0

O sinal gráfico nas palavras récorde, histórinha, Iguaçú, amôr, ladaínha e amávelmente está correto?

O acento gráfico, de conformidade com a Gramática Normativa, na área da Ortografia, tem o objetivo de determinar a tonicidade de um vocábulo e, em outro, de dirimir dúvidas quanto a seu timbre (aberto ou fechado).

Os acentos agudo e circunflexo (respectivamente) indicam os vocábulos Iná e dendê como oxítonas.

Série e cônscio, paroxítonas.

Cálido e cânion, proparoxítonas. (Toda proparoxítona, obrigatoriamente, tem acento gráfico.)

Em céu e colméia tem-se acento diacrítico para diferenciar a vogal aberta da fechada. Esse acento foi extinto na última Reforma Ortográfica, que está em vigor, em palavras paroxítonas: Pompeia (por isso, colmeia), assembleia, tabloide. Permanece em vocábulos monossilábicos tônicos (céu, véu) e em oxítonas: escarcéu, herói, no singular ou plural.

Diferencie chapéu, oxítona acentuada, cuja vogal tônica é aberta, de camafeu, também oxítona, de som fechado, por isso, não-acentuada.

Estabeleça comparações entre heroico, de som aberto, hoje sem acento, com comboio, de som fechado, que não é acentuado graficamente.

Pode, presente, se diferencia de pôde, passado. Você não pode fazer isso agora. Ele não pôde ir ao clube ontem por causa da pandemia.

Forma (maneira, aparência); fôrma (tamanho, vasilha). A forma como você age não é adequada. A forma da boneca era de um rosto obtuso. A fôrma do sapato é de número 49. A fôrma de assar bolo está amassada.

As frases anteriores abrem o leque para se discutir a semântica de um vocábulo, em que vale o contexto, razão por que alguns não se preocupam com o uso do acento gráfico.

Mas a Gramática Normativa teria motivos para justificar em suas linhas a Tonicidade e a Acentuação Gráfica, assuntos polêmicos, gerando indefinições aos menos chegados a teorias gramaticais. (Cabe recurso.)

A regra é óbvia, a fim de que o usuário siga, na fala, o acento tônico, e, na escrita, o gráfico que o vocábulo exige.

Em outros termos, o objetivo maior seria o de indicar a sílaba tônica do vocábulo. Na praticidade, pode haver obstáculos.

Exemplo clássico encontrado em redações é o uso de acento agudo desta forma: ‘amavéis‘ (como se fosse oxítona). Questionando-se o usuário sobre a pronúncia da palavra, ele não vacila: a--veis (correta, e com o acento colocado em seu devido lugar).

Se ampliarmos um pouco mais a análise, basta que o jovem-aprendiz comece a escrever e a pronunciar o mesmo termo no singular: a-má-vel, e busque outros da mesma família etimológica: a-mar, a-ma-do, a-man-te.

Pergunta-se-lhe: qual destas precisou de acento gráfico para você pronunciar direitinho?

Normalmente, responderia “A que tem acento; amável”, como se pode imaginar.

Para que serve o acento, Romualdo? (nome fictício), perguntaria o professor.

Não sei, professor, diria, a sorrir (atitude costumeira).

Esse diálogo, conforme o interesse do jovem, e a acuidade do docente, seria encerrado ou levado a um debate, sob o escopo de que o alunado dominasse melhor esse campo ortográfico, minado para uns, por não ser tão simples como se supunha.

Detalhe importante é lhe dizer que a boa pronúncia pode acontecer mesmo que não sejam usados, na escrita, todos os acentos exigidos de acordo com a tonicidade da palavra (monossílabos átono e tônico, oxítona, paroxítona, proparoxítona), do mesmo modo como se faz uso da fala no cotidiano, cuidando da dicção e da tonicidade.

Voltando ao início do porquê, quando o professor diz ‘pronuncie o que você escreveu’ (‘a-ma-véis‘), e o aluno pronuncia corretamente, como paroxítona (a--veis), como se entende a diferença? Provavelmente, por que começamos a falar, depois a escrever, e o acento gráfico não é tudo. Vale muito mais o acento tônico do vocábulo, que até uma criancinha teria sua forma de distinguir.

“Ma-nu-eell, você está onde?”, isso distingue tudo.

E o costumeiro que o mestre ouve é que o jovem não sabe dissecar o erro de acentuação gráfica nem o acerto da pronúncia.

O que providenciar para corrigir enganos?

Quando o mestre tem paciência, e o aluno, interesse, as coisas são resolvidas; a aprendizagem vem, mas se ambos se destoam, só o tempo corrigirá falhas.

Nem sempre, o uso dos acentos gráficos (agudo, circunflexo, grave, til etc.) é praticado adequadamente, sem se questionar o básico ou o pré-requisito que alguém adquire na sua vida pregressa estudantil. Na dúvida, o normal seria não usar acento, como seria praxe na linguagem do internetês, ou vêm os lapsos. Estonteante é que muitos mestres escrevem no famigerado quadro-negro (que é branco) com letras de fôrma e sem nenhum acento.

