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Qual o plural da palavra caráter? O que é caractere, carácter ou caractér?

Caráter é vocábulo conhecido e usado entre nós, há muito tempo. Houve o período em que foi escrito com c mudo: carácter, forma que seria hoje variante gráfica ou grafia opcional.

Bom observar que caráter se origina do termo grego kharaktér, com muitos significados; os principais seriam relativos à escrita (imprensa, tipografia etc.). Pelo dicionário, entende-se que a pronúncia grega se fundamenta em palavra com a última sílaba forte, e seria a base derivativa para os conceitos e formas de grafia modernos.

O léxico preceitua: Figura que se usa na escrita. Cada um dos tipos de imprensa. A forma que se dá a um tipo. Cunho, distintivo, marca.

Além desses conceitos, feitio moral, índole, qualidade inerente a certos modos de ser ou estados.

Entende-se que, com base na semântica, que caracteriza o significado do vocábulo através do tempo, podendo mudar de sentido, é que se tem o equivalente atual: caráter, o aspecto moral de um cidadão, a honradez, o comportamento ético (e outras conotações). Homem de caráter. Ele é mau-caráter. Falou com o caráter de representante dos escritores da Academia.

As frases seriam múltiplas, e cada versão implica mostrar o comportamento de um indivíduo.

A Biologia se torna profunda, pelo menos a olhos comuns, quando conceitua: “caracteres somáticos adquiridos pelo indivíduo sob a ação de fatores ambientais e que não se tornam hereditários.”

Uma lagartixa sofre metamorfose num ambiente escuro, e essa mudança não seria transmitida a seus descendentes?

Nesses aspectos, a palavra caráter ganhou muitos significados, chegando ao que usamos no dia a dia.

O que queremos, ao usá-la, falar do comportamento humano ou da escrita e tipologia gráfica?

Caráter, acentuada graficamente por ser palavra paroxítona terminada em R, do mesmo tipo de pôster, zíper, éter, dólar, aljôfar. Plurais: pôsteres, zíperes, éteres, dólares, aljôfares. Note, claramente, que no singular são paroxítonas, e no plural, proparoxítonas. Analise a palavra hambúrguer (adaptada ao nosso idioma). Com 3 sílabas no singular, e paroxítona. No plural (hambúrgueres), com 4 sílabas, e proparoxítona, que aparece demais em cartazes sobre fast-food etc., mas tanto o singular como o plural nem sempre vêm escritos corretamente, pela ausência do acento agudo, ou sem o fonema U formador do dígrafo em guer. Esquisito? Aparece, às vezes, ger.

Inventam grafia para a palavra como se isso fosse indicar um produto melhor (a qualidade dos ingredientes) e o valor. Pura perda de tempo.

Ainda com relação a palavras terminadas em R, monossílabos e grande quantidade de oxítonas, seguem o mesmo critério de pluralização: o acréscimo de ES ao singular.

Mar, par, dor: mares, pares, dores. Um verbo pode ganhar nova classe gramatical, passando a ser substantivo (pelo acréscimo de um artigo ou termo determinante); nesse caso, se for preciso o uso do plural, segue a mesma regra: o vir, os vires; o ser, os seres; o fazer, os fazeres; o dar, os dares; o amar, os amares etc.

E agora? Caráter seguiria o plural normal: caráteres. Sim, mas a Gramática Normativa, sem maior clareza, ao usá-lo no plural, volta ao período histórico gramatical: prefere a pluralização da grafia carácter, por isso, faz caracteres (que perde o acento gráfico) e se mantém como palavra paroxítona. Uma forma estranha de se flexionar o vocábulo? No singular, a grafia é nova, diferente da anterior; no plural, a grafia é velha, diferente da atual. Pode isso?

Por esse modo de ser visto e usado, caráter se torna um termo impreciso, de difícil uso no plural, forma pouco encontrada. Ele é um homem sem caráter. Singular. Eles são homens sem caracteres. Plural.

Limita-se a usar ‘pessoa mau-caráter’ (singular) e ‘pessoas maus-caracteres’ (plural). Pessoa de mau-caráter. Pessoas de maus-caracteres (formas que não seriam comuns no dia a dia). Ou não seriam aceitáveis?

Com a evolução da era digital, os textos precisam ser medidos com os devidos caracteres: que tamanho têm, contando-se letras, símbolos e outros, além de espaços, linhas, parágrafos etc.

Um pequeno texto gera uma façanha nesse campo. (Esta frase teria 46 caracteres.)

E mais: caractér ou caractere (no singular)? Seguindo as normas da Informática, que os doutos conhecem bem, pode haver conceitos díspares entre o teor textual, com suas nuances, e o gramatical, com critérios nem sempre seguidos por todos.

Como assim?

Isso estaria claro nas duas grafias acima. Eu, como exemplo, passei a conhecer ‘caractere’ não há muito tempo (uns 20 anos). Em certos dicionários, pelo menos nos que foram de meu uso, não se encontrava esse vocábulo, nem como neologismo. Atualmente, o termo está no dicionário virtual, no qual nem sempre podemos confiar, apesar de muitos conceitos bons e corretos. No dicionário das letrinhas chatas, como um de meu convívio, encontra-se assim definido:

Ca.rac.te.re sm Inform Qualquer tipo de notação: dígito numérico, letra ou símbolo. C. ASCII, Inform: caractere que consta do código ASCII. C. curinga. Inform: símbolo que representa todos os arquivos ou nomes usados em busca de dados: Para encontrar os arquivos que começam com TI, digite TI e o asterisco, que é um caractere curinga. 

E seguem mais explicações.

Certo que o dicionário físico (essa definição está correta?) não registra a grafia caractér, como alguns querem ou usam. Não seria estranha essa forma de grafar como se fosse a grafia antiga de carácter, agora oxítona?

O dicionário virtual, por outro lado, usa várias grafias; caractere (português brasileiro), caráter (português europeu), além de carácter até caractér. Isso nos assusta? Nesse caso, a grafia é múltipla, e toda forma de falar ou escrever seria válida, como se cada caso ficasse à mercê do regionalismo ou do sotaque.

Resumindo: na escrita, um caractere, dois caracteres. Na vida ética, o caráter, os caracteres, forma plural que poderia ser caráteres. E mais: caráter, carácter, caractér, cada caso em sua cumbuca, conforme a visão de quem usa.

Abaixemos a lona que o espetáculo de hoje acabou, ruim ou bom, mas o circo mambembe foi ao ar.

Escritor, membro-efetivo da Academia Teixeirense de Letras (ATL), tenho dez obras publicadas: Uma janela aberta para o infinito (meio rústica, mas boazinha, a primeira, que foi editada numa gráfica simples em Nanuque, em 1987). A seguir: A palavra a ideia, Sonho de vida, Vertente. Mais tarde: Suave é a luz da poesia, Cenas da vida (o homem e as coisas), Os animais do meu sítio e outros poemas (o último título referente a uma única obra, mesmo meio comprido, parecendo dois livros). Fiquei sem publicar por um espaço longo, e veio Em cada canto. Agora, seriam duas obras maiorais: O dia que nunca acaba e Colóquio com o silêncio (essas três pela Editora Scortecci, SP), onde se pode confirmar e, se quiser, adquirir um exemplar. Vale a pena? A depender do olhar de como o leitor vê o mundo, sim.

Vem mais coisa por aí.

É que preciso divulgar meus próprios feitos, sem nenhuma pabulagem, já que o silêncio pode não ser bom.

Obrigado.

João Carlos de Oliveira

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