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Como nasceram as palavras? De onde vêm as que usamos na Língua Portuguesa?

Parte I

O nascimento das palavras seria aleatório? Cada descoberta se deu por acaso?

Os filólogos têm explicado muito sobre a origem das palavras, mas pouco dizem sobre a forma de seu surgimento.

Nossos indígenas criaram palavras com base na cor, no formato e tamanho, na função e na utilidade do objeto? Com base no que fazia o animal? Que nome, em tupi-guarani, foi dado ao peixe-elétrico? O que é porangatu? Itaoca, casa de pedra; tamanduá, aquele que se alimenta de formigas. (?)

‘Trovão’ surgiu por causa do barulho? ‘Tuaregue’, do Berbere, termo típico da região, com pronúncia elegante, significaria ‘homem nômade do deserto’ (no Norte da África)?

Ficamos ansiosos por saber como foram criadas as palavras. Certo, como insinua a Filologia, ciência que estuda o étimo dos termos que compõem a linguagem, é que vieram a lume conforme a necessidade de comunicação do ser humano em priscas eras. Outra curiosidade seria saber a que idioma pertence um vocábulo, e isso os livros modernos explicam com certa satisfação. Tatame, do Nipônico, seria ‘esteira em que se luta’? Caratê, nós sabemos, vem a ser ‘a arte marcial das mãos vazias’. Nele, não se usa arma, mas as mãos, a agilidade, a esperteza (‘as armas’ do bom carateca).

Lendo um bom texto, foram-me ‘mostradas’ as palavras ‘halterofilia, opíparo, mitômano’. Ouvindo alguém falar, foi-me ‘sonorizada’ a palavra ‘devotório’.

Essas poderiam ser explicadas? Se estivéssemos na aula do grandioso professor Houaiss, ouviríamos, certamente, boa explicação. E o dicionário não nos ajudaria?

Para se tentar esclarecer, precisamos lançar mão também do processo de formação de palavras a partir de radicais, prefixos e sufixos, entre outros elementos. Já estamos em período avançado, não se tratando do porquê de ter surgido o vocábulo, mas, com o vocábulo em mão, sabendo o idioma de que se originou, mostrar detalhes sobre ele e sua variada semântica (parte do significado das palavras).

O devoto de Padim Ciço, em especial no Ceará, teria o pé da cruz para fazer devoção a seu padroeiro; assim, portanto, ‘devotório’ seria o lugar em que o devoto acende velas e deposita oferendas. Se o dicionário não o registra, como derivado sufixal, devotório passa a ser neologismo, cabível por existirem outros termos com o mesmo sufixo: lavatório, consultório, escritório etc.

‘Mitômano’, como nos mostram as partes dessa palavra, seria aquele obcecado pela mitologia. Mito, ‘palavra expressa, fábula’, vem do Grego mythos. Por extensão, relato ou narrativa de origem remota e significação simbólica. Daí surge a mitologia. Depois dela, a mitomania, que dá origem a mitomaníaco e, como redução da palavra, mitômano, indivíduo que apresenta tendência patológica de elaborar mentiras e fabulações, do léxico, (que existe farturosamente no mundo moderno, haja vista que a ficção e a realidade explicitam muitas doenças psicóticas atuais).

Opíparo, termo latino, é ‘abundante, lauto, faustoso, magnificente’. Como surgiu essa palavra? No tempo da leva expressiva de filósofos em que alguém ouviu um som, vários sons, e os relacionou com outra palavra, e nasceu ‘opiparu’, isto é, ‘o que é abundante na Natureza’?, assim como surgiu o onomatopeico ‘bem-te-vi’, que nos encanta. Existe um fazendo a mesma estrepolia sinfônica no seu quintal?

Halterofilia é o esporte que consiste em levantar pesos, os chamados ‘halteres’. Daí tem-se o halterofilista, que gosta de ‘halteres’, mostrando sua musculosidade, sua força bruta. Mas ‘halteres’ surgiu em que momento, por que motivo? Ah! Havia um professor e ele disse ao aprendiz (veja imagens de ‘Caratê Quide’, forma aportuguesada, estranha!) ‘suspenda os braços e se pendure nessas barras de ferro’. Esse nome foi criado da mesma forma como o linguajar anglo-saxônico repetiu, carinhosamente, ‘father’, criando a sonoridade ‘dad’, que hoje significa ‘papai’?

Este artigo, tolinho!, nada explica cientificamente, mas esse questionamento é a forma de muitos pensarem, inclusive os doutos em filologia: como nasceram as palavras?

Domingos Paschoal Cegalla, nosso excelente gramático, entre outros, em Novíssima Gramática da Língua Portuguesa (agora, vetusta), datada de 1977, registra: 1. “A Gramática, segundo a conceituamos, não é nem deve ser um fim, senão um meio posto a nosso alcance para disciplinar a linguagem e atingir a forma ideal da expressão oral e escrita”, in Prefácio (da referida obra). 2. “Linguagem é a faculdade que o homem tem de se exprimir e comunicar por meio da fala. Cada povo exerce essa capacidade através de um determinado código linguístico, ou seja, utilizando um sistema de signos vocais distintos e significativos, a que se dá o nome de língua ou idioma”, in Introdução (idem).

Essas definições, quase perfeitas, as quais não nos cabe contestar, são relativas à história da linguagem dos povos ‘depois que as palavras surgiram’, em especial no Latim e Grego para nós brasileiros. Esse o papel da Gramática Histórica. Mas antes, à medida que foram surgindo, sabendo-se que a linguagem oral é anterior à escrita, como nasceu cada vocábulo? Do som produzido pelas coisas, da cor dos objetos, da aparência dos seres, da função de uma ferramenta utilizada pelo homem, do barulho da água, do vento, da fagulha do fogo? Do balbuciar do homem para explicar algo à sua frente?

A fala do ser humano, culto ou não, como todos sabemos, e nos ensinam os compêndios escolares gramaticais, divide a Gramática em Fonética (e Fonologia), Morfologia, Sintaxe, Semântica e Estilística.

A fala é individual, e deve ser respeitada. A Semântica, de que tanto gosto, é rica, com seus significados regionais e curiosos. A Estilística é a arte de escrever, a mais bonita em cada escritor ou falante, e jamais deve ser imitada.

Paremos, por aqui, deixando uma vasta lacuna sobre a origem das palavras, que talvez a Antropologia saiba explicar. Certo é que a imagem, por exemplo, serviu de base para a criação de palavras, que eram, no início, apenas sons. No nosso Português Arcaico, na época da invasão da Península Ibérica, em que os dominados foram obrigados a aprender o idioma dos dominantes, como nos ensina e relata o filólogo Alpheu Tersariol, in Gramática Histórica, p. 11 (… “os iberos foram obrigados a aprender a língua dos romanos…”), encontramos ‘aca’, que significa ‘lá’. Como surgiu essa ‘sonoridade’?

Para indicar um objeto, para mostrá-lo, o falante usaria ‘sons guturais’ que insinuassem um animal ou coisa? Qual som, “hã, há, ê, é…”, até se formar ‘um vocábulo sonoro’, se assim pudermos falar, que foi registrado na escrita muitos anos depois?

Aguarde a Parte II.

 

 

 

João Carlos de Oliveira

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