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Os chamados antropônimos (nomes próprios de pessoas) flexionam no plural?

Como sondagem, essa pergunta foi feita a cinco ou seis pessoas, e houve quem ficasse em dúvida – somente uma disse que sim; e quem dissesse – como colocar no plural se a pessoa é única?

Não se trata de conjecturar a individualidade da pessoa, apenas a possibilidade da flexão – vão ao plural ou não?

Sim, nomes próprios de pessoas e/ou de seres personificados, chamados antropônimos, flexionam no plural – os Gabriéis (a nossa seleção olímpica de futebol masculino tem dois Gabriéis), os Manuéis, os Edgares, os Samuéis, os Joões. Mais fáceis ainda, os terminados em vogal – os Antônios, os Pedros, as Marias, as Josefas, as Anas. Lembramos, ainda, que podemos dizer – os joões-de-barro (os pássaros); estivemos lá em dois Sãos Joões (as datas juninas).

A regra é simples, como quer a Gramática Normativa – os nomes próprios, quando a referência é feita a indivíduos que têm o mesmo nome, são pluralizados como os nomes comuns. Os Alfredos, os Robertos, as Lúcias, os Amadeus. Na linguagem popular, são os xarás; usando-se um termo técnico, são os homônimos. Se o nome próprio já termina em S, pelo fato de não poder receber a desinência S, indicativa do plural, por causa da sonoridade, fica invariável – os Moisés, seguindo a mesma regra que temos para ‘o lápis, os lápis, a cútis, as cútis’.

No conceito popular, fica ‘feio’ se dizer os Rafaéis, os Sandros, as Gabrielas, mas a teoria gramatical da flexão dos vocábulos em número (singular, plural) não vê dessa forma, não vê empecilho nesse metiê próprio de um idioma dinâmico como o Português, talvez mais que muitos outros, embora esses também o sejam.

Fato é, entretanto, quanto ao uso da linguagem coloquial, que essa flexão nos pareça bizarra, mas é correta.

Quando, porém, formos referir-nos a todos os membros da mesma família, apenas o artigo flexiona no plural – os Silva, os Brito, os Oliveira. Fica claro que nesse momento ocorre aí uma elipse, isto é, queremos dizer – todos os membros da família Silva (Brito, Oliveira).

Da mesma forma que os antropônimos (antropos – homem, onimo – nome), os topônimos (nomes próprios de lugar), tanto em sentido figurado (os Brasis – o pobre e o rico), como no aspecto natural do vocábulo, vão ao plural – as Alemanhas Oriental e Ocidental se uniram numa só Alemanha; as Argentinas – a antiga e a moderna; as Rússias – a que pertenceu à outrora União da República Socialista Soviética (da qual se desmembraram estados que se tornaram novas nações) e a nova Rússia. Por assim se dizer.

Os nomes das cidades também podem ir ao plural se quisermos fazer referências históricas, culturais, econômicas, sociais etc. – as Teixeiras de Freitas (a pequena cidade, ainda jovem, emancipada do Município de Alcobaça, e a de hoje, pujante, com seus 130 mil habitantes); as Jacobinas (a do século XX, e a do século XXI, mais progressista e cosmopolita). Não há pecado nem erro nessa flexão pluralizada – apenas, a necessidade semântica (o significado que lhe é dado no contexto) é que a justifica.

Oportunamente, podemos dizer que as siglas e abreviaturas também vão ao plural recebendo a desinência S, sem que seja preciso o uso de um apóstrofo. Note bem – a escrita os CD’s não é correta. Não importa que a grafia seja em letras minúsculas ou maiúsculas. Deve-se apenas seguir modelo deste naipe: as ONGs, os DVDs, os CDs, os LPs, as PMs, os OVNIs.

Ainda lhe resta alguma dúvida, sra. Vanusa? – as Vanusas. E a sra., dona Marília? – as Marílias. E você, Jean? – os Jeans.

Repetimos que não seria usual para uns ou conhecido de outros esse modelo de flexão, mas é absolutamente correto. Não tenha timidez em usar – faça-o sempre que necessário, e bata o pé se alguém contestar sua habilidade linguística. Façam bom uso, srs. Hugos.

Para terminar, pense nisto – por que o voto no Brasil ainda é obrigatório? Que papelão o de um senador, que foi eleito para representar sua Nação, perder o mandato e acabar preso! E a problemática da corrupção? Jean-Baptiste-Henri Lacordaire (1802-1861), orador dominicano-francês, sentenciou: “A sociedade não é mais do que o desenvolvimento da família: se o homem sai da família corrupto, corrupto entrará na sociedade”.

Abraços.

João Carlos de Oliveira

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