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Analise seu cabedal linguístico e diferencie ‘assessoria’ de ‘acessória’. Existe ‘ascessoria’?

Fica claro que em ‘assessoria’ ocorre um hiato – as-ses-so-ri-a, e em ‘acessória’, um ditongo crescente – a-ces-só-ria. A pronúncia do hiato (duas sílabas) é bem diversa da do ditongo (uma sílaba), mas a escrita tem trazido dúvida para ‘assessores’ que usam redação similar a esta – “A ‘acessória‘ de fulano informa que…”, como aconteceu numa publicação em jornal de certa cidade. Há quem pronuncie ‘acessória’ como se fosse ‘assessoria’ ou escreve ‘acessoria’, vocábulo que não existe por estar sem o devido acento agudo. É de bom alvitre avisar que o dicionário, com relação ao adjetivo acessória, no feminino, registra apenas ‘acessório’, o que segue ou acompanha o principal; em sentido similar, ‘suplementar, complementar’. Ao usar acessório, no masculino singular, o autor do texto, falado ou escrito, deve efetuar as flexões necessárias, conforme as regras da concordância nominal – acessórios, acessória, acessórias. Se o usuário não sabe efetuar essas combinações, facilmente vai confundir ACESSÓRIA com ASSESSORIA. Aquele é um adjetivo no feminino singular – secundária, complementar; este é um substantivo no feminino singular – o ato ou o efeito de assessorar. Sinônimo: assessoramento; por extensão, a ‘assistência’ jurídica, parlamentar, linguística etc.

De assessor, temos assessoria, que, por sua vez, é parte da (sua) família etimológica: assessorar, assessorado, assessorando, assessorial, assessório. Assessorial é a qualidade que pode ter um assessor – funções assessoriais. Assessório, apenas um homônimo homófono de acessório, é referente ao assessor – ‘O trabalho assessório do subalterno faz o chefe se tornar um grandioso empreendedor’. Ficam claras as diferenças sinonímicas e gráficas?

Não temos o verbo ‘acessorar’ por não se tratar de um derivado de ‘acessório’. Vamos repetir – ‘acessório’ é um adjetivo, que flexiona em acessória, acessórios, acessórias. Uma loja vende celulares e acessórios (as capinhas e outros). Uma concessionária vende automóveis, peças e acessórios. Existem as peças acessórias das máquinas. Na área do Direito, acessória é a peça que, dependente estritamente da principal, adquire a mesma natureza jurídica (a secundária passa a ter o mesmo valor da inicial).

O cargo de assessor é similar ao de procurador, daí se dá a ‘assistência assessorial’ – cargo do assessor ou conjunto de pessoas que assessora um chefe. O seu assessorado.

Pense mais – acessório nada tem a ver com ‘acessar, acessível, acessado’, embora se pareça graficamente com esses. Quanto ao sentido, acessar – isso todos sabemos – traz a conotação de ‘chegar a, alcançar, atingir’ (um local). Fica fácil entendermos por que um local é ‘acessível’. O passeio público deve ser livre para cada transeunte, deve oferecer a devida ‘acessibilidade’, o que nem sempre acontece – calçadas impróprias, objetos que impedem o acesso, pessoas que ficam paradas, ‘verdadeiros trapiches’ em frente a lojas, cujos donos ou gerentes parece que perderam a noção de liberdade e de direito alheio, e ainda querem ‘chamar’ a clientela. Como?

Após esses detalhes, fixadas as duas grafias básicas – acessório, adjetivo que flexiona em acessória, acessórios e acessórias, e assessoria – da família ‘assessor, assessorar, assessório, assessorial, assessoramento, assessorado’, as dúvidas estão sanadas. Discorda disso? A grafia ‘ascessoria’, com ou sem acento agudo, não existe; é pura invencionice.

Para concluirmos hoje, vamos citar a concordância indevida de um comentário – “Agora, é esperar que seja feito justiça”, redação de um repórter sobre pessoa agredida. Se temos ‘justiça’, substantivo feminino, deve haver a concordância nominal do adjetivo com o substantivo – justiça seja feita.

Seria bom que analisássemos as frases “Atendemos de segunda a sexta-feira’, sem crase, e “Atendemos de segunda à sexta-feira”, com crase. Ora uma ora outra aparecem em vitrinas de lojas, padarias, loterias etc. Evidente que uma está correta; a outra, não. Qual a ruim, qual a prestável? No próximo artigo. Venha conversar comigo.

João Carlos de Oliveira. Teixeira de Freitas, BA, 21 de dezembro de 2016.

 

João Carlos de Oliveira

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