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Expressões coloquiais: Tô nem aí… Bora, gente! Vai-se lascar… Coitado, anda de cabeça inchada!… O pau quebrou!…

Linguagem coloquial solta, à vontade. Não é gíria nem termo de calão.

É a perfeita informalidade, que se vai repetindo, e certamente nasce do falar simples, sem pabulagem nem ostentação.

No momento culto, do discurso impoluto, o orador não as usa para não dar má impressão, mas pode dizer algo parecido que se encaixe num momento de crítica ou ironia, intercalando o culto e o popular com o Regionalismo.

Nos barezinhos da vida, o contador de causos que narra fato excêntrico, e faz o ouvinte extrapolar nas risadas, pode usar expressões assim, como outras criadas ‘na horinha certa’.

E por que surgem essas invencionices?

Para fazer gozação, para criticar a vida alheia, para falar do amor fracassado, para debochar do ‘amigo’ que se deu mal numa empreitada: teria tentado conquistar aquela prenda, e ela nem deu bola para ele. ‘Vai procurar uma lavada de roupa, meu filho! Aqui, você ‘num’ tem vez nem vai conseguir uma contradança!’, teria pensado aquela que ele pretendia conquistar.

E a vaca vai pro brejo!

A primeira da lista (Tô nem aí…) é para dizer Num tô nem aí pra o que dizem! Não estou nem um pouco preocupado com quem fala de mim. Que fale, pelo menos estou sendo lembrado.

É pessoa despojada, pra frente, ou pra frentex (esta uma gíria) e não dá bolas para as más línguas.

Expressão muito usada no dia a dia, pelos jovens e alguns mais atirados, como o professor aloprado, ‘Não estou nem aí para o que eles dizem de mim’ encaixa-se em muitos momentos ou serve para dar uma resposta a qualquer típico de crítica que é feita ao sujeito dono do trono de ouro que vem sendo invejado por ter feito algo, para ele, muito bom, mas, para o vizinho importunador ou fuxiqueiro, um desastre, que deveria ser evitado.

Deixem o cara em paz, deixem ‘ele’ (deixem-no) levar a vidinha que Deus lhe deu, e pronto. Ninguém tem nada com isso. Se dorme cedo, se sai com aquele ou aquela, isso não importa. A vida é dele e faz dela a salada que quiser.

Florisbelo, você perdeu o trem quando foi para Minas Gerais? Por quê? Chegou atrasado, por isso, dormiu na estação para pegar o trem do dia seguinte. Bem feito! Quem manda ser bobo!

E o criticado retruca: Tô nem aí ‘com tu’, seu boca de fole, depravado. Enchedor de saco alheio, vá plantar um pé de batata!

A segunda (Bora, gente!) é aquela usada para apressar o fulano considerado lento ou retardatário. Mas cada um tem seu jeito de andar, e se quer chegar cedo, que saia antes da toca. Perdeu o ônibus porque foi negligente. Não pega táxi, saia antes para esperar a chegada do trem. É melhor que chegar atrasado.

Parecido com Bora, gente!, aparece, na fala de alguém que quer dar ares de ‘apresentador’ de programas televisivos, a expressão ‘Gente, aconteceu uma coisa, que nem vou contar pra vocês!’, diz todo empolgado.

Não foi nada. Apenas, seria a história de que fulano calçou a meia furada, que fulana deixou à mostra, sem querer, é claro, uma parte do corpinho lindo, que não poderia ser mostrada, naquela festa de arromba. E lá se vai um milhão dessas evidentes gafes, que eles dizem hoje que ‘são imagens que viralizaram na Internet’. Gente, olha só!, e repete essa frase meio enfadonha dez vezes em um minuto.

A terceira (Vai-se lascar…) é quando o inimigo cometeu um engano, e isso pode levá-lo à bancarrota, e ser tão falado como o ladrão de cavalo que teve a orelha cortada, ou hoje o alguém famoso que não pagou a pensão do filho ou da ex e foi visto na TV defendendo as nuvens que não passeiam no céu dele, no céu da boca dele, que fala muitas bobagens. Quando o azarado é amigo, o comentarista usa a frase ‘Meu amigo vai sair dessa, se Deus quiser! Ele é forte’. Se não, a talzinha acima.

