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“Já deu 7 horas?”, pergunta um. “Já deram 11 horas?”, a pergunta é de outro. E a concordância verbal: deu ou deram?

Tanto faz como fez, tudo é a ‘merma’ coisa. Quem duvida de ‘nóis’ deve consultar a regra. A Gramática Normativa, nesse momento, didaticamente, determina o que o popular usa? Ou se omite para agradar a gregos e troianos?

E se mudarmos o verbo?

‘Já é 7 horas’? Já são 7 horas.

‘Já é 11 horas’? Já são 11 horas.

Vamos ver cada caso, analisando o que diz a norma.

Pulando de ‘pau para cavaco’, a mesma situação se dá com a data.

“Que dia é hoje?”, seria uma pergunta comum. (Referente ao dia da semana ou ao quanto do mês?) Dia ou data, é o mesmo mané-luís, falaria o intruso.

Alguns corrigem: Que dia da semana é hoje? Quanto é hoje? Quanto são hoje do mês?

Hoje é quinta-feira. (As quintas-feiras são os quintos dias da semana.)

Se for a data: Hoje é dia 25 de abril. Hoje são 25 de abril.

A Gramática é ampla, até abstrata; diz que ‘Hoje é 25 de abril’ também é correto, porque está subentendido o ‘dia’ 25 do mês. Melhor seria, entretanto, que se dissesse Hoje são 25 de abril, isto é, são decorridos vinte e cinco dias do mês. Mas esse plural não é de uso popular; não pegou ou não agradou, razão por que não é tão ouvido.

Quanto ao título, o resumo da regra é: ‘deu’ está correto por concordar com ‘o relógio’, que marca ou marcou ‘sete horas’. O pior é quando alguém corrige: 7 horas da manhã ou da noite? E o outro arremata: “Ora, 7 horas só ‘pode‘ ser da manhã, pois, da noite, são 19 horas”. Se a conversa render, há briga. Ou discussões. E o mais sabido sai com uma máxima: “Não ‘podem‘ haver discussões”.

rosas no jardim, e não virtudes no coração desses brigões. O resto é por sua conta, caro visitante. Nem tampouco, será preciso levar o assunto ao pé da letra e criar celeuma.

E ‘deram’ onze porque concorda com ‘horas’. E agora? Nada a mais para explicar: tudo está bom, conforme o dia a dia.

Essa regra é implícita: de qualquer maneira, está correta, concordando com ‘o relógio’, no singular, e com ‘horas’ (as tantas), no plural.

Melhor assim, que vir à tona a birra, a intriga, a ojeriza com quem deixa de usar essa ou aquela norma gramatical, sempre distante do cotidiano, que abomina o critério rígido.

Aliás, uma ‘pregunta’ (e ‘priguntar’ não é crime): sujeira, falta de asseio, ou o que for usado, é ‘desasseio’, um termo tão chique!?

Fica sem a resposta deste blogueiro, que, agora, não quer entrar no mérito. Prefere a ‘desregra’, a liberdade de expressão, porque a ‘involução cultural’ dói mais.

Falei com um amigo que me consulta sempre sobre a linguagem, que aprendo muito ‘português’ quando vou à feira-livre, e como aprendo!

‘”Aprender Português’, na feira, para esse professor é o máximo!”, foi o que respondeu.

E não é que ouvi ‘Muita gente gosta de ‘ingrisia”.

Ingrisia ou ingresia? O que é isso, cara? De onde vem esse termo? Qual é seu étimo? Deriva de ‘inglês’, que dá inglesia, que geraria ‘inglisia’?

Frases que se ouvem: “Não gosto de ingrisia”. “Esse cara gosta de muita ingrisia”. “Ingrisia só dá problemas”. “Ingrisia não leva a nada”. E tantas outras, bem ‘personalizadas’, mas frases que nos conduzem a pensar. Como o povo aprende e usa um termo sem saber sua origem correta? E por que o adota tão facilmente?

Certo é que a linguagem oral tem livre trânsito e costuma ser grandiosa, trazendo as vantagens da coloquialidade, que ‘dispensa’ norma e etiqueta. Do jeito que vier, ‘morre’. Fica bom assim, uma vez que a comunicação se realiza, que se faz a comunicabilidade com sapiência, com altivez e bons resultados.

Qual é sua visão?

Saiba, Vossa Senhoria, ou ‘vosmecê’, que já ocorreu ‘ingrês’ (inglês), uma forma antiga e popular de se dizer o mesmo nome. Por isso, fiquemos calados quando ouvirmos ‘Ele quer comprá uma ‘bicicreta’, já que a pronúncia ‘pl’ e ‘pr’ se assemelha, como ‘cl’, de claro, de Cleuza, e ‘cr’, de cravo, de Creuza, de ‘credite’ em mim (acreditar, de crer, e ‘creditar’, de dar crédito, de depositar um valor a favor de alguém).

‘Arguém mi chamô’ é uma frase regional de grande importância fonológica, que pode ser estudada com mais afinco e mais respeito aos falares caboclos de toda esta Nação.

Então, ‘ingrês’ gerou ‘ingresia’, barulho, berreiro, encrenca. ‘Ingrisia’ é pronúncia, que vem ficando, e pode gerar variante gráfica: ingresia e ingrisia, assim como temos estripulia e estrepolia. Amba são válidas.

A sequência gráfica é ampla: inglesia, inglesice, além de ingresia e ingrisia, e ingrimanço, como nos preceitua um dicionário.

O inglês gosta de ‘inglesia’, de ser encrenqueiro?

Acabei de ler um texto, e me veio à lembrança: insosso (sem graça, sem sal, monótono) é popular; o culto usa ‘insulso’. Certo é que insipidez e insípido estão juntos. Nada a mais.

A concordância verbal (o fato de a pessoa e o número flexionar em função do sujeito) relata que, no caso dos verbos dar, bater e soar, e sinônimos, empregados com relação às horas, concordam com o número de horas.

Deram seis horas.

Deu uma hora.

Batiam as seis horas da manhã (quando aconteceu o acidente).

Soam dez horas no relógio da igreja.

Por isso, a frase do título “Já deram 11 horas?” é correta, cujo sujeito é ’11 horas’.

Onze horas deram no relógio da Matriz. Bateram onze horas.

Mas… quando há sujeito, o verbo concorda com ele: O relógio da estação deu (marcou) três horas.

O despertador soou oito horas (e o cuco também bateu 8 vezes).

E agora? Se o sujeito estiver oculto?

Por isso, não se pode condenar “Deu dez horas da noite”. O relógio deu… Interessante é quando o usuário diz “Foram duas horas de relógio de trabalho duro”. Foram duas horas exatas!

Relógio fica subtendido quando o verbo está no singular, assim como horas, se o verbo está no plural.

Essa a melhor forma de se explicar essas nuanças.

Tudo é flores. Tudo são flores. Hoje é dia 24. Hoje são 24.

E daí por diante.

Deixemos a linguagem fluir, e melhor que se tenha grande admiração pelo popular, que segue a praticidade, não a norma aprendida por alguns e desconhecida por muitos.

Um abraço.

João Carlos de Oliveira

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