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Que gentílico pode ser usado a designar pessoa nascida ou moradora em comunidade chamada Treze? (segunda parte)

A resposta já foi dada na edição da primeira parte deste comentário, e vai ser repetida lá no final do dito hoje.

O gentílico de Russas, cidade no Ceará, é russano: alguém o escolheu convencido, certamente, de que seria mais bonito que o tradicional criado a partir do sufixo mais usado, russense, cuja sonoridade não seria tão simpática, ou cairia no lugar-comum dos gentílicos em todo o País, populares como cearense, santanense, amazonense, riachense, votuporanguense etc.

O uso da opção russano, grafia diferente, pronúncia forte, assemelha-se a outros de uso incomum: petropolitano (de Petrópolis, RJ), nova-petropolitano (de Nova Petrópolis, RS), embora haja os conhecidos sergipano, curitibano, francano.

Ainda se pode observar que, paralelamente a russano, e talvez russense, poderia haver russeano ou russino, mas que poderiam não agradar.

As variantes gráficas são muitas, e todas podem ter seu destaque, a depender da escolha de uma ou outra localidade.

Mesmo que o sufixo seja -ense, mais comum, como vemos e sabemos, há exemplos que chamam a atenção: São Jerônimo da Serra, cidade paranaense, optou pela forma jeronimense, charmoso e foneticamente forte.

Consultando a lista de Municípios brasileiros, pela ordem alfabética, começamos com Abadia de Goiás, GO, nome portentoso, com a intuição de homenagem histórica a um vulto regional ou bíblico, já que abadia significa local que abriga comunidade religiosa monástica; o mesmo que mosteiro; vemos que a cidade escolheu a opção abadiense. Lembramos que em Inglês a grafia é abbey, muito conhecida em virtude de todo o Reino Unido ter inúmeras abadias. Se tivesse havido a escolha abadiano, grafia aceitável, não haveria erro e teria, semanticamente, o mesmo valor de abadiense.

Como a Nação possui 5.570 Municípios, não será lógico citar todos. Buscando o último nome na ordem alfabética, encontramos a palavra Zortéa, pequena cidade no Oeste catarinense, que manteve a origem do nome de uma empresa, Zortéa & Brancher, fabricante de compensados e esquadrias. A cultura italiana na região é destaque importante, com todo o seu aspecto histórico, como se depreende dos relatos sobre o Município e sua história, destacando famílias trentinas (vindas de Trento, o chamado Tirol Italiano, na Itália). Se tivessem aportuguesado o nome, poderiam ter grafado Zorteia (pronúncia aberta, sem acento gráfico nos dias de hoje, assim como assembleia, plateia); entretanto, escolheram a mesma forma grafada para o nome da empresa, o que não é problema. Por outro lado, há quem diga que poderia ser sem o acento agudo, Zortea, o que também não seria obrigatoriedade. Não se trata de palavra comum ou conhecida nesses Brasis de muitas faces, mas uma grafia ou outra, como opina este comentarista, professor de Língua Portuguesa, não desqualifica a cidade nem seu povo, pois, as três variantes são bonitas e adequadas: Zortéa, como ficou; Zortea, que poderia ser, e Zorteia, forma aportuguesada. E o gentílico, qual o escolhido? O charmoso escolhido pelo povo ou por quem comandou o processo, convencendo a população de que esse seria o melhor, foi zorteense, com toda a sua imponência. Por que não optaram por zorteano?

O nome da cidade, o último na ordem alfabética entre todos os que compõem o glossário de Municípios Brasileiros, no seu total alarmante: 5.570, chama a atenção.

E mais: deveriam ser somente 5.568 Municípios, mas o Órgão Mandatário nesse campo, o IBGE, considera ainda municípios, que poderiam ser ‘artistas coadjuvantes’, Brasília, a cidade, fincada no Distrito Federal, embora não tenha Prefeito, mas Governador (do Distrito Federal), e a ilhota Fernando de Noronha, Distrito politicamente vinculado ao Estado de Pernambuco, que também não tem Prefeito, mas um Administrador, ‘ordenado’ pelo Governo Estadual.

