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Dê sua opinião: ‘De segunda a sexta-feira’ – ‘De segunda à sexta-feira’

O suporte para ser usado o acento GRAVE indicativo da crase é a palavra feminina, precedida do artigo feminino – a, singular, ou as, plural.

‘Segunda’ (segunda-feira), na frase-título deste comentário, não está precedida do respectivo artigo (a), portanto, na sequência, o elemento ‘a’, que antecede ‘sexta-feira’, não é a fusão de artigo e preposição; trata-se, apenas, da preposição ‘a’; assim, não pode ser craseado. Sua opinião deve ser esta – a primeira escrita está correta, sem crase; a segunda, com crase, não. Por quê?

Crase é ‘mistura’, respeitado o significado do vocábulo grego ‘krasis’. Trasladada essa semântica para a nossa ‘Flor do Lácio’ (Olavo Bilac), crase é a fusão ou a contração de duas vogais idênticas, principalmente da preposição a com o artigo a, as, ou com os pronomes demonstrativos a, as, aquele, aqueles, aquela, aquelas e aquilo. Dê uma parada: ‘idêntica’ é pessoa ou coisa igual a outra. Não tome o vocábulo com a conotação popular de que seja ‘coisa parecida’. Alguém faz referência a duas senhoras que ele conhece, e diz “Como são parecidas! São idênticas!” Vale o significado do primeiro adjetivo. Se são ‘parecidas’, não podem ser iguais. Parecido não é o mesmo que idêntico. No popular, o idêntico é o sósia.

Você deve estar pensando – artigo a(s) e pronomes demonstrativos a(s)? Como podem ser diferentes se têm a mesma a grafia? É fácil. Na frase ‘Fui à fazenda ontem’ – bem simples -, existem a preposição a, exigência do verbo ir – quem vai, vai a um lugar, e o artigo feminino a, que caracteriza ‘fazenda’ Fundindo-se os dois elementos (a+a), temos à – Fui à loja, à roça, à missa, à praia, à rua. Já na frase ‘Esta peça é igual à que eu vi ontem, por isso não serve’, existe o pronome demonstrativo a. A propósito, o adjetivo igual, por sua regência, exige a preposição a: Você é igual a mim. (Não use ‘Você é igual eu‘.) A peça é igual a uma – igual àquela. Pronome demonstrativo. Esta peça é igual àquela que eu vi ontem.

Não é demais repetir que não se pode usar ‘a’, preposição, separada de ‘aquele’ – Não ligue a aquele homem, que ele é doido. Não existe essa separação. Não ligue àquele homem. São boas estas redações: Não se refira àquela mulher. Não se humilhe àqueles indivíduos.

Dou uma paradinha para dizer que algumas pessoas pronunciam certos vocábulos com uma ‘crase’ (o que não é aconselhável): caatinga vira ‘catinga’, cooperativa se torna ‘coperativa’, alcoólico passa a ser ‘alcólico’ (bebida alcólica; melhor dizer bebida al-co-ó-li-ca, bem pronunciado).

Fui longe? Resposta sucinta: ‘De segunda a sexta-feira’ é a grafia correta, porque, não havendo o artigo a precedendo ‘segunda’, não se pode usar crase antes de ‘sexta-feira’. Para haver crase, é necessário o artigo a antes de ambos os termos. A frase ficaria assim – Atendemos da segunda à sexta-feira. Pode parecer estranho, mas é o correto. Note este caso: Maternal da primeira à quarta série. Maternal de primeira a quarta série. Qual seria a redação de sua preferência? Ambas estão corretas. Uma ou outra deve ser usada por uma questão de estilo, mas é incorreto usar ‘Maternal de primeira à quarta série’, que recai na mesma explicação da frase-título.

Tenho um artigo sobre crase, quase completo, neste sítio. O de hoje é bem sucinto.

Faça auê com estes enunciados: ‘Fez um discurso a Rui Barbosa’ está correto (sem crase) – alguém que, na época em que ambos eram vivos, fez um discurso homenageando o grande jurisconsulto baiano. ‘Fez um discurso à Rui Barbosa’, também correto (com crase) – alguém que fez um discurso à moda do orador baiano, com suas guinadas, frases longas, metafóricas etc.

Teixeira de Freitas, BA. João Carlos de Oliveira. (Não use Ba – sigla de bário. A sigla de um Estado é sempre com duas letras maiúsculas – CE, MA, MS, MT).

 

 

João Carlos de Oliveira

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