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A vírgula é um desafio ou continua, ainda, desconhecida? Por que a maltratam tanto?

Textos os mais diversos, ainda, têm dúvida quanto ao uso da vírgula, cujo valor maior é a pausa, separando os termos da oração e as orações de um período, entre outras funções.

Um grande erro é usá-la entre o sujeito e o predicado e o verbo e seus respectivos complementos.

Texto relatando fatos da cidade, comumente ocorrências policiais, traz em média uma dúzia de vírgulas, e o disparate: quatro ou cinco cumprindo a regra, e as outras ‘perdidas’, atrapalhando a interpretação do contexto.

Uma pena! E seriam os redatores de ‘maior potência’?! Por que a boa entonação não serve de parâmetro para que a vírgula seja bem usada? Talvez, não seja de bom alvitre o conhecimento ao pé da letra do uso desse importante auxílio ao escritor, pois, o bom ouvido é um mestre. Mas se o redator quiser saber, a Gramática Normativa cinge as suas cerca de 15 regras, embora o bom-senso deva ordenar tudo.

‘O ex-vereador de Penélope, Porretinha Maia está internado’ (nomes fictícios), mas assim costuma ser a introdução de muitos textos sobre a Política em rincões brasileiros.

Há erro no uso da vírgula nessa expressão, frase curta com uma única vírgula?

Sim. Foi ‘assassinada’ e não poderia estar aí.

Em primeiro plano, Penélope, nome fictício da cidade, não teria um único vereador.

Em segundo, nem todo vereador, ou ex, teria o mesmo nome, mesmo que seja um apelido tão simpático como esse.

Em terceiro lugar, o sujeito da frase, como foi escrita, é O ex-vereador de Penélope Porretinha Maia, cuja única vírgula está no lugar indevido.

Como vamos corrigi-la?

Fácil se a primeira parte da frase for usada como aposto, termo qualificativo (excluindo-se o artigo definido): Ex-vereador de Penélope, Porretinha Maia está internado no hospital da cidade.

Agora, fica claro: Porretinha é ex-vereador. Penélope é a cidade, que teria um único hospital, e a conclusão é a de que Porretinha, tão conhecido, inclusive como político, se encontra internado.

Outros detalhes.

Mantida a redação da frase, como foi exposta no texto, entende-se a mensagem por se conhecer a cidade, por se saber quem é o ex-vereador, e mais alguns dados. Mas a vírgula não deveria estar no lugar como foi colocada.

Se não for usado o aposto, que seria um viés da redação, a vírgula é inoportuna: O EX-VEREADOR DE PENÉLOPE PORRETINHA MAIA ESTÁ INTERNADO (a manchete ideal, uma vez que a cidade não tem um único ex-vereador, e o que foi citado se chama Porretinha Maia).

A não ser que se mude o padrão de redigir frase desse naipe, que teria a mesma semântica, de modo que a vírgula seja necessária.

Porretinha Maia, ex-vereador de Penépole, está internado no hospital da cidade. (Note que não cabe nessa redação o uso do artigo definido ‘o‘ para caracterizar o vereador; se assim fosse feito, dir-se-ia que ele seria o único vereador da cidade.)

Uma cidade tem um único Secretário Municipal de Educação. Nesse caso, a redação difere: Secretário Municipal de Educação, Porretinha Maia está internado. O Secretário Municipal de Educação, Porretinha Maia, está internado no hospital da cidade.

Em outro modo de caracterizar uma pessoa.

Sim, ficaria de bom tamanho: O ex-vereador de Penélope Porretinha Maia da década de 70, o único ainda vivo, está internado.  O ex-vereador de Penépole da década de 70, ainda vivo, Porretinha Maia está internado (em que se percebe a presença de duas vírgulas).

Aliás, muito comum aparecer a expressão ‘ainda’ no meio de uma frase e ser separada por uma vírgula. Erro forte, quase uma ‘tradição’ entre muitos redatores.

As opções são: Ainda, vou trabalhar hoje. Vou trabalhar, ainda, hoje. Vou trabalhar hoje ainda.

Ao construir a frase, o redator escolhe o lugar em que colocaria um termo chamativo, que indicaria o porquê de um fato.

No início, uma vírgula. No meio, duas (como termo intercalado; uma só, nunca). No final da frase, nenhuma vírgula (a não ser que uma ênfase bem forte seja necessária).

‘Ela presta também, um trabalho social’, frase de uma reportagem. E a vírgula? Está separando o objeto direto, complemento verbal do verbo prestar, como mostra a frase, o que é incorreto. No caso, como também está no meio da frase, o que caracteriza termo intercalado, deve vir separado por duas vírgulas: Ela presta, também, um trabalho social. Ou nenhuma: Ela presta também um trabalho social.

Mais duas opções viáveis e corretas: Também, ela presta um trabalho social (no início, separado por uma vírgula). Ela presta um trabalho social também (no final, sem nenhuma vírgula), ou Ela presta um trabalho social, também (no final, com uma vírgula por questão enfática, mas se torna opcional).

Esse seria o critério adequado para esses redatores virgularem esse tipo de frase, mas tudo indica que não o querem fazer ou o desconhecem.

Em muitos momentos, o pequeno texto tem um amontoado de vírgulas, a maioria fora de lugar.

Veja mais: A vítima de 10 anos, atravessou a rua correndo.

Fulano e sicrano, foram baleados durante uma confusão.

Um indivíduo ainda não identificado, foi baleado na cabeça.

A história destaca ainda, que o seu sucesso como voluntária, vai além disso.

Todas essas vírgulas são indevidas.

Na primeira frase, a vírgula está após o sujeito, o que não pode. Pode ser corrigida da seguinte forma: A vítima, de 10 anos, atravessou a rua correndo. A vítima de 10 anos atravessou a rua correndo.

Na segunda, o mesmo erro, só que um sujeito composto (em que os redatores usam nomes de pessoas). Correção: Fulano e sicrano foram baleados durante uma confusão em um bar.

Se costumam redigir dessa forma, seria correto ‘Eu e você, vamos estudar’, o que se trata de uso indevido, claramente, por trazer a vírgula entre o sujeito (composto, formado por dois pronomes retos) e o predicado.

A terceira frase se assemelha à primeira por ter uma expressão qualificativa (de 10 anos, da primeira, e ainda não identificado), que estão no meio da frase, razão por que pensam que a vírgula cabe. A redação exige duas vírgulas ou nenhuma. Um indivíduo, ainda não identificado, foi baleado na cabeça. Um indivíduo ainda não identificado foi baleado na cabeça.

A última é semelhante à primeira expressão deste comentário, cuja correção tem duas vertentes: A história destaca, ainda, que o seu sucesso, como voluntária, vai além disso (em que foram usadas quatro vírgulas para separar dois termos intercalados, analisados como apostos). Ou uma expressão sem nenhuma vírgula, embora o leitor deva fazer a devida pausa: A história destaca ainda que o seu sucesso como voluntária vai além disso (fácil de ser entendida, como pode aparecer numa poesia, sem prejuízo para a semântica). Para entendê-la, basta uma boa leitura.

Obrigado.

 

 

João Carlos de Oliveira

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