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Os porquês – por que, por quê, porque, porquê. Eles são chatos?

Alô, Allan Prates Pinto (Serra, ES), eis a resposta de sua solicitação. Os porquês são um pouco chatos pela sua natureza gráfica e semântica, mas seu receio pode ser dissipado. Certeza tenho de que vai conhecer melhor as famigeradas aplicações – a pronúncia é praticamente a mesma (diferencia-se pela entonação), a grafia, com quatro variantes, é que pode causar transtorno. Cada uma, porém, tem seu respectivo significado.

Por que‘, separado e sem acento circunflexo, é usado para pergunta no início da frase: Por que você não veio? Por que há tanta violência no mundo? Por que a corrupção no Brasil se alastra como carrapato no lombo de burro doente?

Por quê‘, separado e com o respectivo acento gráfico, é usado para pergunta no final da frase: Você não veio por quê? Variando essa redação, pode haver uma vírgula: Você não veio, por quê? A mesma pergunta ainda pode ser feita em duas partes: há a afirmação e, em seguida, a interrogação com o porquê isolado: Você não veio. Por quê?

Porque‘, junto e sem sinal gráfico, é usado para responder a uma pergunta – surge a conjunção subordinativa adverbial causal, a forma tradicional de se dar resposta: Não vim porque estava doente. Não comprou o carro porque a grana acabou.

Importante ressaltar que ‘porque’ pode tornar-se explicativo (equivalente a ‘pois’), redação que exige a anteposição de uma vírgula: Não suba na goiabeira, porque pode-se machucar, menino! A mesma frase pode mudar a ordem dos termos: Não suba na goiabeira, menino, porque pode-se machucar! Menino, não suba na goiabeira, porque pode-se machucar!

O porquê‘, junto e com acento gráfico, passa a ser uma palavra substantivada (equivalente ao substantivo motivo ou razão). Trata-se de uma pergunta indireta: Precisamos saber o porquê de o homem nunca ter pisado em Marte se conseguiu ir à Lua. Mesmo o melhor economista não consegue explicar o porquê de a Nação continuar quebrada se o Governo cobra tantos impostos.

Após esses quatro aspectos gráficos e semânticos, existe, ainda, ‘por que’ em duas ocasiões: 1. normalmente no interior do enunciado, indicando um motivo, uma causa – Não se sabe por que tantos homens espancam suas esposas. Não existe uma explicação plausível por que o homem não consegue pisar em Marte se ele foi à Lua. Essa grafia tem causado dúvida – como não se trata de pergunta nem de resposta, a opção é um termo separado, sem acento gráfico – ‘Não se sabe o motivo por que o homem tem sido tão insensato.’ 2. Exigido pela regência de algum verbo, como lutar, ‘por que’ equivale a ‘pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais’, conforme o termo que o antecede – Essa é a causa por que luto. (Quem luta, luta por alguma causa – Essa é a causa pela qual luto). Há jornalistas que se estupram linguisticamente tantos os deslizes gramaticais pelos quais passam. Esse uso parece limitado tanto na fala como na escrita em todos os níveis, mas denota uma linguagem elegante e culta. Note que uma frase pode variar a redação: ‘Não se sabe o motivo pelo qual (a razão pela qual) o homem tem sido tão insensato’.

Sem qualquer prejuízo semântico ao contexto, conforme o estilo do redator, toda pergunta pode ter três redações (a maneira mais fácil de se questionar): 1. Por que ele não veio? 2. Ele não veio por quê? 3. Não se sabe o porquê de ele não ter vindo.

1. Por que a barata nunca dorme? 2. Houve o acidente com o avião por quê? 3. O País vai mal porque o Governo é omisso. 4. Ninguém explica por que a rua oferece tanto perigo. 5. Desconhece-se a razão por que (pela qual) o acidente aconteceu. 6. Não existe um porquê para tudo na vida. 7. Tenha cuidado, porque a subida é perigosa.

João Carlos de Oliveira. Teixeira de Freitas, BA, 31 de dezembro de 2016.

João Carlos de Oliveira

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