Se não é amigo, nem conhecido ou famoso que usa sobretudo cheio de bolinhas, e está em evidência falando bobices, e ainda o chamam de pessoa influenciadora, o pau come frouxo: que se lasque, quem manda ser metido. Vai-se lascar, isto é, no mínimo, vai pro xilindró ou ficar malvisto.

A quarta (Coitado! Anda de cabeça inchada!…) é quando o camarada perdeu o amor de sua vida, e está dodói, com a cabeça quente, sem saber o que fazer. O amor, que não era (o) dele, deixou-o, e não sabe o que faz da vida: se dorme, se toma umas, se arranja outro, se comete um desatino ou vai embora para outro país, dizendo que foi em busca de melhor ‘qualidade de vida’, expressão que nem sempre diz muita coisa. Aqui, também, teria isso, desde que trabalhe. Se não tem bife, coma bofe (quase rima); se não tem carro, ande a pé, e chegue cedo ao trabalho para cumprir obrigações e receber o salário no fim do mês. Bem regulado, dá para manter o padrão e um dia melhorar. Dê duro, meu filho. A vida é dura para quem é mole, diria o filósofo popular. Mas nada disso faz, só reclama, não faz um curso; no trabalho, vai ao banheiro e fica lá meia hora sentado naquela peça fria (apenas para urinar), o que vem a ser sua suma desdita: pratica a desídia, e acaba caindo na sarjeta: é mandado embora por justa causa, conforme reza o artigo 482 da CLT, que não precisa ser reformada por políticos falastrões ou falaciosos. O dia a dia é que vai ajustando as coisas; cada trabalhador e cada empregador é que devem cumprir o relacionamento no trabalho: um presta bom serviço, e o outro cumpre a obrigação de pagar bem. O mandrião se queixa da sorte, mas vive sob o véu da ignávia, do desleixo ou indolência, a jogar o fato na sorte. O resto é balela.

A quinta (O pau quebrou!…) ou ‘E aí o pau quebrou, que foi um gosto só’ é para dizer que houve um furdunço naquele local. A briguinha à toa, sem pé nem cabeça, rolou solta. Chegou alguém, o quebra-barraco, e armou mais uma: criou o maior caso, a maior bagunça, porque alguém sem querer lhe pisou o pezinho ou houve um esbarrão imprevisto, o que não é motivo para briga nem para socar uma criança em festa de aniversário de jovens prendados ou de debutantes famosas. Basta entender que nada foi intencionado ou premeditado, que foi o acaso. Como acontece no passeio público: um vem, outro vai, e na ‘ultrapassagem’ os ombros se tocam, e o cara vem brigar. Ou aquele que quer passar e toca com a manopla (uma mãozona) no ombro do outro. Por quê? Para quê? Basta esperar um segundo, que o outro passa. Alguém no hipermercado (outro na frente já está tirando a mercadoria do carrinho) chega muito apressado, reclamando, mexendo nas coisas, tirando do lugar um objeto que o comprador ainda vai pegar (o guarda-chuva, o livro, a sacolinha com pastel etc.), alegando que está com pressa. Que é isso, cara! Respeite o direito do outro. Chato é aquele que fica em pé em frente ao caixa cutucando o celular, deixa o carrinho empatando a entrada do próximo cliente, e ainda diz que vai descobrir no arquivo o número do Pix para pagar a conta, dizendo-se ‘moderno, plugado’. Um esnobador, ou esnobe, verdadeiro ‘snob’, no sentido do Inglês anglo-saxônico. Isso dói, pois o Direito deve ser respeitado. Aquele que obstrui a acessibilidade do transeunte no passeio público, em pé, ou aí coloca seu veículo, é um importunador, que se acha.

Basta por hoje. Faça sua comparação, comente com alguém e reúna expressões e narrativas que você, certamente, conhece.

Um abraço.

João Carlos de Oliveira

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