O Sindicato dos Marreteiros deste Vilarejo cumprimenta o Prefeito de Pilão Solar dr. Formiga Ferradura

Essa seria a faixa, na entrada de uma cidade, em que uma associação alude a uma obra realizada na gestão de determinado prefeito. Normalmente, o nome do gestor se destaca em letras decorativas, sem nenhuma vírgula, podendo aparecer em segundo plano do texto.

Ficaria, gramaticalmente, correta essa escrita (sem a devida pontuação)? Lembre-se de que, aqui, todos os nomes de pessoas e lugares são incomuns e fictícios.

Antes, vamos analisar enunciados com dizeres similares.

O pai divulga cartaz em que parabeniza o filho bem sucedido em vestibular ou concurso público: “Cumprimento meu filho Raposo Viajante pelo primeiro lugar no vestibular de Medicina na Faculdade Dona Margarida”.

Note a ausência de vírgula no contexto. Isso está certo? Se o pai tem outros filhos, sim. A ausência desse tipo de pontuação indica que o pai está homenageando esse filho, entre os outros. Se Raposo é filho único, não. Nesse caso, deveria haver duas vírgulas (pelo fato de o termo Raposo Viajante, que é aposto, vir intercalado).

A redação deveria ser esta: “Cumprimento meu filho, Raposo Viajante, pelo primeiro lugar no vestibular de Medicina na Faculdade Dona Margarida“. Muitos desconhecem essa necessidade redacional.

Um órgão público presta homenagem a uma autoridade (um deputado estadual ou federal). Como há várias e vários, o nome do homenageado (por ser um entre todos) não precisa ficar separado por vírgula(s): “O presidente do Sindicato dos Vaivéns tem o prazer de cumprimentar o deputado Sinfrônio Poviléu em visita a nossa cidade“.

O mesmo sindicato faz homenagem ao secretário de segurança pública do Estado de Normandia. Como não existe mais de um secretário na mesma pasta, a vírgula se torna OBRIGATÓRIA: “O presidente do Sindicato dos Vaivéns tem a honra de cumprimentar o secretário de Segurança Pública do Estado de Normandia, João Máximo Boaventura, que se encontra nesta Cidade“.

Para se homenagear um prefeito, segue-se esse mesmo critério pelo fato de toda cidade ter apenas um gestor municipal: “O Sindicato das Donas de Casa de Serra Bonita tem a honra de receber em sua sede o prefeito de Morada Nova, dr. Facundo Pindorama“.

Para esse caso, a ausência da vírgula, para quem não se preocupa com pormenores da pontuação, não causa muito impacto, mas para o redator mais cuidadoso, seguindo a lógica da coerência e da semântica, fica uma lacuna por não poder haver mais de um prefeito.

A coluna social de muitos jornais costuma fazer referência a cidadãos de sua cidade. Sendo um casal, citado o nome do esposo, que tem apenas uma esposa (já que, legalmente, bigamia e poligamia não existem entre nós), o nome dela deve vir separado do restante da frase. “Clique especial no presidente do Sindicato dos Motorneiros desta Cidade, sr. Policarpo Absoluto, e sua esposa, dona Lancelot Purificação“.

Mudada a ordem dos termos do enunciado ou acrescentada nova expressão, o mesmo cuidado deve permanecer: “Recebemos em nossa sede o sr. Policarpo Absoluto, presidente do Sindicato dos Motorneiros desta Cidade, e sua esposa, dona Lancelot Purificação, que ora nos visitam“.

A forma mais habitual de comunicado nesse aspecto traz a tradição de o nome do esposo ou da esposa não vir separado, por vírgula(s), do outro, o que, semanticamente, indicaria que existe mais de um esposo ou mais de uma esposa.

Clique especial no mestre de caratê Pacífico Moderado e em sua esposa Josephine Marruá“.

A redação nesse molde não cumpre a coerência semântica. Como está, Pacífico tem outras esposas, e Josephine seria uma delas.

Eis a forma correta: “Clique especial no mestre de caratê Pacífico Moderado e em sua esposa, Josephine Marruá“.

Apure os olhos nesta redação: “Homenageamos a pedagoga, Estrela Cadente, da cidade de Nova Esperançosa”. Tiremos a vírgula, por não termos uma única pedagoga: “Homenageamos a pedagoga Estrela Cadente, da cidade de Nova Esperançosa”.

O filho homenageia sua mãe. Todo cuidado é pouco, porque a mãe é única. “Venturoso Perdigueiro, presidente do Sindicato dos Taxidermistas desta Cidade, homenageia sua querida genitora Plácida Fortunato pela sua passagem natalícia“.

Pense e analise. Venturoso já foi indicado como presidente do sindicato, e só existe um, razão por que essa qualificação, que funciona como aposto, vem separada por duas vírgulas (está intercalada); e, por ter apenas uma mãe, o nome dela também deve vir separado por vírgula, mesmo que a ordem dos termos seja alterada: “O presidente do Sindicato dos Taxidermistas desta Cidade, Venturoso Perdigueiro, homenageia sua querida genitora, dona Plácida Fortunato, pela passagem natalícia“.

Esse é o diapasão desse tipo de texto, que costuma não ser seguido. Sabe-se que há controvérsias.

O filho (inclusive o irmão), se for único, vem separado por vírgula(s). Se forem vários, nenhuma vírgula. Em se tratando de prefeito, do vice-prefeito, de esposo, de esposa, de governador de estado, de secretário de uma pasta (em qualquer esfera), a vírgula se torna obrigatória, pelo fato de essa ‘função’ não ser exercida por mais de uma pessoa. Isso evita dúvidas e não prejudica a semântica.

Por último, a resposta.

O título deste artigo tem redação incompleta. Se o prefeito da cidade é único, seu nome deve vir separado do restante do texto por vírgula (poderia ser usado travessão ou até dois-pontos) para ficar bem claro de que e de quem se trata: “O Sindicato dos Marreteiros deste Vilarejo cumprimenta o Prefeito de Pilão Solar, dr. Formiga Ferradura“.