0

Há uma semana, aconteceu um acidente fatal aqui. Estamos a uma semana do final do ano. ‘A’ anos, ele trabalha nesta loja

Às vezes, surgem dúvidas quanto ao uso de ‘há’ e ‘a’, sem falarmos das costumeiras gafes quanto ao uso da crase, pelo fato de terem esses ‘diabretes’ a mesma pronúncia, portanto, parecidos no que tangem à grafia e ao modo de falar, mas nunca iguais.

A crase não é objeto do debate de hoje, já que existem artigos neste sítio sobre o assunto (claro que de minha autoria, mesmo que não sejam lá tão grandiosos).

A propósito, a grafia para se dizer ‘pequenos diabos’, como está neste primeiro parágrafo, vocábulo usado em sentido figurado, é diabretes, um diminutivo, de vogal tônica fechada, e tudo isso para não se confundir com o substantivo feminino diabetes, que pode ser usado no singular e no plural.

O diabete, a diabete, o(s) diabetes, a(s) diabetes. Tasque lá como quiser, pois são grafias aceitas, ora no masculino, ora no feminino.

Se quiser, antes consulte um bom dicionário.

Sim, vamos a alguns exemplos de como usar e a, indicando tempo.

Há um dia estive aqui. Há um dia que estive aqui. Faz um dia que estive. Existe um dia que estive aqui.

Esse tipo de frase serve para indicar o chamado tempo decorrido, que aconteceu em um ‘momento’.

Após o uso do verbo haver, que pode estar no presente (há), no passado (havia, houve, houvera), no futuro (haverá, vai haver), esse mesmo verbo pode ser substituído por fazer ou existir, a depender do estilo ou da escolha do redator.

Tente isto:

Há dois mil anos, o Mundo era diferente.

Faz dois mil anos que o Mundo vive uma nova mudança cultural.

Existem dois mil anos que Cristo foi crucificado.

Perceba, ainda, que após haver pode ser usado o conectivo que, de forma opcional, quanto ao aspecto de tempo.

Há quinze dias, cheguei aqui.

Há quinze dias que cheguei aqui.

Faz quinze dias que cheguei aqui. Cheguei aqui faz quinze dias.

Existem quinze dias que cheguei aqui.

Qual é seu estilo? Qual é sua escolha? Se você definir uma maneira de redigir, seu texto fica melhor, com uma posição definida, evitando gafes ou redundâncias.

Repetimos que o uso de ‘há’ indica tempo decorrido, o que aconteceu.

Se for de sua escolha, use uma vírgula entre a expressão inicial e o verbo a seguir no seu enunciado.

Há um mês, cheguei a este lugarejo.

Há um mês cheguei a este lugarejo.

Faz um mês que cheguei a este lugarejo.

Cheguei a este lugarejo faz um mês.

Na leitura de bons textos, podemos encontrar exemplos dessas redações.

Já o uso de ‘a’ indicando tempo, que costuma confundir com o uso de ‘há’, serve para indicar o tempo que vem, como se fosse um futuro, equivalente ao uso da expressão ‘Daqui a um mês e pouco (uns 40 dias), vai acontecer a festa tradicional da cidade de Teixeira de Freitas, comemorada no dia 9 de maio’.

Veja estes exemplos:

Estamos a uma semana do final do mês (conforme o dia do mês a que alguém se refere).

Estou a um mês de viajar para a Europa, pois no dia primeiro de maio tenho passagem marcada para Paris, e meu desejo é conhecer a Torre Eiffel.

No Natal, estamos, é claro, a uma semana do final do ano, razão por que devemos curtir com excelência os dias restantes do ano ora findo, que jamais voltará a nossos momentos.

Nesse diapasão, foram feitas as frases introdutórias no título:

Um acidente que aconteceu faz uma semana (há uma semana).

Os fatos que decorrem antes de o ano terminar dentro de uma semana, isto é, falta uma semana para o ano terminar.

Estou a dois dias de fazer a consulta oftalmológica: hoje é dia primeiro, e dia três deste vou ao hospital para um exame de vista.

A última frase constitui um erro de grafia, um lapso constante no dia a dia em que muitos confundem o uso de há, do tempo que passou, com o ‘a’ do tempo que vai acontecer.

A frase de uma empresa dizendo que possui muitos anos de serviço numa área com o uso de ‘a’ no lugar de ‘há’, infelizmente, não é boa, embora podemos, ou possamos, entender o que o recado quis dizer.

Este supermercado existe a vinte anos neste bairro, e nunca deixou de atender seus clientes como manda a etiqueta, de acordo com os conformes do Código do Consumidor.

Mais ou menos assim que teria sido a frase do empreendedor, e estava lá a preposição ‘a’, antes de ‘vinte anos’, para indicar o tempo de existência do supermercado.

Com base na regra, a redação deve ser: Este supermercado existe ‘há’ vinte anos neste bairro…

Há vinte anos este supermercado existe neste bairro.

Há vinte anos que este supermercado existe neste bairro.

Este supermercado presta serviços ao povo deste bairro há vinte anos.

Faz vinte anos que este supermercado atende ao povo deste bairro.

Se você tem dúvida quanto a esses usos, comece com frases populares, e depois passe às mais complexas, o que o ajudará muito na aprendizagem.

Para fechar o comentário de hoje, um lembrete quanto ao uso da expressão ‘assédio sexual’ ao dizerem ‘Existem muitos fatos de assédio sexual de crianças em todo o Brasil’.

Queira concordar que dizer ‘assédio sexual de crianças’ nos leva a interpretar, pela semântica da frase, que seria a criança a autora do assédio sexual, e ela é que sofre esse assédio horripilante.

Portanto, a redação deve ser corrigida, o que nem sempre aceitam, entendem ou usam.

Existem muitos fatos de assédio sexual a crianças em todo o Brasil.

(São elas que sofrem o assédio. Não são elas que praticam o assédio.)

Se dizemos O amor das crianças, o talento das crianças, a capacidade das crianças, assim queremos dizer que as crianças têm esse talento, esse dom.

Se está escrito ‘o assédio de crianças’ seria como se elas praticassem esse crime; mas não o fazem. Logo, a redação é esta: O assédio sexual a crianças em todo o Brasil vem-se banalizando, principalmente, por pessoas próximas a elas.

Podemos dizer isso sem medo de errar, já que é um fato costumeiro, ridículo, horrível, fútil, mesquinho, e a linguagem, para ficar clara e isentar as crianças de culpa, é ‘a elas’, e não ‘delas’. O assédio sexual a crianças. Não ‘O assédio sexual de crianças’.

Assédio moral a uma senhora. Assédio sexual a uma moça. Assédio sexual a uma jovem.

O assédio moral ou sexual do criminoso, indicando que ele é o autor desse ato, que ele é o praticante.

Obrigado por ter chegado ao fim deste texto.

 

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *