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Deve haver ‘ponto’ entre as letras de uma sigla?

Deve‘ implica obrigatoriedade; pode haver, mas não seria aconselhável. A Gramática Normativa pouco diz sobre esse uso.

A maneira ideal de ser grafada a sigla é com letras maiúsculas sem intercalar pontos, forma estética nem sempre encontrada. Encontram-se grafias com e sem pontos no mesmo texto, o que indica suprema inquietação de usuários. Cartazes, panfletos, fôlderes e artigos diversos, com pouca exceção, têm demonstrado essa dúvida.

A começar pelas siglas dos Estados brasileiros, encontramos sem pontos e com. Na relação de jogos da Loteca, em exposição em Casas Lotéricas, vê-se S.P (para indicar o Estado) e SP (com a mesma finalidade), até S/P. A regra estaria clara na nossa pouco consultada Gramática: a sigla dos Estados deve ser com duas letras maiúsculas (sem pontos intercalados). Simples, tem como objetivo facilitar e dar estética à aparência textual: BA (Estado da Bahia), e nunca B.A., B.A ou B/A, e muito menos Ba. Aliás, Ba é o símbolo químico de Bário, metal pesado de número atômico 56.

O Instituto Nacional de Seguridade Social é conhecido por INSS, sigla comum aos brasileiros. Sua grafia não deve ser I.N.S.S. Antiestética, ocuparia maior espaço no texto, descumprindo, entre outros, o objetivo da simplificação. Nos meus idos anos de estudante do Curso Clássico, por volta de 1968, usávamos I.N.P.S. (Instituto Nacional da Previdência Social). Brincávamos por que algumas pessoas chamavam-no de I.ne.pe.ci (possível pronúncia), considerando que seria I.ene.pe.es.se. Quanto à grafia, tínhamos dúvida da forma adequada: INPS.

Há quem use um ponto quando a sigla tem duas letras: C.A (fictício). Se houvesse determinação gramatical, seria um ponto para cada letra: C.A. Ou se usa após todas, ou não se usa após nenhuma delas.

Vai-se a uma repartição pública e lá pode aparecer ‘Dirija-se ao setor de R.H ao lado’. RH ou R.H.? Não-recomendado, se o ponto fosse necessário, seriam dois (R.H.), mas a estética nos convida a grafar apenas RH.

Siglas nacionais e/ou regionais conhecidas: BBB, CBF, CNH, CNJ, CEP, CPF, CPI, ET, IBGE, MPE, MPF, PUC (PUC/BA), PIB, PRE, PRF, SENAC, SENAI, SESI, SUS, TCM, TRE, UEFS. A siga USP (Universidade de São Paulo) pode tornar-se um termo ‘primitivo’ e gerar um verbete: uspiano, assim como AIDS, aidético. Nome de partido tem ganhado essa performance: petista, petebista, peemedebista etc. O plural de algumas siglas requer cuidado: acrescentar apenas s (minúsculo): PMs, ETs, OVNIs. O modo de repórteres usarem siglas muito conhecidas não é aconselhável: usam ONU e ‘explicam’. Basta ONU, ou, por extenso, Organização das Nações Unidas. Num texto, usada a definição uma vez, daí em diante, apenas ONU, sem qualquer explicação. Imagine o advogado usar CLT na Ação Trabalhista e a todo o momento que citá-la acrescentar sua definição.

PSDB, sem ponto. P.S.D.B. tem aspecto de fealdade, inadequado à praticidade. Certo texto policial grafa NHT (Núcleo de Homicídio e Tráfico) e N.H.T, em seguida. Visto o critério do ponto, seria N.H.T., mas não apresentaria boa estética. Apenas NHT.

Nesta Cidade, temos HMTF, Hospital Municipal de Teixeira de Freitas. Como essa grafia se popularizou, ninguém, em sã consciência, se atreve a escrevê-la H.M.T.F. ou H.M.T.F, fato comum em outras siglas: onde há quatro letras, aparecem três pontos. Nenhum é obrigatório. Seria um ponto para cada letra: duas letras, dois pontos; três letras, três pontos; quatro letras, quatro pontos.

A grafia de sigla deve ser sem o uso de ‘ponto(s)’.

A sigla TEC (fictícia) representaria a atividade de uma empresa: Tecnologia Específica de Computadores. Está claro o porquê da sigla, com bonita estampa em outdoor. Não seria ideal, então, que a empresa optasse pela grafia T.E.C (usando dois pontos). Com três, atendendo à estética gramatical, também não teria aparência mais vantajosa que a forma sem ponto: TEC.

Obras didáticas do passado traziam relação das siglas mais usuais sem usar ponto: IBGE, SENAC, MEC, MEC-USAID.

Usamos com fartura BB, BC, BM, FMI, OAB, OMS etc. A.N.A.C, A.N.A.C. ou ANAC? ANAC, apenas.

Se usamos CAEMA, HEMOBA, por que vamos usar N.H.T?

Fica dito: a intercalação de ‘pontos’ entre as letras de uma sigla a torna feia e com pouca praticidade.

Sigla, do Latim sigla, é o conjunto das letras iniciais dos vocábulos que formam um nome próprio, para representar uma instituição, entidade comercial, industrial, administrativa ou esportiva: ONU, CBF, BRADESCO. Não a confunda com abreviatura ou abreviação. Use h (hora, horas); m (metro, metros); Ped (Pediatria, pediatra).

Pausa: 1. Garoto de dois anos e alguns dias é falante. Os pais o chamam de ‘príncipe’. Ele, muito observador, sabendo que a mãe está grávida de uma menina, pergunta: “Mãe, que dia vai nascer minha ‘príncipa’, rindo?” É prático o danadinho. Comunicativo, diz “Eu sabo.” Ora, se ele diz ‘Eu falo’, de falar, logicamente, vai dizer ‘Eu sabo’, de saber. Melhor que o adulto dizer ‘Eu tinha trago a muchila’, para ‘Eu tinha trazido a mochila’. 2. Seria comum certa pronúncia trocar ‘o’ por ‘u’ – mulambo, no lugar de molambo, muqueca no lugar de moqueca, bunito no lugar de bonito; mas é estranho ouvir-se ou grafar ‘cano entopido’ além de  ‘Faz desentopimento de esgoto’. Correta a grafia ‘tu‘: entupimento, entupir, desentupir, desentupimento, desentupido etc., palavras que formam uma família etimológica. Mas ‘entope, desentope’. Essas flexões influenciariam o erro?

Volte aqui amanhã, porque quero falar com e para você.

João Carlos de Oliveira

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