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Qual o gentílico a ser usado para designar pessoa moradora ou nascida em uma localidade chamada ‘Treze’? (primeira parte)

O País imenso tem muitas localidades, comunidades, vilas, vilarejos, povoados, aldeias, aldeotas etc. e até distritos com denominações exóticas.

Há Município com nome curioso, cuja história o morador de lá sabe com detalhes: Quijingue, BA, que tem o gentílico guijinguense, cuja pronúncia é cuidadosa. Já esteve em Gongogi, BA? Os gongogienses são tidos como pessoas cultas, e a cidade tem grande biblioteca pública, exemplo que nem escolas seguem. Paudalho, PE, dá paudalhense. Esse nome, certamente, surgiu de ‘pau-d’alho’, árvore que produz líquido cujo cheiro imita o do alho.

Cuidado! Entrepelado, distrito ou bairro, no Município de Taquara, na serra gaúcha: entrepeladense, seria o gentílico, mas não entre pelado no lugar, ato impudico, e o risco de cometer atentado ao pudor. O termo é referente à cor de cavalo: o que tem várias cores, ficando difícil determinar a predominante. Um animal malhado que, em outros cantos, seria o fouveiro?

Em Cachoeira Grande, distrito do Município de Jacobina, nesta Bahia ‘larga’, há a comunidade chamada Caboronga. Lá vivem os caboronguenses. Por que não adotaram ser chamados caboronguinos?

Na mesma região, no Piemonte da Chapada Diamantina, há muitas comunidades com seus ‘apelidos’ curiosos. O comum é que sejam denominados groteiros, sem nenhum alarde pejorativo. O homem da grota, a mulher da grota; os groteiros daqui e dali.

Que sufixo pode ser usado para criar o gentílico, que designa o morador de uma localidade? (A propósito, de-sig-na, forma verbal paroxítona, do verbo designar, não pode ser lida ‘de-si-gui-na’, como se pode encontrar, erro grave de pronúncia.)

Regra absoluta não há, muitas são as opções, mas a tradição tem, como predominante, o sufixo ense, bastante conhecido qualquer que seja o nível cultural do usuário.

Há, também, os conhecidos eiro, ino, iano, eano (em que se inclui também o termo que se refere ao torcedor fanático de um time, adjetivo ou substantivo, com o mesmo valor semântico do gentílico, como vascaíno, flamenguista).

Conhece bem o homem caatingueiro? Eiro é um concorrente, mas ense sobressai-se.

Alegre, ES, cidade universitária: alegrense. Nota-se que houve a aglutinação da vogal final de Alegre (e) com a vogal inicial de ense (mesmo e), formando alegrense, uma vez que poderiam ficar estranhas a grafia e a pronúncia alegreense.

Analise com atenção que o vocábulo paraná, que dá nome ao Estado brasileiro, ao receber o sufixo ense, não perde a vogal final: paraná+ense formam paranaense. Apenas, o sinal gráfico (o agudo) tornou-se desnecessário pela mudança da sílaba tônica (de oxítona passou a paroxítona).

Pode-se ainda comparar: Porto Alegre, capital gaúcha, forma porto-alegrense, um nome composto. Há os caprichos da linguagem: varzino, que designa o habitante de Várzea Paulista, SP, cognominada de A Cidade das Orquídeas. Poderia ser varzense ou varzeano, com base na estrutura da Língua Portuguesa, mas alguém, um intelectual, consultado na época de sua criação, optou por sufixo diferente.

Registremos que cidades outras que têm o termo várzea optaram por um gentílico de grafia composta bem ‘amaneirada’, mas correta: Várzea Nova, BA, adotou várzea-novense (bom lembrar que o plural flexiona apenas o último elemento, por se tratar de nome composto: várzea-novenses, e assim todos os outros do mesmo padrão: porto-alegrenses, alto-alegrenses, várzea-grandenses).

Esse terreno linguístico exige cuidados no seu traquejo; ao contrário, os enganos podem surgir.

