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Dicas para ser usado o imperativo nas pessoas tu, você e vós

Pelo que o bom ouvido nota, seria comum haver dificuldade para o uso correto de formas verbais nos imperativos afirmativo e negativo, mesmo nas formas populares (tu, você), além de mais três pessoas: nós, vós, vocês.

Se há dúvida quanto à conjugação de verbos em outros tempos, seria imaginável que os imperativos são muito mais difíceis.

Este comentário se concentra no imperativo afirmativo.

Poucos distinguem a que pessoa verbal pertencem as formas ‘vai’ e ‘vá’. Um aviso usa a forma ‘compre’, e, em seguida, “Vai lá.” Acabou de haver erro de tratamento verbal no texto. Estão misturadas as pessoas ‘você’ e ‘tu’, que, embora indiquem com quem se fala, a flexão verbal difere de uma para a outra.

‘Compre’, no imperativo afirmativo, pertence à pessoa ‘você’. ‘Compro’, a primeira pessoa do singular do indicativo, de comprar, é forma primitiva, que dá origem ao presente do subjuntivo: que eu compre, que tu compres, que ele compre, que nós compremos, que vós compreis, que eles comprem. A partir desse tempo, forma-se o imperativo afirmativo para as pessoas ‘você, nós, vocês’: Compre (você), compremos (nós), comprem (vocês). As duas restantes (tu, vós) são formadas do presente do indicativo mediante o corte do S: tu compras, vós comprais; menos o S, compra (tu), comprai (vós). As flexões do verbo comprar no imperativo afirmativo são: compre (você), compra (tu), compremos (nós), comprai (vós), comprem (vocês).

‘Vai’ a que pessoa pertence? Fácil seria entender  que ‘vais’ é do verbo ir (tu). Eliminado o S, temos ‘vai’ (tu). Conclui-se que houve mistura de pessoas verbais, que não deve acontecer, por descumprir a regra da uniformidade de tratamento no mesmo conjunto textual.

Se o redator opta por ‘compre’, terá que usar ‘vá’. ‘Compra’ exige ‘vai’. Redação correta na mesma pessoa verbal: Compre sapatos na loja Capitu. lá (você). Compra sapatos na loja Capitu. Vai lá (tu).

O fato de o imperativo ser formado com base em dois tempos (presente do indicativo e presente do subjuntivo) dificulta ainda mais as flexões nas cinco pessoas em se tratando da linguagem coloquial.

“Avisa seu pai que vou lá amanhã”. Se há o pronome possessivo ‘seu’, o tratamento está na pessoa ‘você’. ‘Avisa’ pertence à pessoa tu, logo Avise seu pai que vou lá amanhã (você) ou Avisa teu pai que vou lá amanhã (tu).

No dia a dia, grande parte dos enunciados descumpre essa regra salutar da Gramática Normativa. Vem pra cá, você é meu convidado. Corrijamos: Venha pra cá, você é meu convidado. Vem pra cá, tu és meu convidado.

‘Passa lá’ é relativo à pessoa tu. Se antes houve a flexão ‘adquira’ (você), a forma correta é ‘passe lá’, mas para alguns ‘passe’ é expressão pouco convidativa, razão por que escolhem erradamente. Se a redação anterior tiver sido ‘Adquire teu cupom na Capitu’ (tu), a outra parte é que seria ‘passa lá’.

Uma obra divulga pensamentos de famosos (Pablo Picasso, Miguel de Cervantes etc.) e diz que o pensamento ‘Pratique cada um dos teus atos como se fosse o último da tua vida’ é de autoria de Marco Aurélio, imperador romano. Bonito enunciado, mas, se foram usados os pronomes possessivos ‘teus, ‘tua’, fica claro que o tratamento está na pessoa ‘tu’. Nesse caso, a primeira forma verbal do pensamento (Pratique) pertence à pessoa você: ‘que você pratique’ (subjuntivo, primitivo); ‘pratique’ (imperativo, derivado).

Correção: ‘Pratica cada um dos teus atos como se fosse o último da tua vida’ (tu). ‘Pratique cada um dos seus atos como se fosse o último da sua vida’ (você).

Aliás, ‘dos teus atos’ ou ‘de teus atos’? O uso do artigo definido antes de pronomes possessivos é opcional: de meu pai, do meu pai; de minha mãe, da minha mãe.

Se foi dificultoso usar as formas corretas das pessoas tu, você, a da pessoa vós se tornaria mais dificultosa ainda.

Enunciados nas cinco pessoas verbais: Siga este caminho, que chegará lá (você). Segue este caminho, que chegarás lá (tu). Sigamos este caminho, que chegaremos lá (nós). Segui este caminho, que chegareis lá (vós). Sigam este caminho, que chegarão lá (vocês). Ofereça o presente a seu pai. Oferece o presente a teu pai. Ofereçamos o presente a nosso pai. Oferecei o presente a vosso pai. Ofereçam o presente a seu pai (ao pai de vocês). Eduque seu filho com sabedoria. Educa teu filho com sabedoria. Eduquemos nosso filho com sabedoria. Educai vosso filho com sabedoria. Eduquem seu(s) filho(s) com sabedoria.

Nos comentários sobre textos bíblicos, tem sido comum a mistura de pessoas verbais. ‘Se te sentes infeliz, lembre-se de Mim’. Correção: Se te sentes infeliz, lembra-te de Mim’.

Se mantida a segunda parte do enunciado, a primeira seria mudada: ‘Se se sente infeliz, lembre-se de Mim’.

Normalmente, o tratamento bíblico é na segunda pessoa do plural (vós), mesmo sendo dirigido a uma só pessoa (Santo Expedito, Nosso Senhor Jesus Cristo) por indicar respeito.

Didaticamente, pode-se reescrever um trecho de oração, que está na pessoa vós, para a pessoa tu: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!” (vós). Texto original. “Sacrifica-te pelos pecadores e dize muitas vezes, em especial sempre que fizeres algum sacrifício: Ó Jesus, é por Teu amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!” (tu). Texto adaptado.

Todo cuidado é pouco com texto bíblico para que a pessoa verbal não seja alterada e se evite a mistura ‘tu, vós’. Seriam deslizes gramaticais imperdoáveis.

Pode haver forma imperativa na primeira pessoa do singular? Não, isso não é comum. A frase ‘Possa eu ser feliz!’ estaria no imperativo afirmativo? Não. Trata-se de frase optativa, que indica desejo: Que eu possa ser feliz! (escrita em outra ordem), como se usa ‘Que você seja feliz na companhia dessa pessoa!’

Fica dito.

 

 

 

João Carlos de Oliveira

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