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Qual o plural de ‘blitz’? Pluralização de substantivos que podem oferecer dificuldade

Quanto ao plural, alguns substantivos são invariáveis (cais, caos, lápis); outros fazem exceção à regra (cônsules, males); há os que podem oferecer dúvida (álcoois, caracteres) e estrangeirismos com grafia inusitada (blitze, campi, curricula).

Este comentário tem a finalidade de esclarecer alguns pontos e dirimir discórdias. São anos de aprendizagem e lá se vão muitas consultas à Gramática Normativa.

Tomara que dê certo e o resultado seja satisfatório.

O primeiro está no título. Trata-se de vocábulo exótico muito usado quando policiais rodoviários estadual e federal entram em ação. Pode ocorrer a pluralização incorreta (blitzes).

Blitz -de origem germânica (al Blitz, ‘relâmpago’), pelo teor semântico, designa ‘batida policial de improviso que utiliza grande aparato’. Muitas vezes, é usado para indicar que o ente público vai impor combate a infrações fiscais. O Governo organiza uma blitz massiva contra sonegadores.

Por não ser termo ainda aportuguesado, não pode, simplesmente, receber ES para indicar o plural. Os bons compêndios, grandes revistas e jornais trazem blitze. A Polícia Rodoviária Federal empreendeu várias blitze em todo o País para combater o narcotráfico.

O dicionário que consultei – Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, da Melhoramentos – não registra, na edição consultada, o plural da palavra. E teria um verbo correspondente? Como já usamos ‘tweetar’ (hibridismo) do Inglês ‘tweet’, modernizado para ‘tuitar’ (sem registro no léxico), poderíamos invencionar ‘blitzar’, mas é pouco atraente ou adequada. O que é comum é o povo dizer ‘Está havendo uma blitz’.

Sem seguir a ordem alfabética, enfileiram-se estas palavras:

Álcool – terminada em L, segue o mesmo critério de suas colegas canal-canais, anel-anéis, anzol-anzóis, azul- azuis (perdem L e ganham IS). Portanto, álcool-álcoois. A questão é a boa pronúncia, sem acrescentar ou eliminar fonemas: ál-co-ois. Leia com entonação.

Curriculum – trata-se de latinismo, muito usado para proceder ao texto que fornece dados sobre profissional (currículo), esta a forma aportuguesada. Plural: curricula (proparoxítono). Curriculum vitae (carreira da vida) já teve destaque em muitas obras didáticas. O termo vitae tem ‘a’ mudo; por isso, a boa pronúncia deve ser ‘vite’, e não ‘vitai’.

Campus – em se tratando de universidade, torna-se comum o seu uso: Campus I, Campus II: ‘conjunto de prédios e setores de uma universidade’; plural: ‘os campi‘, lembrando que tanto o singular como o plural são paroxítonos: câm-pus, câm-pi (acento simbólico). Não proceder como se pronuncia, respectivamente,’obus‘ e ‘chassi‘ (oxítonos).

Caráter – personalidade, gênio, índole, temperamento. Não confundi-lo com caraté (doença de pele), nem com caratê (arte marcial de origem japonesa). Não é preferível a grafia karatê, e há erro – karate, do Nipônico (vazia – kara; mão – te), não leva acento gráfico; nem karatê seria a forma aportuguesada. Sendo vocábulo terminado em R, a regra manda juntar ES ao singular para formar o plural – caráteres, seguindo estritamente a grafia original. Mas a pronúncia é esta? A Gramática nos conduz à pronúncia similar do cognato ‘caracterizar’; portanto, ‘caracteres‘ (paroxítono). Lembremos que a linguagem dos computadores usa ‘caractere’.

Mel – produto da abelha. É oportuno dizer que o linguajar ‘mel de abelha’ parece pleonástico; a não ser que se diga ‘mel da abelha jataí, mel da abelha uruçu, mel da abelha mandaçaia’ etc. Como não se trata de ‘mel’, pode-se dizer ‘mel de cana’ (melado ou melaço). São dois plurais: méis e meles. Qual é o de sua preferência? Dê uma chancezinha para meles. Pausa: pote do produto continha o adjetivo ‘fabricado’. O homem fabrica mel? Produto ‘envasado’.

Mal – do Latim malum, é o que se opõe ao bem, à moral, à justiça, ao direito. Com o acréscimo de ES (exceção à regra), faz-se ‘males‘ – cortemos os males pela raiz. Não se trata do advérbio mal, oposto a outro advérbio (bem). Ele vai mal. Como regra didática, onde couber mal, cabe bem, e vice-versa: Ele vai bem. Mal chegou. Nem bem chegou. Pausa: Mau opõe-se a bom: onde couber mau, cabe bom e vice-versa. Mau companheiro, bom companheiro; mau gosto, bom gosto.

Alerta – em atitude de vigilância, de sobreaviso (advérbio), e, como tal, é invariável: Atenção, companheiros! Mantenham-se alerta. Estamos alerta. Os jovens devem ficar alerta quanto ao risco de doenças sexualmente transmissíveis. Pausa: não se trata do verbo alertar – O pai alerta o filho; nem do substantivo masculino alerta (aviso, sinal) – O comando deu vários alertas à população.

Duas frases encontradas em obras: ‘Os vigias estavam alerta’; ‘Os vigias devem ser pessoas sempre alertas’. Note a forma invariável na primeira (advérbio) e a flexão na segunda (adjetivo?). Descarte esta e use aquela.

Cós – tira de pano que remata local de cingimento. Formas variantes: Os cós estão sujos. Os coses da calça são perfeitos.

Xis – nome da letra. O xis está bem feito. Os xis estão bem feitos.

Sem-teto, sem-terra (invariáveis), com a possibilidade do uso do artigo o, os: Sem-teto mantêm invasão (apesar do alvará de reintegração de posse). Sem-terra bloqueiam rodovia no Ceará.

 

João Carlos de Oliveira

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