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Por que áudio com ‘io’ e vídeo com ‘eo’? Esses sufixos têm a mesma pronúncia?

Os ditongos crescentes ‘io’ e ‘eo’, cuja pronúncia é a mesma, podem dificultar a grafia de outras palavras. A sonoridade similar induz o usuário sem domínio linguístico a ter dúvida: espontâneo ou espontânio, áudeo ou áudio, vídeo ou vídio?

O porquê da escrita correta depende do étimo – o idioma de origem do vocábulo, a grafia, a pronúncia, o significado. Nosso modo de falar não distingue ‘io’ em vício como diferente de ‘eo’ em níveo. São ditongos crescentes porque contêm as semivogais ‘i’, ‘e’, e a vogal ‘a’. Áudio vem do Latim, da família de auditio, auditione, que dá audição, e forma audiofrequência, audiolivro, audiovisual. ‘Audire’ é ouvir, por isso o elemento ‘audi’ traz a conotação de ‘audição’. Note que ‘áudio’, estando em vocábulo composto, perde o acento agudo. ‘Vídeo’ vem do Latim video (sem acento), que vem de videre (ver). Engloba o conjunto dos sentidos de imagens e sons, cujo maior símbolo foi o videocassete.

De modo geral, os adjetivos terminados pelo sufixo ‘eo’ são derivados – ósseo, de osso. Alguns usados no cotidiano: cinéreo, conterrâneo, córneo, corpóreo, felídeo, instantâneo, marmóreo, momentâneo, plúmbeo (da cor do chumbo), terráqueo, térreo, venéreo, vítreo. Outros, por sua vez, formam substantivos derivados: contemporâneo, contemporaneidade; espontâneo, espontaneidade; momentâneo, momentaneidade; heterogêneo, heterogeneidade. Essa uma das razões por que temos que dar atenção ao grupo de palavras chamado ‘família etimológica’. Exemplo clássico: leite, lácteo, lacticínio, leitoso, desleitar, desleitado, leitosamente, lactente (bebê), lactante (mãe que amamenta).

É comum que os termos terminados em ‘io’ sejam substantivos primitivos, dos quais, portanto, formam-se outras palavras: litígio, litigioso; vilipêndio, vilipendioso; início, inicial, iniciante; incêndio, incendiário; câmbio, cambial; crânio, craniano (cranioencefálico); benefício, beneficente; critério, criterioso. Sendo adjetivo (sério), tem-se o grupo formador do respectivo derivado – sério, seriedade; hereditário, hereditariedade. Essa formação é similar ao conjunto: sereno, serenidade; ameno, amenidade; divino, divindade; comum, comunidade.

O dicionário registra ‘lipídio’, tipo de gordura, da família lipo, liposo, lipoide, lipoaspiração. Certa bula escreve ‘lipídeo’, o que é duvidoso, assim como não se considera viável que glicídeo seja variante de glicídio.

Se temos ‘áudio’, com ‘io’, ‘vídeo’, com ‘eo’, é da família de ‘videre’ (ver, visão, visual). Bom lembrar que ‘video’, sem acento agudo, tem a mesma grafia em Inglês, muito usado em compostos como videoaula (tudo junto, sem acento gráfico). Outros: videoarte, videocâmara, videoclipe, videoclube, videoconferência, videodisco, videogueime, videolêiser, videolocadora, videotexto, videopôquer. Isso requer cuidado. O dicionário diz videogame e videolaser. Optei pelas grafias aportuguesadas, como já é praxe se usar ‘videoteipe’.

Há homônimos para palavras terminadas em eo, io: ósseo, ócio; sério, céreo (de cera). Não confunda estéreo (relativo a som) com estéril, que forma esterilidade, esterilizar, e ainda com histérico, que vem de histeria. Os três últimos não são homônimos, mas parônimos.

Se tiver uma pergunta escabrosa, mande-a para o e-mail joaocarlosdeoliveiraoliveira@bol.com.br, que farei a tentativa de responder. Na próxima, irei dissecar a palavra ‘miscelânea’, que tem sofrido por aí. É ela que gera o adjetivo ‘miscível’, tão poético, mas pouco usual.

Teixeira de Freitas, BA, 26 de dezembro de 2016. João Carlos de Oliveira. Abraços.

 

 

João Carlos de Oliveira

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