Como o aluno aprende se o ‘anfitrião’ do debate segue outro rumo ou padrão?

A entrada mostra que nenhuma palavra foi acentuada corretamente. Nem uma, sequer, tem o acento gráfico como requer a regra gramatical.

Récorde: a grafia seria fundamentada no termo anglo-saxão record, que não tem sinal gráfico; pronunciado com R forte, gutural, originou recorde em Português, que, em nosso ‘paladar’, é palavra paroxítona (re-cor-de), mas essa prosódia é aceita? Entende-se que a pronúncia como vocábulo proparoxítono em Português se dê por influência da inglesa e pelo provável charme de ser elitizada no Brasil (o corde), que não está assim no dicionário nem na Gramática.

Já se sabe que outros vocábulos têm desvio de pronúncia (como mister, Nobel, ruim, obus, novel etc. (oxítonas); avaro, díspar, erudito, filantropo, fluido (sem acento gráfico), ibero, pegada, tulipa etc. (paroxítonas); álibi, âmago, ômega, idólatra, Tâmisa, tâmara, zênite etc. (proparoxítonas), e, nesse caso, recorde seria mais um.

Seria mais um, pela sua modernidade, a sofrer oscilação na habitual vicissitude cotidiana, como acróbata e acrobata, Oceânia e Oceania, lêvedo e levedo, xerox e xérox, réptil e reptil etc.?

Em nenhum momento, a Gramática cita recorde como vocábulo de dupla pronúncia.

O fluido do isqueiro exalou rapidamente. A água da caixa tinha fluído pelo cano. (Essa diferença se justifica pela classe gramatical: fluido, s.m.; fluído, particípio do verbo fluir.)

Nem se trata de vocábulos que têm timbre aberto ou fechado: crosta (crôsta, crósta), a depender do usuário; obeso (ê, é).

Histórinha: derivado diminutivo de história, com o sabor de historieta ou estorinha, hoje, não leva acento gráfico; antes da Reforma Ortográfica de 1971, fundamentada pela Lei de número 5.765, de 18/12/71, assinada por Emílio Garrastazu Médici, presidente, e Jarbas G. Passarinho, ministro da Educação, deveria ter acento grave: hisrinha, seguindo os modelos só, sòmente; rápido, ràpidamente, por haver sílaba subtônica no derivado terminado pelo sufixo adverbial mente, e outros com sufixos terminados pela consoante Z: cafèzal, cafèzinho.

Cada palavra, exceto o monossílabo, tem uma só sílaba tônica, e a(s) outra(s) é (são) átona(s). Para indicar isso, porque a tônica foi deslocada: a--vel passou a a-mà-vel-men-te, foi imposto o acento grave, que não pegou, marcando a tônica anterior como sílaba subtônica. Foi preciso, então, aboli-lo. Atualmente, esse grave é morto.

Hoje, o acento agudo em histórinha seria excesso de zelo?

Iguaçú. A Gramática Normativa diz que vocábulos oxítonos terminados por U não devem ser acentuados graficamente, como peru, anu, beiju, Paraguaçu, Itamaraju, do mesmo modo como se devem grafar aqui, ali, Peri, Ceci etc., a não ser que o exemplo termine em hiato: aí, baú, Itaú, Itajaí etc. O uso do acento tradicional antes de a Gramática Normativa (e Histórica?) se posicionar fez com que se usasse o acento agudo em algumas delas? Exemplo clássico que perdura, como marca, é Pitú, que talvez influencie para que se registre anú, perú, beijú, e muitos nomes regionais: Iguaçú, Itamarajú, o que está em desacordo com a regra moderna.

Amôr. Palavras oxítonas terminadas em OR nunca tiveram sinal gráfico; apenas, a sílaba tônica em destaque, fechada ou aberta: pior, labor, teor, amor, pavor, Nicanor, terror, mas alguns usaram o circunflexo como hábito, e outros, hoje, seguem essa tradição?

Ladaínha. Basta que se lembrem as grafias tainha, bainha, rainha, fuinha, e não se acentue graficamente palavra paroxítona terminada em INHA.

A princesa foi coroada a rainha mais jovem. A vida com muita ladainha não nos leva a nada. O cara é um fuinha de primeira linha e se vangloria de filantrópico; apenas, um chato.

Amávelmente. Trata-se de advérbio de modo terminado no único sufixo adverbial (mente), como se vê. Pode variar a classificação gramatical (modo, tempo etc.), mas a formação é sempre única. Precoce, precocemente; ligeiro, ligeiramente; íntimo, intimamente. Seguindo o mesmo motivo de historinha, o derivado desse tipo levava acento grave, e não agudo, para marcar a sílaba subtônica.

Obrigado por ter visitado. Volte depois.

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *