste.

Numa avaliação escolar, como professor de LP, criei uma frase inusitada, para ser corrigida, tanto pela virgulação como por nova redação, de modo a ficar clara.

Foi ótimo, uma turma de terceiro-ano do segundo-grau, e deu muito debate.

O assaltante invadiu o apartamento ensanguentado.

A grande maioria fez boas análises, e as respostas foram condizentes. Os jovens já conheciam exemplos desse vício de linguagem, que incomoda, mas continua a persistir.

Frases cotidianas, maldosas, que devem ser corrigidas.

Onde está a porca da Dona Maria?

Aqui está a sela do burro do seu pai.

Mataram o porco do meu tio.

Onde anda aquele cachorro do seu irmão?

Corrijamos, e há outras opções, que o leitor pode efetuar.

Onde está a porca que é de Dona Maria?

Aqui está a sela do burro (usada no burro) que é de seu pai (que pertence a seu pai).

Mataram o porco que era do meu tio.

Onde está aquele cachorro, que é do seu irmão?

Essas frases maldosas, não só irônicas, são pejorativas, e haveria vários modos de ser evitadas, mas o pessoal redige de propósito quando quer ofender.

E agora? Como ficam as frases citadas na introdução? Como poderiam ser corrigidas?

O que me motivou essa citação foi o fato de um habeas corpus que pedia o afastamento de um professor de uma escola municipal numa cidade baiana.

O secretário de educação do Município vivia às turras com o professor, um idoso, que estaria no limiar de sua aposentadoria. Ambos digladiavam em palavras como dois touros numa arena. O ringue era o mérito da lei.

O secretário recorre. O Meritíssimo da Comarca determina o afastamento do professor, mas este, precavido e sagaz, já com tempo de serviço suficiente para ser jubilado, antes, corre ao Departamento de Recursos Humanos do Município e requer, verbalmente, sendo prontamente atendido, a devida certidão de tempo de serviço como professor, e outras funções.

Curioso que o secretário perseguidor não sabia que o pobre professor pediu esse documento, juntou a outros, e deu entrada no INSS para a sua jubilação, que saiu em 15 dias, mais ou menos, e se picou da escola.

Quando o mandado do habeas corpus chegou à escola, o professor não estava mais lá.

Foi um auê. Por que saiu? Que dia saiu? Por que não avisou?

Então, o serventuário da Justiça foi à casa do mestre e lhe entregou o documento judicial, dizendo que poderia contestar.

A primeira frase do recurso, protocolado fisicamente na época, foi essa frase, de redação sem dúvida. Aqui, foi posta de maneira diversa para mostrar a ambiguidade.

Não houve mais nada. O processo foi arquivado. O professor se aposentou, e o secretário ficou a ver navios, com uma secretária olheira do mal, vivendo a perseguir os quietos e calados e levando bolachas recheadas de doce de leite aos puxa-sacos.

Caro leitor, as duas primeiras frases não servem. Vai pra lá, vem pra cá, são ruins. A que serve é a última, nada mais, repetida aqui:

Como tirar da escola um professor se ele não se encontra mais lá?

Como tirar de uma escola o professor, que não se encontra mais lá?

Como tirar de uma escola um professor, se este não se encontra (não está) mais lá?

Após esse debate, dê suas respostas, analise este comentário com seus amigos, e o avalie como bom, ótimo, ruim ou péssimo.

Obrigado.

 

 

 

João Carlos de Oliveira

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