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Tachado e taxado – qual o perfil semântico desses vocábulos?

Certo jornal publicou que um cidadão ‘foi taxado de…’. Um cidadão pode ser ‘tachado’ de corrupto, ladrão, mentiroso etc. Em outros termos, recebe a pecha de – é censurado, acusado, qualificado de um homem sem escrúpulos. Digamos assim. Um produto é que deve ser ‘taxado’ em tantos por cento.

Como é que se usam esses termos de forma correta? Taxado, que vem de taxa, refere-se a percentual, alíquota, porcentagem. O ICMS do leite foi taxado, entre Estados, em 25% (vinte e cinco por cento). Taxar é determinar, estabelecer a taxa do preço de… fixar, em nome da lei ou do poder legítimo, o preço a qualquer objeto de compra e venda (como nos ensina o bom dicionário). Taxar os gastos. Taxar os produtos de importação ou exportação. O óleo in natura de ouricuri foi taxado, na Bahia, em 20% (vinte por cento). Por isso, pagamos as taxas.

Tachar, no sentido estrito do vocábulo, é pôr tacha em (como pregar o solado de um sapato); usar tachas (pequenos pregos) para deixar o solado firme. No sentido restrito, ou figurado, pode-se tachar alguém, censurá-lo, qualificá-lo, acusá-lo. Certa obra didática usa, para distinção do significado dos termos, este enunciado: “Muitas vezes, os incautos é que tacham os talentosos”. Você já foi tachado de ser um grande pilantra? O café, no seu Estado, é taxado de que forma?

Fica claro, portanto, que taxar se refere a objetos, e tachar, a pessoas. Essa seria uma forma de se descobrir, por exclusão, se o termo foi bem ou mal empregado numa frase.

Por outro lado, não confunda taxado com taxativo; este significa ‘incisivo, decidido’. O chefe foi taxativo em seu depoimento. O prefeito foi taxativo – o funcionário que praticar peculato será demitido sumariamente desta Instituição.

O cuidado com vocábulos ora escritos com X, ora com CH, deve ser constante. Conhecem-se estas grafias: maxixe, baixela, xícara, relaxado, xampu, xavante, enxofre, xadrez, e, por outro lado, chinelo, chave, chuva, chuchu, chouriço, pechincha, chumaço, choramingar. Por que grafia diferente se a pronúncia é a mesma? A grafia é devida ao étimo da palavra – de acordo com sua origem, o termo deve ser escrito com X ou CH. Aprende-se esse conceito na Gramática Histórica do nosso idioma e em todos os bons dicionários, em especial, nos chamados ‘etimológicos’.

A outra parte vem da prática – quem é acostumado a escrever não vai usar ‘ameicha’ nem ‘Xamou seu colega de engraçadinho’.

Para concluir, xibio é uma bala em muitas regiões; no vulgar, trata-se de um conceito que se equivale a vagina, prexeca, ou ‘a perseguida’.

O cuidado com o aspecto semântico do vocábulo é intenso: em Portugal, ‘moço’ é o criado; no Brasil, é o jovem, o mancebo; eis a razão por que não se deve dizer que nosso Português, falado em várias nações, deve ser ‘uniformizado’. A imposição para o uso da Gramática Normativa, incluindo o idioma no seu aspecto popular – o mais dinâmico, não deve, sequer, ser pensada. Deixemos o uso da língua acontecer no seu dia a dia.

Roberto Leal, cantor português radicado no Brasil, diz numa música “… colher frutas ao pomar”, enquanto nós, numa frase similar, diríamos “… colher frutas no pomar”.

Você é friento ou friorento? Ambos os termos são corretos. Mas não use Nova York; prefira Nova Iorque, assim como se usa nova-iorquino.

Volte aqui sempre. João Carlos, o poeta-advogado.

João Carlos de Oliveira

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