0

‘Em toda loja’ ou ‘Em toda a loja’? Qual a diferença entre elas? Teria sentido ‘Em toda Bahia’?

‘Todo’ (vocábulo paroxítona, ‘o’ fechado – ‘tô-do’), pronome indefinido, que varia em ‘toda, todos, todas’, significa CADA, QUALQUER, conforme a definição do dicionário como da gramática. Seu uso é bastante amplo. Encontramos, facilmente, frases como ‘todo mundo, todo país, todo lugar, todo pai, todo cidadão’. Até esse momento, nada de errado costuma acontecer. Para manter-se com o significado de ‘qualquer‘, é preciso que esteja anteposto ao substantivo a que se refere, sem artigo, como nos exemplos. Se necessária uma diferenciação, surge a dúvida – quando o lojista faz promoção, não sabe se escreve na vitrina ‘Toda loja’ – ‘qualquer loja’, ou ‘Toda a loja’, que indica a loja dele, toda ela (incluídos todos os produtos de sua casa comercial). Como ele não se refere a qualquer loja, mas à dele, e é nela que está havendo a promoção (ou superpromoção, megapromoção – não separe os termos), o artigo definido anteposto (toda a loja) é obrigatório para ficar claro que se trata ‘do estabelecimento todo, da loja toda’, isto é, de toda a loja, de todo o estabelecimento, e não de uma loja qualquer. A redação em que deve ser usado o artigo não costuma aparecer, querendo que a forma sem o artigo definido seja a correta, de tanto ser usada, mas não é.

Em ‘todo país’ e ‘todo o país’ não há erro, mas deve ficar claro que uma frase tem semântica diferente da outra. ‘Todo país’ (há muitos países) indica qualquer um – Todo país tem seus problemas. Todo país tem suas tradições. ‘Todo o país’ indica um único, o país inteiro – Todo o país está vivendo um período de seca. Interessante observar que o singular ‘Todo país tem seus costumes’ torna-se igual à expressão no plural – ‘Todos os países têm seus costumes’.

Se estamos referindo-nos ao nosso país, devemos dizer – Por todo o Brasil encontramos pessoas inteligentes. Toda a Nação está passando por grandes dificuldades. Em todo o País há cidades bonitas e hospitaleiras. Do mesmo modo, devemos dizer – Toda a Bahia tem riquezas imensuráveis. O Cacau do Sul do Estado, o ouro de Jacobina, a indústria petroquímica de Camaçari, a riqueza da caatinga do Raso da Catarina, a produção agrícola do Oeste baiano.

‘Todo cidadão tem seus cacoetes’. Compare com a redação ‘Todo o corpo do cidadão sofreu queimaduras graves’. Fica claro que ‘todo’ tem diferença de ‘todo o’. Nesse aspecto, não se pode usar ‘toda Bahia’, pois só temos uma. Um jornal baiano de grande circulação usa ‘o jornal de toda Bahia’, eslôgan (aportuguesamento de ‘slogan’) para dizer que o diário circula em toda a Bahia. Como só temos um Estado com esse nome, uma só Bahia, devemos dizer ‘o jornal de toda a Bahia’. Um capixaba diria, na atual conjuntura, ‘A seca está rondando todo o Espírito Santo’. ‘Todo o Estado (do Espírito Santo) está vivendo uma seca terrível’.

‘Todo’, no plural, indica todas as pessoas – Todos devemos amar a Deus. ‘Ao todo’ significa ‘no todo’. ‘O todo’ equivale a ‘a totalidade, o total, o conjunto’. Para ‘todo’ ter o sentido de ‘inteiro, completo’, deve haver o artigo definido, tanto anteposto como posposto ao substantivo (por isso, o cuidado com o significado da frase) – Todo o bolo foi degustado. O bolo todo foi devorado pelas crianças.

A expressão ‘toda semana’ – qualquer que seja – tem o mesmo sentido de ‘todas as semanas’. Note: ‘Toda semana, o menino passa por aqui montado no seu jumentinho’. – ‘Todas as semanas, o menino passa por aqui montado no seu jumentinho’.

Todo dia, todos os dias. Todo ano, todos os anos. Mas – cuidado! – Toda hora, acontece uma coisa ruim. É diferente de Toda a hora foi usada para consertar o carro.

Todo morador do bairro tem seu emprego, mas nem todo morador tem veículo. Toda pessoa tem sua família, isto é, todas as pessoas têm sua família.

Ainda: Trabalho todo dia (trabalho todos os dias da semana). Trabalhei todo o dia (‘Trabalhei todo o domingo’,  o domingo inteiro, que seria para o descanso). “Cada homem (microcosmo de loucura) imagina-se um todo”, Antônio Feliciano de Castilho, escritor português. ‘Você está em todas’? – participa ativamente da vida social, está informado de todas as coisas?

Próximo – “Tipo assim. Entendeu? Eu peguei e falei com ele. E aí… Tipo assim. O cara é pau puro. Oh! véi, deixa de ‘bobage’, fica na tua”.

Gírias ou vícios de linguagem? Aguarde. Aperto sua mão por fazer-me a nova visita.

 

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *