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‘Vamos simbora!’, chamada do astro convocando os fãs a acompanhá-lo. O que é isso, companheiro?

É notável a licença poética que destaca a linguagem informal.

É fenomenal a liberdade de expressão de efeito positivo e enfático ao que o autor deseja mencionar na poesia, no conto e na música, como nesse caso.

‘Simbora’, até certo ponto ‘aceitável’, tem sido repetida nos palcos de shows musicais, mas nem todos sabem usar esse recurso estilístico com maestria, e ruim seria quando outros imitam quem conseguiu êxito. Plágio é violação de direitos autorais, e incomoda. Trata-se de prática abominável o uso de recurso ‘alheio’ como se seu fosse.

Que o uso de ‘vamos simbora’ seja de pura criatividade, mas nem sempre parece ser nem demonstra, por o usuário ‘deslizar’ em outros momentos e/ou em outros falares.

‘Vamo-nos embora’, a forma culta, estaria no mesmo patamar dessa popular? Fica a depender dos olhares de cada um, mas, certamente, não. Também não agrada quando o usuário culto manda ver ‘vamos nos embora’, com o pronome oblíquo átono ‘solto’ entre as palavras. Uma vez que não exista termo atrativo, razão por que também não deve ser começado o enunciado com o pronome oblíquo (‘Nos acompanhe nesta jornada’, como costuma usar jornalista ao dar a chamada no seu programa televisivo de relevância), a ênclise deve ter preferência (vamo-nos, acompanhe-nos), mas pouco usual, tão reduzida sua aceitação e tão poucas vezes vista por aí.

‘Simbora’ é a contração de ‘se’ (pron. oblíq. át.) com ‘embora’ (adv.) sob o complacente olhar da alteração fonética. ‘Embora’ é a aglutinação de ‘em boa hora’, advérbio. Pode ainda funcionar como conjunção (apesar de que, ainda que, conquanto) e interjeição (avante, vamos!).

Se conjugado o verbo ‘ir’ pronominal (ir-se), de que se deriva ‘vamos simbora’, como ficaria no presente do indicativo (para acompanhar o tempo em que aparece essa expressão)? Exceto no momento de descontração (Vou-me agora), não teria boa aceitação e seria bastante ‘enjoadinho’ fazer uso dessas formas verbais no dia a dia em ambiente informal. Ei-las como ilustração deste comentário: vou-me, vais-te, vai-se, vamo-nos, ides-vos, vão-se. Como ênfase, ‘embora’ pode juntar-se a cada pessoa.

‘Vou embora’ ou ‘Vou-me embora’ tornou-se popular, e sob o viés de semântica conhecida indicaria ‘Estou saindo agora’. Não deixa de ser boa forma de comunicação informal, sem o critério rígido do falar culto.

O ‘se’ coloquial representa tanto a terceira pessoa do singular (ele se mandou) como o ‘nós’, no falar rasgado, dando vazão à linguagem descontraída: ‘E nós se mandamos de lá’ (até ‘Nós se mandou’), comumente encontrada no dia a dia. Muitos cantores, portanto, nas suas apresentações pelo Brasil afora, usam-na como forma aberta e popular de se dirigir a seus seguidores e fãs, que os mantêm ‘empoderados’. Depois de darem a entrada para a primeira música, gritam sorridentes ‘vamos simbora’, e desfilam o seu cancioneiro para a galera, que balança o esqueleto e os bracinhos para lá e para cá. Que coreografia, hein, amigo! Como o povo se diverte por qualquer coisa, e os famosos vivem às custas dessas performances populistas. Viva a música popular brasileira, que nem sempre é MPB.

Querem dizer ‘sigam-nos’, ou ‘sigamos agora neste momento de elevado deleite’. Essa a visão de muitas apresentações musicais.

Ir-se, como verbo pronominal, conjugado, tem pronome fossilizado (me, te, se, nos, vos, se), sem nenhuma função sintática, por ser uma partícula expletiva. E ele se foi!

“Foi-se’ porque quis ir, já que seria a hora certa, ou ‘foi-se’ porque seu destino tinha hora marcada: ‘Foi morar com Deus’, como diriam alguns.

Na linguagem figurada, teríamos metáfora ou pleonasmo? Tanto uma como a outra. ‘Vamo-nos daqui!’ pode ser um convite para dizer que o momento não está para peixe, que as pessoas não seriam ‘personas gratas’, por isso, espontaneamente, devem dar o fora. E pleonasmo porque, se já ‘vamos’ (nós mesmos!), por que o uso de ‘nos’ se a desinência verbal já indica essa pessoa gramatical? Em ‘vamo-nos’ o pronome oblíquo ‘nos’ é meramente enfático. ‘Vamo-nos’ (Partamos agora, que já é tarde)!

Seu uso constitui expressão idiomática, comum entre nós, em especial no falar ‘desconjuntado’ da norma culta. Não se trata de variante verbal, se fosse usual ‘vamo-nos’ paralela a ‘vamos’, mas de variante da linguagem regional. Em dado momento, uma região a usaria mais que outra. O baianês, o mineirês e outros, talvez, o guachês, variando de pessoa para pessoa, usam formas assim descontraidamente, sem medo de errar ou sem se preocupar com a exigência gramatical culta, falada e escrita.

É assim o nosso dia a dia. E lá vamos nós. Vamo-nos, que o dia rompe, e não temos tempo a perder.

Necessário é que não digamos que o iletrado erra ao usar dizeres regionais, no ‘universo’ de todo o Brasil. Vamos em frente.

E eles se foram. Foram-se embora para sempre. “Já me vou lidar em guerras” (Gonçalves Dias). ‘Vou-me indo agora’ é mais que um pleonasmo vicioso.

Isso basta.

Pausa: 1. Um editorial, falando de hábitos de violência que estão se tornando comuns (por sinal, bem analisado), disse que tal procedimento se trata de ‘mal gosto’. Que pena! ‘Mal’ está para ‘bem’ (Mal pago, bem pago) e ‘mau’ está para ‘bom’ (mau pai, bom pai), portanto, ‘mau redator, bom redator’. O cidadão se esqueceu de regra básica, e nem deveria usar ‘(…) criando a ilusão que somente com os outros acontecerá (sic) tais situações.’ Coloquemos a última parte na ordem direta: que somente com os outros tais situações acontecerão. 2. É comum o sujeito posposto enganar o redator (‘começa (…) os jogos das quartas de final). Na ordem direta (sujeito anteposto): os jogos das quartas de final começam (…). 3. Prefira não usar ponto intercalado nas abreviaturas (H.M.P.S); se o fizer, use-o em todas as letras (H.M.P.S.) ou nunca (HMPS). Qual seria a ideal? Fica a critério de cada um, mas a estética pode decidir: I.N.S.S. ou INSS? Conselho de redator: use a segunda. Mau gosto, bom gosto.

 

João Carlos de Oliveira

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