Alguns Municípios optaram por formas compostas sem hífen, as justapostas: Várzea Alegre, CE, fez varzealegrense, como consta de sua história na Wikipédia.

Dois Lajeados, RS, preferiu dois-lajeense, e ainda teria as opções duo-lajeense, duolajeense, dulajeense, ou dois-lajense. Dois Vizinhos, PR, usa duovizinhense (muito culto). Dois Riachos, AL, adotou, apenas, riachense (simples).

Então, caro visitante, que esperou um pouco, o gentílico referente a Treze é trezense. Se quiser algo diferente, trezino, trezeno, trezeiro, trezeense, e até trezeano, esse o mesmo adjetivo que qualifica o torcedor do Treze de Campina Grande, PB, grande time regional, chamado também o Galo da Borborema.

Com relação ao morador de Treze, o lugar, poderia ser trezista, já que temos campista, de Campo dos Goytacazes, RJ?

O que vale é a tradição ou o registro inicial.

Ele, o trezense, mora no Treze. Ela mora no Quarenta e Cinco, por isso, a quarenta-cincoense?

Posto da Mata, distrito de Nova Viçosa, BA, já teve o ‘pelido’ de 103, por causa da ferrovia Bahia-Minas (hoje, extinta, baita prejuízo para a região). Seu Manuel, o cento-tresense, morava no 103. E assim outros: Serra dos Aimorés, MG, vizinho a Nanuque, também na fase da Bahia-Minas, foi apelidado de 158. Ele, morador de 158, é o cento-cinquenta-oitense.

Não temos registro dessas denominações, mas se tivessem sido feitas, alguma grafia, com a liberdade do neologismo, iria se aproximar das citadas.

A cidade de Onça do Pitangui, MG, tem como gentílico apenas oncense, algo muito curioso. Dona Josefina, moradora de Onça do Pitangui, é a mais famosa oncense da cidade.

Constam-se várias cidades com o nome de Alto Alegre (RR, RS, SP), que registraram o gentílico alto-alegrense. No MA, a cidade teve um acréscimo, Alto Alegre do Pindaré, e em RO, Alto Alegre dos Parecis, mas também registraram o gentílico com a mesma grafia.

Quando nos referimos a um vulto famoso, costuma-se usar o sufixo iano para designá-lo: referente a Richard Wagner, escritor alemão, wagneriano; a Carlos Drummond de Andrade, drummondiano (ou drummoniano); a Machado de Assis, machadiano, e outros, mas a cidade de Machado, MG, usa como gentílico, apenas, machadense. Já Wagner, cidade baiana, optou por wagnense ou wagneriano. Wagnense parece, como se deduz, grafia incompleta, que poderia ser wagneriense ou wagnerense. Qual melhor?

Hoje, a homenagem à musicista gaúcha Patrícia Vargas, simpática, bonita, com ótima performance. Ela, com toda a sua simplicidade, debulha com maestria as cordas do violão, da guitarra, do bandolim, e do teclado, um pouco distante dos três primeiros, mas de bom tamanho. Agrada com seu modo peculiar de tocar: concentra-se, sente o todo do entorno, sorri, transmite simpatia e começa a dedilhar as cordas suavemente, momento de poesia e de uma música sorridente.

Se uma análise é feita, teriam esse caminho os termos sobre ela, a que chamam de ‘crítica musical’, assim como há a crítica literária. Patrícia também é ‘sertaneja’?, pois é da cidade de Sertão, no RS, e nesse momento pensa-se: o Sul do Brasil também tem ‘sertão’? O grandioso Euclides da Cunha registrou: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, in Os Sertões.

Mas Patrícia é sertanense, simplesmente assim, como consta dos dados de sua Terra querida, Sertão. E por que não sertiana, sertanesa (do gentílico sertanês, no masculino) ou sertense?

Curtindo sua musicalidade, é bom ouvir Pica-Pau, o Milionário, Espinho de Cobra, em que constam cover, de alta grandeza para o ouvido de um leigo musical, como este escriba.

Deixemos a outra banda para o comentário a vir.

 

João Carlos de Oliveira

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