0

Oxente! Assim, estamos lascados!

Vamos reviver alguns termos regionais?

Cada um tem seu saber, sua informação, seu estilo, sua dosagem crítica.

Cada usuário tem suas razões de usá-los por questões familiares ou históricas.

Se for do interesse de alguém, passa a usar uma expressão, também curiosa. Tão enfática, que a risada nasce espontânea.

Ih! cara! Acertou na mosca?

Passou um carro aqui na toda! Isso é perigoso.

‘Isturdia’, aconteceu um mesmo caso aqui! Uma senhora foi atropelada.

(Esses dias mesmos, aconteceu um mesmo caso aqui.)

Você sabe por que Sílvio, aquele menino barrigudo, é chamado de Zoião?

Sim, isso fica claro. Os apelidos Cabeção e Pezão, e outros, são de clara nitidez, e sua semântica não precisa ser explicada.

O bom de tudo isso, entre os amigos, conhecidos e familiares, é o que o uso de qualquer termo desse naipe não tem caráter depreciativo. Não é pejorativo. Ainda bem. Ao contrário, uma ação por danos morais seria ajuizada. Qualquer palavrinha é motivo de muito debate, e os ‘sabidos’, doutores da lei, vêm à tona falar isso e aquilo.

Há ofensa em outros casos, mas nesse conviver pacífico não é assim.

“Sua quenga, onde você andava esse tempo todo? Sumiu do pedaço!”

A amiga, que não foi ofendida, dá uma resposta plausível: viajei ‘pras Oropa’. Conheci Portugal, Espanha, Luxemburgo, Mônaco, Itália!

A conversa vai noite a dentro, e não acaba mais.

O professor está em aula com os pimpolhos. Exigente, quer saber da turma exemplos de palavras que começam com Z, em nosso Português regional, afinadíssimo com nossos costumes, mesmo que a Internet possa intervir.

“Eu sei, professor”, disse Joãozinho, todo siligristido!

E tasca seus dotes: ‘zovido, zoreia, zoio, zurubu’, e a zabelê, ave da fauna local, acaba de cantar, como quem escuta alguma coisa, o motivo geral de muita risada.

E o caro esbaforido? Se dá mal, porque não sabe prosear com ninguém. Palreia, palreira, e fica por isso mesmo.

‘Pai mandou saber se seu ‘Monzés’ está aí? Porque precisa lhe falar sobre a venda da mula manca, se ele vai ficar com ela ou não”.

‘Diga a seu pai, menino, que seu Moisés viajou, e assim que chegar, vai dizer sim ou não’.

Mesmo que essa pronúncia seja estranha, o pior é ouvir de um letrado ‘que a entrada é gra-tu-í-ta’, que ninguém paga nada para assistir ao espetáculo.

Meu ‘adevogado’ quer saber se o senhor, seu Chiquinho, tem ‘fluído’ para isqueiro, que o dele secou.

Não, não temos. Os isqueiros modernos são descartáveis. Usou uma vez, o fluido acaba, e tem que comprar outro.

Naquela casa, tá o maior panavueiro. Todo dia é um grande fuzuê, mas vivem em paz apesar dos entreveros. (Para o gaúcho, panavueiro é um grande facão usado na faina campestre.)

Nessa rua, tem uma moça que é um pitéu.

Ele usa um ‘bonel’ com couro de camurça, importado da França.

Sim, meu filho, na ‘telça’ nós vamos, porque segunda-feira é feriado nacional.

Houve um ‘estrupo’, e o estuprador foi preso em flagrante. A lei deve ser cumprida.

Um dos carros mais usados na década de 1970 foi o Ômega, e meu pai tinha um relógio ‘oméga’ ferradura, da maior qualidade. Obra de arte, que custa caro.

O ruivo pode ser chamado de ‘foveiro’ ou ‘sarará’, e isso não ofende. É uma tradição da linguagem regional, em quase todo o Nordeste brasileiro.

Na cidade de Serrolândia, na região de Jacobina, temos o Arraiá do Licuri, uma festa regional empolgante. O ouricuri tem muitas serventias, além de ser planta nativa resistente à seca. Um tipo de palmeira exuberante pela sua beleza.

Um sujeito porreta. Seu prato preferido é a quenga, que Dona Maria Silveira vende na quitanda. Não é muito caro. Tem mocotó, bucho, mandioca, batata-doce, e outros itens, conforme a localidade. Seria o mesmo prato da ‘vaca-atolada’?

As chuvas fortes na cidade Muquém de São Francisco, na Bahia, deixaram muitos desabrigados. A seca crucial mata animais e plantas; e a chuva excessiva se torna calamitosa.

Moquém, conforme o dicionário, ou ‘muquém’, pronúncia popular, e assim se escreve, é uma grelha de varas onde se põe carne ou peixe para assar ou secar.

Ops! Para secar, pode ser de varas, mas para assar deve ser de ferro ou outro material. A vara, mesmo verde, queima, e o produto cai entre as brasas. Além disso, o camponês teria que fazer um ‘muquém’ em cada vez que for assar sua carninha de bode.

Lascar lenha é fazer as achas para levar ao fogo, e fazer a comida. Um cara lascado pode ser o sem-sorte, coitado, que se dá mal em tudo.

‘Lascado’ pode significar desamparado, sem nenhuma perspectiva de que algo vá dar certo.

‘Oxente’, uma interjeição para indicar espanto, coisa inusitada, vem de ‘Oh! gente’, e se tornou comum no dia a a dia da linguagem regional, hoje, em todo o Brasil, mas com suas raízes nordestinas.

Isso é bom. A cultura sai de um lugar e vai para outro a servir de exemplo para o ecumenismo linguajar. Um termo não tem vida somente em uma região.

São muitos os exemplos. O carioquês, o mineirês, o baianês, e tantos outros linguajares, vivem bem fora de sua região e têm seus adeptos. O importante é que acabem os preconceitos.

Deixem o povo falar. Permitam a cada um escolher a linguajem que mais lhe convier.

Faça a relação dos termos de sua região, que será de grande valia. O cara vive na maior pindaíba. Todo dia, pede dinheiro, e compra na pendura (‘pindura’).

Uma pena é que muitos desses termos estão caindo em desuso. ‘Fica feio falar assim’, alguém diria.

Obrigado por ter lido este comentário, mesmo que tenha algumas lacunas.

Abraços.

 

 

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *