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Grafia em texto comentando a existência de uma personalidade: “À 9 anos atrás”

A expressão acima pode apresentar outras variantes, também usadas pelo mundo afora da linguagem escrita. Quando falada, o erro pode não ser detectado, exceto quanto ao uso de ‘atrás’.

À 9 anos…

Há 9 anos atrás…

Há 9 anos…

A partir do momento em que o usuário, mesmo com dúvida, opta pelo verbo haver, vem à tona o bom uso gramatical. Analise essas escritas; entretanto, a presença de atrás, nesse conjunto, continua borrando a semântica da mensagem.

Qual tem feito parte de seu estilo de falar ou escrever? Qual você considera a correta? Seria possível alguém dizer que gosta de uma e de outra não?

A correta pode passar despercebida; por isso, o lapso.

Nunca, cabe a crase no lugar de ; o pior é o acréscimo de ‘atrás’.

À 9 anos… errada.

À 9 anos atrás… péssima.

A 9 anos… ainda, errada, mas sofrível.

Há 9 anos atrás… errada.

Há 9 anos… agora, sim, a correta.

Como tem sido sua visão sobre esse modo de escrita, comum em muitos casos, ainda não corrigido ou compreendido?

Precisa-se dizer que ‘atrás’ já contém o sentido de passado, contido em ‘há’?

Então, escolha: Há 9 anos ou 9 anos atrás.

Desconecte o uso simultâneo de há e atrás. Ou um ou outro. Fica fácil.

Parece que essa redação tem sido complicada para alguns; basta ser entendida e usada.

Já leu algum comentário sobre esse tal de ‘há tantos anos atrás’? Por quê? Se nos referimos ao passado, ‘atrás’, casado com ‘há’, é redundante, o que cria pleonasmo vicioso ‘chato’, embora companheiro do dia a dia na linguagem badalada de muitos.

Não somos perfeitos, é claro, e isso não seria intenção deste comentário, mas conhecer… conhecer e usar melhor a linguagem. Ruim é fazer errado pensando que está falando certo. Ruim é repetir uma frase somente porque outros a usam rotineiramente.

Entre os erros de Português, a que prefiro classificá-los de ‘lapsos’ ou ‘enganos linguísticos’, esse corre muito. A fala da TV adora essa linguagem de tantos dias ‘atrás’; caberia, mas se não fosse usado o verbo haver. Um termo elimina o outro automaticamente.

Há 9 anos atrás.

Há 9 anos.

9 anos atrás.

Essas as três opções mais usuais, mas somente as duas últimas são lógicas, e aceitas pela norma culta.

Nesse aspecto, todo atrás atrapalha. A diferença é que o usuário não nota, e acha normal o uso.

Pode ser feita a comparação, ligeira, entre e a.

Se indicamos tempo passado, usamos. Se indicamos tempo futuro, ou distância, proximidade, usamos a.

Há anos moro nesta casa. (Moro nesta casa há anos.)

Daqui a pouco, vou sair.

Estou a um metro do chão.

Cuidado, nesse momento, com o uso da crase. Ficou à distância de dois metros. Ficou a uma distância de dois metros.

Não use ‘Ficou à dois metros de distância’.

Veja os exemplos que você usa, e os compare com esses. Se teria o costume de trocar ‘há’ por ‘a’ ou ‘à’, começará a perceber a diferença. E com certeza a constância correta dissipará o mau uso.

Quando o cidadão comum usa esse caso, não se deve ter nenhum espanto. Quando a linguagem televisiva a usa, e faz dela o tradicional, podemos ficar de olhos arregalados.

Apenas, isso.

Vamos variar um pouco?

O dicionário registra ‘mulherengo’: adj. e s. m. Diz-se de ou homem que tem, ou se esforça por ter, muitas aventuras com mulheres, ou que as persegue, fazendo-lhes corte. Definição de um deles.

E para se referir ao sexo oposto com essa tendência qual seria o termo?

Se tudo é moderno, se os direitos são iguais entre macho e fêmea, e se os costumes nesse aspecto abrangem ambos os sexos, deveria constar ‘homerengo(a)‘, fazendo a definição voltada às atitudes do sexo feminino.

Seria uma questão de lógica. Um dia, vão registrar o termo com a definição correta, sem discriminação ou pejoração.

Analise que a forma verbal ‘persegue’, usada na definição de mulherengo, não traz sentido pejorativo ou de assédio. Equivaleria, apenas, a busca, procura, como aventura amorosa; seria o jeito de fazer corte, como o galo pedrês no quintal fica se ensaiando para as frangas mais bonitas.

Num hospital da região, onde fui atendido, havia a frase comentada abaixo. Bonito, limpeza total, boa aparência e muto anúncio. Anúncios por todos os cantos, para esclarecer os procedimentos médico-éticos etc.; pelo menos, seria a forma de se pensar.

Ei-lo:

“Pronto Atendimento

Srs. Pacientes,

Para melhor atendê-los, fica padronizado os horários para realização de curativos diário” (grifo nosso).

E agora? Quais os retoques? Assim como se usa Pronto-Socorro, deve ser Pronto-Atendimento, grafia em que faltou o hífen; aliás, o hífen tem sofrido no dia a dia, esquecido que é: Bolsa-Família, Bolsa-Escola, Vale-Gás, Pronto-Socorro etc.

A vírgula após o vocativo (Srs. Pacientes) é ótimo uso, já que outros anúncios a esquecem: ‘Sr. Cliente nesta loja existe um Código do Consumidor (exigência legal)’, numa casa comercial.

A forma verbal ‘atendê-los’, também; representa uma boa linguagem, com tratamento adequado. Aquela forma ‘Para lhe atender’ é Português ruim.

Adiante, ‘fica padronizado os horários‘. O substantivo ‘horários’, no plural, como está, exige a concordância verbal e nominal adequada: FICAM PADRONIZADOS OS HORÁRIOS. A não ser que seja tudo no singular: fica padronizado o horário de curativos. E seria muito melhor assim, pois foi usado, em seguida, o adjetivo ‘diário’, certamente, não se referindo a ‘curativos’, mas a ‘horário’.

Se fosse usado ‘curativos diários’, poderia ocorrer confusão semântica, e o paciente não entendê-la.

Coloquemos a frase numa linguagem individual, no singular:

Sr. Paciente, para melhor atendê-lo, fica padronizado o horário para realização de curativos diário.

No plural:

Srs. Pacientes, para melhor atendê-los, ficam padronizados os horários para realização de curativos diários.

Melhorou?

Parece que sim. A diferença é que o horário ‘padronizado’ não foi citado no anúncio. Qual seria?

Assim, o nosso Português cotidiano, e, por isso, na tentativa de esclarecer dúvidas, surge do nada um colunista como este. Concorda?

Repetição benéfica de grafias: maisena, apesar de, perante Deus (nunca perante a Deus, e com crase pior), muçarela, à paisana, ultrassom, ultrassonografia, misto-quente, misto-frio, misto, mistura, misturado, noz-moscada, protege, possui, meio-ambiente, açúcares, álcoois, afrodescendente, de repente, repentinamente (de repentemente, não!).

Obrigado pela visita. Aguardo você outras vezes.

João Carlos de Oliveira

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