Imperativos afirmativos, usados no cotidiano, que não existem

Parece sem importância comentar, mas é necessário para esclarecer. Grampear, verbo muito usado em escritório e em casa lotérica, vem sofrendo por falta de conhecimento do falante. Seria uma das razões do erro.

Grampie‘ é a forma que mais se ouve. Diz a Gramática Normativa que um verbo, entre regular e irregular, tem um paradigma, isto é, serve de modelo para a conjugação de um similar.

Os verbos terminados em ‘ear’ oferecem alguma dificuldade para a sua conjugação, em especial, nos imperativos afirmativo e negativo. Nomear é enormemente usado, que serve de modelo para ‘grampear’.

Tempo básico – presente do indicativo -, já que se trata de tempo primitivo. Eu nomeio, tu nomeias, ele nomeia, nós nomeamos, vós nomeais, eles nomeiam. As formas que contêm ‘i’ dão eufonia à sonoridade verbal: nomeio, nomeias, nomeia, nomeiam, chamadas rizotônicas (cuja sílaba tônica está no radical do verbo). Nomeamos e nomeais, que têm a sílaba tônica na desinência verbal, são as formas arrizotônicas.

Grampear segue esse o mesmo paradigma: grampeio, grampeias, grampeia, grampeamos, grampeais, grampeiam.

Para ser formado o imperativo afirmativo, seguimos a regra: nomeia tu (menos o S dessa pessoa no presente do indicativo), nomeie você, nomeemos nós, nomeai vós (menos S), nomeiem vocês. (Você, nós e vocês nascem do presente do subjuntivo.)

Toma-se a mesma regra para grampear: grampeia tu, grampeie você, grampeemos nós, grampeai vós, grampeiem vocês.

De onde vem a flexão ‘grampie’? Do hábito de se usar o idioma pelo que se ouve no cotidiano? Seria influenciado por ‘envie, copie, recrie’, de verbos terminados em ‘iar’? Talvez, ainda, pelo fato de se escrever pouco, esteja alguém confundindo grampear com ‘grampiar’, esta grafia que não existe. Comparação que não chega a ser uma tese, mas serviria como visão paradidática.

O presente do subjuntivo é derivado da primeira pessoa do presente do indicativo, e grampear segue o mesmo modelo para nomear. Nomeio: Que eu nomeie, que tu nomeies, que ele nomeie, que nós nomeemos, que vós nomeeis, que eles nomeiem. Bastaria esse exemplo, mas para tirar a dúvida do neófito, vamos registrar: grampeio. Que eu grampeie, que tu grampeies, que ele grampeie, que nós grampeemos, que vós grampeeis, que eles grampeiem.

Vem acontecendo algo similar com o verbo ‘repetir’. Eu repito, tu repetes, ele repete etc. Busquemos o presente do subjuntivo: que eu repita, que tu repitas, que ele repita etc.

De onde vem a forma verbal ‘repite’ usada por alguns? No momento de o usuário pedir para repetir o jogo, há quem use “Repite aí”. Não encaixa. Observada a norma, se o usuário optar pela pessoa ‘tu’, diria: “Repete aí.” Essa sonoridade lhe parece ‘feia’, por isso, ‘errada’? Se a escolha for para a pessoa ‘você’, forma de tratamento mais usada no cotidiano, deve o usuário expressar-se deste modo: “Repita aí’. É preciso que se busque nova comparação com outro verbo: facilitar. Facilite (você), facilita (tu), facilitemos nós, facilitai vós, facilitem vocês. O pior que há quem use ‘ripite’, certamente, pela assimilação da pronúncia cotidiana de ‘pirigo, minino, catiguria’. Talvez, seja por isso.

Pausa: acontece, ainda, o fato de usarem enunciados sem sincronia entre a pessoa tu e você, prejudicando a uniformidade de tratamento. Misturam, sem perceber, uma e outra, sem seguir o padrão gramatical. Fale com teu amigo. Se a escolha recai sobre o pronome possessivo ‘teu’, a pessoa a que se refere é ‘tu’, cuja forma verbal correspondente é ‘fala’, vinda de ‘tu falas’: Fala com teu amigo. Não ficou bonito? Sendo usada a flexão ‘fale’, a sequência exige ‘seu’, para combinar com ‘você’: Fale com seu amigo.

Note ainda: Seu pai quer falar contigo. Corrijamos: Seu pai quer falar com você. Teu pai quer falar contigo. Para alguns o uso de ‘contigo’ expressaria espontaneidade, afetividade.

Alguns amam o solecismo, erro crasso de se usar o verbo no plural quando o sujeito é um coletivo no singular. Pessoal, povo, turma: se usados como coletivos no singular, o verbo deve estar na terceira pessoa do singular, e não no plural. O pessoal tem falado muito da Previdência no Brasil. O povo disse que o banco foi assaltado. A turma já foi.

Para o espanto de um bom ouvido, usam o verbo na terceira pessoa do plural com o sujeito no singular. Abandone de seu linguajar ‘O povo falaram que o banco foi assaltado. O pessoal roubaram o ônibus que tombou. A turma já foram’. Observe: O pessoal surrupiou (furtou) os pertences dos usuários do ônibus que tombou.

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