0

O objeto direto preposicionado. Como é elegante!

Seria fácil distinguir o objeto direto do preposicionado, já que, por tradição, o direto é confundido com o indireto? E o indireto seria visto como preposicionado?

Se não for de fácil assimilação, será de extrema necessidade para o usuário ter bom domínio linguístico. Convenhamos que esse pensar tenha lógica.

Objeto direto é o complemento de verbo transitivo direto (que não exige preposição): Vejo o horizonte. Viajo o mundo pela Internet.

O objeto indireto é o complemento de verbo transitivo indireto (que exige preposição): Confiamos em Deus. Assisto a filmes de ficção.

Objeto direto preposicionado aceita a preposição por questão de estilo ou para evitar a frase ambígua.

Exemplo de objeto direto preposicionado por sua construção frasal apropriada: Jesus ama a ti.

Amar é verbo transitivo direto: não exige preposição entre o sujeito e o complemento verbal. Em Jesus te ama, Jesus é sujeito; te, objeto direto, e ama, verbo. A colocação do pronome (te) está em próclise, que, nesse caso, não é obrigatória. Optemos pela ênclise: Jesus ama-te, embora não seja a forma preferida no falar cotidiano. Uma ou outra não importa. Trocando-se te, átono, por ti, tônico, Jesus ama a ti, passa a haver o objeto direto preposicionado a ti. Fica elegante. Em outra ordem: A ti Jesus ama. Jesus a ti ama.

É oportuno lembrar a diferença entre esses dois pronomes oblíquos: te, átono, usado quando não há preposição que o anteceda; ti, tônico, quando estiver precedido de uma preposição: a ti, de ti, em ti, por ti etc., o que parece não ser do conhecimento de muitos usuários. Cloves, e não ‘Clóvis’, questiona-me sobre essa diferença. Disse-lhe, oralmente, a regra. A pronúncia de um se parece com a do outro. O átono, leve; o tônico, forte. Eu te amo e Eu amo a ti têm o mesmo valor semântico. Entretanto, em Eu ti amo e Eu amo a te há erro de grafia.

Exemplo que exigiria alterar o objeto direto para o objeto direto preposicionado: O pai ama o filho. Para evitar a frase ambígua (O pai ama o filho como O filho ama o pai), imprescindível nova redação: Ao pai ama o filho; Ao filho ama o pai. Essas opções espantam a ambiguidade. A dúvida é evitada pelo uso da preposição a. Os termos em destaque são objetos diretos preposicionados. O uso da preposição não seria comum a todo usuário.

Algumas frases podem oferecer interpretação duvidosa: O menino morde o cão. Tanto um como outro pode praticar a ação de morder. O cão fere o menino. Da mesma forma, tanto um como outro pode ser o agente de ferir. Evitemos a dúvida: Ao menino morde o cão. Ao cão fere o menino.

Na linguagem popular, a dúvida é evitada (quando é necessário) passando-se a frase da voz ativa para a voz passiva analítica: O menino é mordido pelo cão. O cão é ferido pelo menino. (Não use pelo o.) Se é estranha a construção Ao pai ama o filho, mudemo-la para O pai é amado pelo filho. Assim por diante. Qual é a mais elegante?

Nem toda Gramática Normativa esclarece o porquê da existência do objeto direto preposicionado. Duas se destacam: o estilo e a clareza.

Clareza: Mata ao cúmplice o delator. (O delator mata ao cúmplice. O cúmplice é morto pelo delator.)

Outros motivos: Com pronomes referentes a pessoas: A ioga não maltrata a alguém. Com palavras referentes a pessoas: Podemos ajudar aos moradores de rua. Em construções típicas da língua (falada ou escrita): Saca da pistola para se defender. Bebeu do leite que estava na caneca (não o tomou todo). Os termos em destaque são objetos diretos preposicionados.

Em Ele bebeu o leite entende-se que todo o leite foi consumido. Já em Ele bebeu do leite, que tomou parte dele. Comeu o bolo (todo ele). Comeu do bolo (um naco).

Por razões de sintaxe: Deus (onipotente, onipresente e onisciente) é ser especial. Em O homem ama a esposa, o sentido de amar é carnal ou afetivo. Em O homem ama Deus, não se trata da mesma semântica. Para se evitar que amar tenha conotação banal, em se tratando de Deus, a presença da preposição a se torna necessária: O homem ama a Deus. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas.

A construção Espero você é típica do dia a dia, cujo verbo é transitivo direto. Você é objeto direto. Por questão estilística, alguns preferem Espero por você, em que esperar continua como verbo transitivo direto. O uso da preposição por não muda a regência verbal direta para indireta. Por você passa a objeto direto preposicionado.

O indefinido quem, quando usado como complemento verbal, precisa de uma preposição para se evitar dúvida, tornando a frase inteligente e chamativa: Encontramos o médico a quem admiramos muito.

Em certas construções frasais: se o objeto direto é formado por um pronome e por um substantivo: Ofendeu-me e a meu pai.

Se forem dois pronomes ao mesmo tempo, representando pessoas diferentes, o segundo objeto é preposicionado: O poeta pediu-te em casamento e não a ela. Chamou-o e também a nós.

Em breve, os objetos diretos pleonástico e cognato.

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *