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Está correta a expressão ‘vítima fatal’, muito usada quando há acidente de veículo com morte?

São conhecidas as expressões referentes à má escrita: redundância, incoerência, pleonasmo vicioso, vício de linguagem, e outras, cada uma com seu significado, explicadas por muitos, entendidas por poucos, mas que continuam em evidência.

O jovem falante, cônscio de sua linguagem evoluída, divulga no texto escolar que aconteceu o fato porque ‘Havia um elo de ligação entre as personagens’.

Chique essa fala, não?

Sensacional o linguajar da foca chamando a atenção do expectador com ‘a entrada’ “Olha só!”, repetindo-a várias vezes no decorrer de dois ou três minutos! Sua fala atrai?

Nesse momento, o falante iletrado ganha terreno, e seria aplaudido ao dizer “Tresnantonte, nóis fêiz uma viage ao Morro do Escorrega-Lá-Vai-Um” (sic).

Deixe o homem falar, seu moço! O que você tem com isso? O que tem contra ele?

Anteontem, ‘nós fomos a Morro do Chapéu’, cidade baiana, no Piemonte da Chapada Diamantina. Lugar bonito, é lá que dizem ‘ser a morada de etês’, ainda não-encontrados. Cidades que se destacam na região: Jacobina, Piritiba, América Dourada, Irecê, entre outras belas, em pleno Sertão castigado pela estiagem, mas de um povo solidário, de vida salutar, de comportamento saudável, ‘saudio’, como Deus o colocou no mundo.

Este blogueiro, admirador dos falares regionalistas, reafirma, em sua posição não-oficializada pela mídia, que não é o Analista de Bagé, mas continua a expor: a diversidade ‘falatória’ é imensa, a linguagem interiorana é múltipla, e todos os caminhos levam à Roma Antiga, em que César grita para Marcus Junius Brutus, seu sobrinho, e suposto ‘filho’, no momento em que é esfaqueado: “Até tu, Brutus!”

Um naco pode ser um pedaço; um pedaço pode ser uma parte; uma parte pode ser um lado; um lado pode ser uma tendência; uma tendência pode ser uma visão de mundo, e uma visão de mundo pode ser o olhar de Faustino admirando sua bela Francivalda vendo o Horizonte a nascer junto com o Sol já ardente, depois de ter lido Shakespeare nas entrelinhas de O Rei Lear (se quiser, King Lear), peça teatral de alta performance, em que há ingratidão e não se pune quem mata, mas perdura o crime, até o arrancar os olhos de um membro da Corte. Shakespeare, o dramaturgo maior, continua insuperável.

Correr ‘risco de vida’ é que assombra, já que a vida vive. O que há é ‘risco de morte’, podendo eliminar a vida!

Então, ‘vítima fatal’ seria a que mata a si mesma?

Tem-se o acidente fatal, o que tira a vida. O veneno é letal, como cicuta, que mata em pouco tempo, e chumbinho que grande parte do povo conhece e dele faz uso, mesmo estando cometendo crimes desprezíveis, senão hediondos, ou feminicídios, uxoricídios, crimes torpes, tirando a vida de inocentes, sem que haja a chance de a vítima se defender.

Melhor seria que amainassem os dizeres: vítima de morte, vítima com ferimentos graves, com ferimentos leves, com lesões corporais, e assim por diante.

A ‘vítima fatal’ é a que morre ‘na hora’! Que leseira! E muitos, por hábitos infundados, repetem-na até a exaustão! Não é chato?

“Há 15 dias atrás.” As palavras são diferentes (, atrás), mas dizem a mesma coisa, o que passou. São sinônimas, apesar de tão desiguais na escrita! Mais para isso que para outra coisa, se o contexto se assemelha: o relato de algo que aconteceu no passado, em que o verbo haver é ‘dono’ do tom plúmbeo, em que a força auxiliar de ‘atrás’, que nada tem a ver com o que ficou nas nossas peladas nádegas ou os nossos fundilhos, vigora! Manjou, cara?

Há 15 dias, o acidente aconteceu na Estrada do Sumaré, nome magistral de uma planta, com flores amarelas, também chamada bisturi-do-mato, tanto em São Paulo como em Salvador. Não se mude o nome nem se altere o seu significado. Não se use como antropônimo, mas o deixem como topônimo de nosso lindo idioma tupi-guarani, desprezado pelos intrusos que nos invadiram.

O acidente aconteceu 15 dias atrás.

Qual você escolhe? Certo que não se misturem as paletas que tocam a mesma música.

“A Justiça vai decidir se ele continua ou não no cargo”, e agora? ‘Decidir’ já não implica o sentido de sim ou não? Por que repetir o não? Não é um vício, seu redator? Que mestre lhe disse que tinha, obrigatoriamente, que acrescentar esse não repetitivo?

Bastaria que dissesse: Bom-dia, seu Manuel! Venho saber se Pedro, seu filho, vai viajar hoje!

Se vai, diga sim. Se não vai, diga não.

Se vai ou não corrói o construir linguístico.

A Justiça vai decidir se o meliante vai continuar no xilindró.

Vai sim. Não vai.

Preferível que o homem do campo diga carroçaria, e o citadino, carroceria? São a mesma coisa. O estilo é que voga. Dona Maria coloca a taboa para secar no terreiro e depois faz a esteira. Uma pessoa com a língua de trapo pergunta à senhora simples do campo, lutadora, trabalhadeira, se ‘terreiro’ teria algo a ver com macumba! Ilé-Aiyê não gosta dessa maldade!

Entregar não é integrar. Nosso majestoso Rondon pregou o eslôgan: Integrar para não Entregar.

“Precisa integrar a equipe”, diz o professor. “Não se deve entregar nosso ouro ao bandido”, que fica rico e ainda recebe aplausos de muitos.

A doceira, de mão-cheia, faz tudo na doceria, como se faz doce de banana, de marmelo e de goiaba lá em Caatinga do Moura, distrito de Jacobina. Quem quiser diga ‘doçaria’, se for mais bonito, e lá se vão as palavras belas entre os pilares da ponte em Cachoeira Grande, com quatro vãos, onde passa a água perene, doce como mangaba, que vem da Serra de Itaitu, onde nasce bela como o Sol no Horizonte a cachoeira Véu de Noiva, linda, como está.  Que não a poluam, que não se vendam metros quadrados ao seu redor, para fazer barracos e trapiches, que servem de morada para conceitos revolucionários que não levam o cidadão aos píncaros da glória, só mostram uma vertente alheia, como sinuoso é o leito do riacho que desce até chegar aos grotões lá adiante descendo a bocaina.

Viva a Natureza, e que os ambientalistas e ecologistas não a defendam somente no púlpito, mas no campo, na lama, para que a mata ciliar exista, para que o córrego não seja assoreado, e não se tenha em ladeiras a voçoroca capaz de engolir um prédio.

Com mil exceções, nem toda ONG cumpre o que está nos seus Estatutos. Não se pode pensar assim?

João Carlos de Oliveira

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