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Pleonasmo afetivo

Para variar um pouco os artigos costumeiros que edito neste sítio, cuja importância fica sob a visão do visitante, hoje um poema, que fará parte de ANSIEDADE, uma entre dez obras que tenho a publicar.

Este poema, lírico-choramingado, foi escrito há pouco, no dia 24 de agosto que acabou de se findar. Foi um rascunho?

Agora, suas linhas tortas são estas:

PLEONASMO AFETIVO

Querida, minha musa distante,

estou ávido de teu amor.

A partir deste instante,

quero fazer-te a poesia mais bela

em compasso de aquarela

para fulgir os teus olhos refulgentes.

Quero chorar o teu choro recorrente,

amar o teu amor,

caminhar o teu caminho,

falar a tua fala,

oscular a tua face, que não seja oculta,

repetidamente.

Quero vozear, musicalmente,

a tua voz melodiosa,

sorrir o teu sorriso,

gorjear o teu gorjeio,

arrazoar a tua razão,

dormitar o teu sono lépido

ao meio-dia de puro cansaço,

quão tépido é o calor que nos embala.

Quero sonhar o teu sonho navegante,

andar o teu andejo bamboleante,

viajar a tua viagem poética,

viver a tua vida sempiternamente alegre.

Tudo isso, e mais:

abraçar o teu abraço,

beijar o teu colo pecaminoso,

poetizar a tua poesia bucólica,

subir a tua ladeira íngreme

com a lata d’água na cabeça,

assim como foi em toda a tua juventude,

e voltar a viver o regaço

de todo o teu amar silencioso e silenciado.

Eis que o poeta sonha,

como sonhou outrora,

e esse solfejo, que não é pesadelo,

faz-me um poeta vivo,

faz-me o poeta-menino,

como lá em Cachoeira Grande sempre o fui.

Foi-se o tempo, mas ficou a lembrança,

o encontro que se desencontrou,

o desencontro que traçou as linhas do nosso passado

numa tarde ensolarada de um domingo suave

em nossos olhares inquietos,

certo tempo antes sonhado,

cujo beijo se deu na festa de família a que fomos no Lajedo,

o povoado perto das nossas casas.

Lembras-te disso?

E hoje, o que nos resta?

E hoje, o que somos?

Apenas, o pleonasmo que se perdeu no tempo.

Ainda bem, que se trata de momentos afetivos

que tivemos em pleno Sol a pino

na estradinha longínqua e empoeirada

que nos conduziu pausadamente

ao nosso amor ardente.

Beijos!

E beijos!

 

(João Carlos de Oliveira, o poeta, membro-efetivo da ATL, Academia Teixeirense de Letras. Cadeira número 27.)

 

João Carlos de Oliveira

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