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Pronomes relativos cujo, cuja, cujos e cujas, e sua performance

São pronomes variáveis, cujas desinências nominais, de gênero: ‘o‘ (masculino), ‘a‘ (feminino), e de número (s), identificam-nos. Nesse caso, basta que seja citado ‘cujo‘ para que se evidenciem suas respectivas variações: cujos, cuja, cujas.

Tão simples assim, mas podem oferecer alguma dúvida. Sempre, a consulta para que se evitem dissabores redacionais ou linguísticos.

Pronomes emblemáticos, têm como função primordial indicar a relação de posse entre um termo e outro. O proprietário cuja casa está à venda, não foi encontrado.

Essa construção frasal é similar a muitas outras, mas boa parcela de usuários tem o hábito de acrescentar um artigo definido depois de usar uma das flexões acima, como se fosse necessidade para deixar mais clara a relação gramatical e semântica.

Esse acréscimo não é bem-vindo. O suposto ‘artigo definido‘, conforme a frase, já está implícito: O menino cujo pai está viajando, não foi à escola. Mas aparece: O menino cujo o pai está viajando, não foi à escola.

A explicação gramatical preceitua sem rodeios: cujo e suas flexões não devem ser usados com artigo posposto (definido ou indefinido): cujo o. Ou, ainda, um pronome reto: cujo ele.

Finquemos uma estaca nesse ponto: cujo, como pronome relativo, não pode estar precedido de artigo (o cujo pai). Esse uso serviria de análise: se pudesse haver artigo anteposto, poderia haver o posposto?

Qual seria o erro? Redundância estrambótica de assombrar os tímpanos do Português culto. Cujo, explicam os especialistas, já traz a ideia de haver inserido em seu significado um artigo: do qual, da qual, dos quais, das quais.

Fica mais implícito: cujo, dele, do qual, e assim por diante: cujos, dos quais; cuja, da qual; cujas, das quais.

Aliás, essa ‘clareza’, se é que pode receber essa denominação, não é constante nas obras didáticas. Seria desnecessária?

Cujo tem seu étimo no Latim ‘cujus’, com o significado do qual, da qual, dos quais, das quais (certamente, pelas suas variações). De quem, de que.

Ilhéus, BA, cuja Catedral tem estrutura gótica, recebe, por esse e outros motivos, grande número de turistas.

(Se for dada alguma explicação sobre cuja Catedral: a dela, sua Catedral. Como se vê, nenhum artigo se torna necessário.)

Em outra redação, se houver artigo precedendo cujo, passamos a ter derivação imprópria: o cujo, isto é, o sujeito, o fulano. Nesse caso, cujo, de pronome relativo, passa a ser substantivo comum. Você me diz por onde anda o cujo? Onde estaria o dito cujo?

Seria pelo motivo de haver o cujo, que alguns usam cujo o? ‘Se pode antes, pode depois!’, pensaria o usuário?

A redação jurídica ainda usa ‘o de cujus‘, para dizer o falecido. Mas nem todo advogado adota esse estilo. Como advogado, em petições de inventário, consto, simplesmente, o falecido, ou ‘aquele que deixou bens a inventariar’.

As orações formadas por esse tipo de pronome relativo incluem-se em duas classificações: orações subordinadas adjetivas explicativas e as restritivas.

O menino encontrado ferido na rua, cujo pai o estava procurando, está bem de saúde. Or. subord. adjetiva explicativa.

A nação cujo povo tem renda per capita elevada, costuma ser chamada de primeiro-mundo, momento em que o nível cultural é considerado de relativa importância. Or. subord. adjetiva restritiva.

O jovem moderno cujo conhecimento e comportamento são elevados, tem maiores chances de vaga no mercado de trabalho, atualmente, muito exigente.

O país cujo povo é ordeiro, tem maior consideração da comunidade internacional.

O Brasil, cuja economia tende a ficar estável, tem momentos muito irregulares; ora, a inflação; ora, uma ligeira deflação.

O pai cujo filho é estudioso, torna-se seu admirador.

As cidades cujas ruas são limpas, indicam altos níveis de civilidade.

Os rios cujas águas são piscosas, como o Grande, o Paraná e o São Francisco, devem ser, ainda mais, preservados para não se tornarem ‘tietês’ regionais.

O Rio de Janeiro, cuja capital é homônima, tem grande fluxo de turistas, mas há insegurança por lá. (O carioca concorda com esse detalhe?)

A nação cuja educação é elevada, como países asiáticos, tem menores índices de violência, qualquer que seja sua espécie.

A Lei Maria da Penha, cuja eficácia não foi ainda comprovada, deve passar por alterações para que consiga, de fato, coibir os abusos contra as mulheres.

Isso basta.

Para terminar, estas análises.

Os ‘fieis‘ de toda a Nação precisam reverenciar ao Deus Supremo sem o alarde de atitudes bizarras. Fieis, por ser vocábulo oxítona, com diz a Reforma Ortográfica, terminado no ditongo aberto ‘ei‘, seguido de ‘s‘, deve ser acentuado graficamente. Por essa razão, fiéis, e assim, corcéis, anéis, carretéis. No mesmo caso, chapéu, escarcéu, fogaréu, mausoléu, poviléu, tabaréu; céu e réu (monossílabos). Montevidéu (capital uruguaia).

“Pessoas de todas as idades merecem serem felizes”. Estaria correta a flexão do segundo verbo?

Pessoas podem ser felizes, devem ser felizes. Flexionado, como está, o primeiro verbo da locução verbal, o segundo deve permanecer no infinitivo não-flexionado.

“Pessoas de todas as idades merecem ser felizes”. Todos os seres humanos merecem ser respeitados. Todos os animais devem viver em seu habitat, não cabendo ao homem prendê-los em cubículos nem levá-los a circos para fazer ‘amostragem de arte’, o que pode tornar-se ‘maus-tratos’.

Meu marido faleceu a algum tempo. O ‘a’ indica tempo futuro. Estamos a 5 meses do final do ano. ‘Há’ indica tempo decorrido: Há muitos anos, moro nesta casa. Meu marido faleceu algum tempo. Faz algum tempo que meu marido faleceu. Há algum tempo que meu marido faleceu.

Frase de obra famosa: “Não queria que o ouvisse dormindo”. Estaria errada? Não seria ‘que o visse dormindo’? Não, a frase está correta, só que temos o cuidado de olhar sua semântica: “… que o ouvisse dormindo” chama a atenção para algo especial: o ronco, a possível ressonância da respiração da pessoa a dormir. Não seria bom ouvi-la.

Pensou que (o juiz) o tivesse ‘absolvido’: que fulano não tinha sido condenado.

Pensou que o tivesse ‘absorvido’: que alguém teria entendido o assunto, ‘compreendido’ o que foi dito ou lido.

Absolver alguém é libertá-lo. Absorver um conteúdo é entendê-lo.

Sabemos disso, certamente, mas o alerta pode ajudar o duvidoso a melhorar seu conhecimento. Pode parecer fácil, mas quem confunde ‘decente’ com ‘descente’, pode confundir os dois verbos. O decente é o honesto; descente, pouco usado, é o que desce.

Colocação pronominal ruim: ‘terem o matado’, cujo pronome fica solto. Após o particípio, o pronome não pode ser colocado em ênclise, como muitos usam: Terem matado-o. Sendo usado um pronome reto (eles), poderá ficar proclítico: Eles o terem matado. Se mantiver a redação, a forma correta é: Terem-no matado.

Abraços. Obrigado pela visita.

João Carlos de Oliveira

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