Essa questão se dá pelo Censo populacional ou pelo fato de haver impostos?, pergunta-se sem a intenção de ferir os critérios determinados pelo Órgão.

Os nomes compostos de cidades brasileiras, que são muitos, fazem uso de forma diferente para a escolha do gentílico, e alguns exemplos podem ser citados: Campo Belo do Sul, SC (que riqueza geográfica e poética!), formado por quatro termos (campo, belo, do, sul), escolheu os dois primeiros termos tão-somente, dando destaque diferente do padrão nacional: campo-belense, que designa a população de todo o Município: o campo-belense, a campo-belense, os campo-belenses, as campo-belenses. Mostrando mais, poderiam ter optado por uma forma composta sem hífen, campobelense, como temos pedrossegundense (grafia culta), de Pedro II, no Piauí, cidade chamada a Suíça Piauiense.

Capinzal do Norte, MA, e Capinzal, SC, adotaram a isonomia do nome: capinzalense, a forma mais tradicional.

Em tempo: que não se confundam Itanhém, BA, e Itanhaém, SP; ambos os gentílicos são muito próximos, respectivamente, itanhense e itanhaense. Segundo a História do Brasil, Itanhaém é a segunda cidade mais antiga do País, depois de São Vicente (SP), cujos vicentinos são honrados com um cognome charmoso: Berço da Democracia nas Américas. Isso é estupendo!

Picos, PI, faz picoense; Pilão Arcado, BA, pilão-arcadense; Santa Maria de Jetibá, ES, santa-mariense (critério que despreza a última palavra do nome composto); Venda Nova do Imigrante, ES, venda-novense; Vila Pavão, ES, pavoense (apenas uma palavra); Vila Maria, RS, e Vila Maria, SC, vila-mariense, e Santa Maria, RS, santa-mariense.

Vila Velha, ES, com relação ao gentílico, usa o apelido charmoso canela-verde, se alguém não quiser usar vila-velhense, e Dom Expedito Lopes, MG, expedito-lopense, com todo o charme de um adjetivo composto com aspecto erudito, e o apelido vem a ser pouco elegante: cabeço.

A lista, então, como é longa, recebe um ‘stop’, podendo ter continuidade em dia futuro. Fica claro, pois, que os critérios são livres, e cada cidade tem a prerrogativa de optar pelo gentílico que mais lhe convier, considerando que seja o mais interessante.

Como mostrado na primeira etapa, o nascido sob os olhares do tempo em Treze é o trezense, que poderia ser trezeano, trezeense, até trezino, sem direito a dizer que esse ou aquele é o mais bonito ou o mais feio.

Fechando o aspecto idiomático da análise de hoje, por que não falarmos um pouco de algumas expressões que correm pelo Brasil afora?

Dar uma facada‘, o mesmo que pedir dinheiro emprestado ou, na boa gíria hodierna, passar alguém para trás, enganar, obter vantagem por uma via enganosa.

Furar o olho‘, tirar vantagem de forma sorrateira, ludibriar, vender gato por lebre.

Furar o eito‘, concluir um trabalho encomendado, uma tarefa difícil de ser executada (limpar aquele roçado em pouco tempo com ferramenta de pouca qualidade). Eis uma expressão, hoje, pouco conhecida.

‘Lavar a égua’, tirar vantagem numa negociação, como o cigano que vende o animal com defeito e o comprador não descobre. ‘Diga, gajão, qual o preço da mula? O negócio é o seguinte: o preço da mula é cento e vinte’, diálogo de marreteiros, em que o mais sabido ‘lava a égua’.

Um motivo fez lembrar o nome Xanxerê, SC, ‘capital estadual do milho’, que registrou xanxerense, como está no arquivo da Wikipédia, mas os dicionários registram xanxereense, e poderia ser até xanxerenense.

Até mais ver!

 

 

João Carlos de Oliveira

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