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Em todo Estado; Em todo o Estado. Expressões corretas, mas cada uma tem sua razão de ser. Em que se diferem?

Notamos que se diferenciam pelo fato de a primeira não conter o artigo definido. A presença do artigo definido na segunda é que a torna diferente semanticamente da primeira.

No dia a dia, seria comum usarmos expressões similares à primeira (sem a presença do artigo definido masculino/feminino no singular precedendo um substantivo).

‘Em todo lugar, tem um barzinho’.

‘Em toda loja, você encontra bons produtos como estes’.

Toda cidade tem um prefeito, conforme determina a lei eleitoral’.

Todo professor tem seus motivos para gostar de sua matéria’.

Todo casa, praticamente, tem um televisor, moderno ou não’.

Todo aluno se queixa de algum problema de relacionamento entre os colegas’.

O fato de não haver o artigo no singular generaliza o significado da expressão, como se quiséssemos dizer ‘qualquer um(a)’: Toda cidade tem uma praça’. ‘Qualquer cidade tem uma praça, qualquer uma tem uma rua estreita’.

Acostumados a ‘esse modelo’, esquecemo-nos de usar o artigo definido quando nos referimos a uma cidade, estado ou país de modo específico.

A diferença é clara e indiscutível: Todo Estado tem uma capital. Nem todo Estado, no Brasil, é banhado pelo mar.

Mas: O Estado da Bahia é o maior de todo o Nordeste Brasileiro. Todo o Estado tem cidades bonitas. Toda a Bahia tem grande produção agrícola.

Se nos referirmos ao Brasil e usarmos ‘Todo Brasil‘, o aspecto semântico da frase fica prejudicado, por não termos outro país com o mesmo nome. Todo país tem seu próprio idioma. Em todo o Brasil, há expressões populares específicas.

Cada expressão traz um aspecto semântico, motivo de haver as diferenças de significação.

Suponhamos que o Governo da Bahia crie um programa de Internet para atender as escolas públicas estaduais. Ao fazermos a referência a esse fato, devemos dizer: O atendimento será em todo o Estado (Todo o Estado terá a Internet banda larga de alta qualidade.)

Se no artigo, em algum parágrafo, o redator usar ‘em todo Estado‘, o sentido fica generalizado, como se fosse qualquer Estado da Nação. Lendo a matéria, tendo sido usada a expressão ‘todo Estado‘, podemos admitir que se refira ao Estado citado, mas a expressão fica vaga ou generalizada.

Como a boa redação deve primar pela clareza, é bom que a expressão contenha o artigo definido (para confirmar e ficar claro qual é o Estado).

Suponha que um jornal de um Estado use a expressão ‘presente em todo Estado‘. Nesse caso, ficaria evidente que esse jornal circularia em qualquer Estado brasileiro. Mas a intenção do próprio veículo de comunicação seria dizer que o jornal circula em todo o Estado em que tem sua sede (o Estado da Bahia, do Piauí, do Maranhão, de Minas Gerais etc.). A correção deverá ser feita.

Uma manchete do próprio jornal nesse aspecto poderia ser esta: A partir de 30 de agosto do corrente ano, o Jornal Força Popular passa a circular em todo o Estado da Bahia (em todos os seus 417 Municípios).

Se um redator usar ‘em todo País’, isso quer dizer qualquer Nação do Mundo. Se o fato ocorre na Inglaterra, o Jornal Parrot (nome fictício) deveria dizer ‘Em todo o País’ (isto é, em toda a Inglaterra).

Um redator de jornal brasileiro, neste momento de crise pandêmica, ao se referir ao número de vacinados, deve usar ‘O Governo já atendeu a mais de 40% da população em todo o País’ (em toda a Nação brasileira).

Se houve um esquecimento, e o redator postou ‘O Governo já atendeu a mais de 40% da população em todo País’, a expressão não ficaria clara, podendo-se entender que seria ‘qualquer nação’. A frase se tornaria ambígua pela má redação, o que não deve acontecer.

Ao frigir dos ovos, ambas as expressões estão corretas, mas cada uma tem seu significado, conforme o momento de usá-las.

Em todo País, há boas e ruins faculdades. (Qualquer país.)

Em toda cidade, no Brasil, há ruas pavimentadas. (Normalmente, as cidades têm ruas pavimentadas com um tipo de material.)

Todo jovem gosta de um tipo de música. (Qualquer jovem.)

Todo homem tem uma preferência alimentar. (Qualquer cidadão.)

Em nenhuma frase, o artigo definido foi usado após o pronome todo ou toda, o que cria a conotação própria de cada caso.

Todo o corpo da vítima estava crivado de balas. (O corpo inteiro.)

Em toda a cidade de Jacobina, há energia elétrica de boa qualidade. (A cidade inteira é abastecida com boa energia.)

O Hospital Regional Costa das Baleias vai ser construído em Teixeira de Freitas e atenderá a toda a região do Extremo-Sul do Estado. (Todos os Municípios que compõem o Extremo-Sul baiano vão ser atendidos.)

Bom lembrar que somente no singular as expressões se diferenciam. No plural, como determina a Gramática Normativa, o artigo deve estar presente na devida concordância:

Todos os homens têm seus hábitos.

Todas as pessoas têm suas exigências.

Todos os países têm seu Exército.

Todas as mulheres têm uma forma de criar os filhos.

Todos os livros trazem ensinamentos.

Todos os rios, exceto os que estejam poluídos, têm peixes de cor muito bonita.

Este comentário o ajudou a perceber a diferença entre as duas expressões?

Para fechar o momento de hoje, vem à tona a palavra correição, com vários significados, detalhe a que se chama polissemia.

O interior do Brasil, ainda, usa ‘formiga-correição’, uma espécie valente, que vive em grande quantidade e se muda de local quando sente algum risco, deixando um rastro: “Aqui passaram formigas de correição devorando tudo; isso indica que vai chover” (sic), teria dito o camponês ao visitar o plantio de mandioca.

O setor jurídico dos Tribunais Estaduais de Justiça usa a palavra correição para indicar que um texto, por algum motivo, sofreu correção informativa.

O advogado aprende nos tribunais que uma das funções administrativas do juiz corregedor é exercer a ‘correição’, direito que lhe permite corrigir injustiças na aplicação da lei.

Correção é sinônimo de correição, e vice-versa: ato ou efeito de corrigir; corrigenda (embora esta tenha outros significados).

O Mundo tem vivido momentos de crise social e política, e surgem palavras novas, mas a grafia tem sido duvidosa. Obedecendo às regras da Reforma Ortográfica, e mais ainda pelo fato de algum vocábulo não estar no dicionário, todo cuidado é pouco.

Grafias corretas; antissoviético, antissemítico, antissocial; antiaéreo, antiético, antiestético, antiofídico. Se é correto antifebril, antidiurético, devemos usar os neologismos com o prefixo anti antes de consoantes que não sejam R e S sem hífen: antibolsonarista, antitalibã. Se houver H, o hífen é obrigatório: anti-humano, anti-higiênico; se o vocábulo seguinte começar pela mesma vogal (no caso, i), o hífen também é exigido: anti-imperialista, anti-industrial, anti-inflamatório, anti-intelectual.

Até a próxima.

 

 

 

 

 

 

 

 

João Carlos de Oliveira

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