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Oxford, dicionário britânico, elege ‘pós-verdade’ a palavra do ano; e nós – qual devemos eleger?

A nossa qual é? Evidente que não foi feita uma enquete para a nossa escolha. Sem ser uma pesquisa científica, e sem eu representar um ente público voltado ao jornalismo, escolho com galhardia ‘pós-petismo‘ a palavra do ano 2016 no Brasil, como simples vivente e editor deste sítio. A decisão britânica, dizem, vale para o mundo, e, talvez, nada acrescente para nós. Temos os motivos (ingratos) para a ‘nossa’ escolha, e, talvez, nada valha para eles.

A manchete em todo o mundo é – ‘Pós-verdade’ é eleita a palavra do ano pelo dicionário Oxford. Sediado em Londres, em sua tradicional eleição da palavra do ano, como já escolheu a ‘etiquetada‘ selfie (grifo nosso), este ano opta por ‘post-truth’, que, em traslação normal do Inglês para o Português, gera ‘pós-verdade’. O texto jornalístico diz que Oxford Dictionaries, durante um ano, se baseia em análises políticas, como a saída dos ingleses da União Europeia e a vitória de Donald Trump para os americanos. Reviravoltas intensas, chamuscadas de paixão e de seguidores inflamados, geram debates em todo o mundo – com a inevitável opinião de que uns estariam ‘certos’ e outros, ‘errados’. “Os fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública que apelos à emoção e crença pessoal”, eles definem. Pode valer muito o conceito de que ‘a emoção supera a razão’.

Abrindo o leque para o comentário linguístico paralelo, ‘post’, em Inglês, é o mesmo étimo latino que nos dá ‘pós’ – que vem depois, usado em pós-parto, pós-morte, pós-comunhão etc., para ficar mais claro o sentido dessa semântica em ‘pós-petismo’. E ‘ismo’? Trata-se de um sufixo formador de substantivos que indicam sistema, conformação, imitação, segregação etc., como budismo, cristianismo, conformismo, arcaísmo, neologismo, denotando certa tendência filosófica, política, religiosa, entre outras.

Quando se tem ‘ismo’, este gera ‘ista’, e vice-versa. Se se diz ‘comunismo’ é por que existe ‘comunista’, e de um se passa para o outro. O budismo e o budista, o artificialismo e o artificialista, o paisagismo e o paisagista, o pugilismo e o pugilista, o segregacionismo e o segregacionista. São suficientes?

A escolha da palavra do ano pode recair num termo ‘novo’ (neologismo), como selfie, que se difundiu de maneira rápida e surpreendente e caiu no gosto popular – a famosa foto tirada pelo próprio executor da tarefa. Este ano, ‘Brexiteer’, que designa o defensor da saída do Reino Unido da UE, passou perto da escolha. Esse vocábulo é uma mescla ousada de ‘Britain’, ‘exit’ e ‘teer’. O último termo indica a pessoa adepta desse movimento.

O outro aspecto é que pode recair numa palavra tradicional (truth), a escolha atual, veiculada de forma intensa e chamativa, mostrando um veio da vida moderna – como a política, que sempre gera paixões, cujos defensores – os prós e os contras – se debatem até o fim, sem a razão do ‘vencedor’ ser reconhecida pela do ‘perdedor’, e vice-versa. Valeu a emoção.

Mesmo que a escolha deste blogueiro não seja proeminente, a palavra ‘pós-petismo’ implica a tendência política que submerge nas águas profundas da ganância de um grupo partidário que queria uma cuia de farinha, já que nada havia para os excluídos. O partidarismo desse grupo fazia reuniões em bairros visando à inclusão da sociedade esquecida pelo ‘poder’ na Nação brasileira – em que todos são iguais perante a lei; reuniões boas, bem-fundamentadas. Mas foi somente o início. O partidarista ganhou espaço e abocanhou parte do poder, ‘sem dividir’ o quinhão com o necessitado que o apoiou. O petismo teve seus adeptos em todo o Brasil, e os petistas se orgulhavam de dizer ‘somos um partido que nasceu da plebe, da base popular, do povo humilde’, e não foi só o trabalhador que se engajou nesse campo para chegar às câmaras municipais, às assembleias estaduais, e depois ao Senado Federal, e outros cargos de destaque que galgou, mas no banquete ‘lambuzou-se do mel doce e prolífero’ e se perdeu no espaço. Deu no que temos aí – o partidarismo que se associou a mais de um grupo (outros ‘istas’) e gerou um lado corruptivo (corruptor e corrupto), ativo e passivo, de fazer dó. Por isso, a bancarrota nacional.

‘Pós-petismo’ fica registrada entre nós. Traz-nos ela a ideia da queda gigantesca no penhasco em que o pós-petista alega defesas discordantes. Se condenarem o blogueiro, não tem ele para onde ir – se emite opiniões nos campos da Linguística e da Literatura, como é a essência deste sítio, embora não sendo de tamanha repercussão, não fica isento do falar bom ou ruim de seguidores ou de não-seguidores.

O adepto de uma linha filosófica, política ou religiosa, não tendo a coragem de escalar a bocaina íngreme, não diz para que veio, como também nunca chegará à planície suave, livre de obstáculos, nem colherá qualquer fruto, pois não plantou a árvore. Nem sobe nem desce. O conformismo e o quietismo podem ser mais agressivos que o abismo e o fanatismo, a depender da fala. Por que Castro Alves é tão dinâmico e atual? Porque buscou no Condoreirismo a força de sua poesia.

O antipartidarismo puro e simples, neófito como um pássaro implume que começa a voar, não justifica a adesão ao não ou ao sim. Vemos, salvo engano, que existe uma base para dizermos que o ‘pós-petismo’ está tão latente entre nós como o ato pós-operatório que nos tirou todas as vísceras.

Serei mais suave na próxima edição.

João Carlos de Oliveira

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