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‘Autossuficiente, autosuficiente, auto-suficiente, auto suficiente’ – qual a grafia correta?

As dúvidas relativas ao uso de hífen em palavras derivadas prefixais continuam por serem muitas as mudanças e nem sempre os usuários conseguirem acompanhar, rigorosamente, o que determinam as regras. A Reforma Ortográfica, pelo menos no Brasil, ainda ‘tem muito chão para ser percorrido’. E o que mais incomoda é o uso específico do hífen. Os panfletos, de modo geral, nem se dão conta de escrever ‘ortograficamente’ correto. Basta que se leiam alguns perambulando pelas calçadas de todo o País.
O exemplo acima é clássico – seguindo a regra antiga, na formação de palavra derivada prefixal, pelo fato de o vocábulo seguinte começar por S, o uso do hífen (auto-suficiente) foi obrigatório. O Decreto de nº 6.583, imposto no Brasil pelo Congresso Nacional, esperando que países lusófonos o seguissem, mudou essa regra, mas ela ainda capenga. A grafia nova é – havendo prefixo e o vocábulo seguinte começando por R ou S, esse fonema, para manter a pronúncia correta, deve ser dobrado – formando-se um dígrafo que antes não existiu: autossuficiente. Mas há dificuldade nesse campo minado, e só os grandes veículos de comunicação seguem a regra, salvo melhor juízo. Resumindo este caso – auto-suficiente (grafia anterior); autossuficiente (grafia atual); autosuficiente – grafia ruim, usada em alguns momentos, que alteraria a pronúncia do termo – ‘autozuficiente’ não existe, e a forma com os dois elementos separados (auto suficiente), o que também é inconveniente, nunca existiu. Não deve o jovem escrever ‘super amigo’ nem o comércio trilha um bom caminho gráfico quando escreve ‘super promoção‘. Como escrevemos supervalorizado, supermercado, superdosagem, superdotado, devemos escrever superamigo, superalimentado, superfeliz, superpromoção. Trocado o prefixo ‘super’ por ‘hiper’, se for o caso, que altera ligeiramente a semântica, a grafia deve seguir o mesmo critério – hipermercado, hipertexto, hipertenso, hiperurbanismo, hipervitaminose. Se o vocábulo seguinte começa por R, os prefixos super, inter e hiper ficam separados por hífen – super-revisor, inter-resistente, hiper-requintado.
O leitor deve entender que o comentário não reserva espaço para todos os casos duvidosos nem caberia tanto a explicação de usar ou não o hífen em outros vocábulos.
Trilhemos, por isso, a visualização e a confirmação da grafia correta de vários deles: ultrarrápido, ultrassom, antissemita, antirruído, anti-inflamatório (por haver dois fonemas iguais – ii), micro-ondas, contra-ataque (idem), cosseno, minirraio ( que seria neologismo), minissérie, minissaia. Cuidado – escreva irreal, irrestrito, irresponsável (há quem ainda use ‘inreal’ – in se torna ir antes de R).
Em documentos de distritos policiais, podem ser encontradas as grafias ‘sub-inspetor, sub-delegado, sub-delegacia’; para não errar, junte tudo – subinspetor, subdelegado, subdelegacia, assim como suboficial, subnutrido, mas sub-reitor, sub-reino, sub-reptício.

Quando o interessado quer tirar a carta de motorista, frequenta aulas em empresa chamada ‘auto escola’. A grafia segue a regra? Do mesmo modo como se usa autogestão, autoimune, autodomínio, deve ser escrito autoescola (tudo junto, sem hífen).

Prefeituras há que usam “Secretaria Municipal de Infra-Estrutura”, como se fosse um vocábulo composto, que não é. ‘Infra’ tem o sentido de ‘abaixo, embaixo’, e por isso a grafia é Infraestrutura, como infravermelho, infrassom, infraescrito, infracolocado, infralabial; mas infra-assinado. Empresas que negociam produtos alimentícios costumam trazer no cupom fiscal as grafias ‘sub total’ e ‘sub-total’. Nem uma nem outra. Como subtítulo, submundo, subversivo, deve ser subtotal. Pronuncie correto – sublingual. Agora, fale ‘sublinhado’, e não ‘su-bli-nha-do. Volte e diga – sub-li-nha-do, sub-lin-gual. Lembra-se da sua aula de Português em que seria comum falar ‘palavra su-bli-nha-da’? Não fale mais assim.
O cuidado maior reside em se ter atenção com palavras começadas por vogal, H, R e S. Pela ordem, subaquático, pré-histórico, supersônico. Outra relação: antiácido, mas arqui-inimigo; co-herdeiro, mas cooperado (grafia tradicional, mas cuidado com a pronúncia – co-o-pe-ra-do; al-co-ó-li-co); subsolo, antisséptico; antirracial, antirrábico.

Não confie tanto em rodapés de programas televisivos. No afã da notícia, podem esquecer uma regra ortográfica, o que costuma acontecer com frequência (o trema desapareceu). A escrita boa: mal-estar, bem-estar, bom-senso, psicossocial, sociolinguístico, bicampeão, oxibiodegradável, macroeconômico, morfossintático, telechamada (como telefone), vamo-nos embora, os sem-terra.
Com consulta e persistência, a aprendizagem aumenta – você se torna um autodidata. Parabéns. Obrigado.

João Carlos de Oliveira

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